quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Caça aos Gângsteres
Os Intocáveis se passava na década de 1930, no auge da Lei Seca, e mostrava como o agente Eliot Ness juntou um grupo de policiais para tentar derrubar aquele que na época era o grande chefe da máfia de Chicago: Al Capone. Mas esta é a crítica de Caça aos Gângsteres, então por que falar da obra-prima de Brian De Palma? Simplesmente porque é impossível não lembrar desse clássico enquanto se assiste a esse novo filme, já que ele conta com uma história e momentos que são muito parecidos com o que se via naquela produção, algo que inclusive é assumido dentro da história quando vemos um tiroteio em uma escadaria. Mas, infelizmente, este novo filme de Ruben Fleischer é problemático demais para ser um novo Os Intocáveis, desperdiçando o brilhante elenco que tem em mãos.
Escrito por Will Beall, baseado no livro de Paul Lieberman, Caça aos Gângsteres se passa na Los Angeles de 1949, quando John O’Mara (Josh Brolin) recebe a missão de reunir um grupo de policiais honestos e destemidos para destruir o poder do gângster Mickey Cohen (Sean Penn). Trabalhando secretamente, já que Cohen possui a lealdade de boa parte do departamento de polícia, O’Mara encontra seu “Esquadrão Anti-Gângsteres” nas figuras de Coleman Harris (Anthony Mackie), Conway Keeler (Giovani Ribisi), Max Kennard (Robert Patrick) e Navidad Ramirez (Michael Peña), além de seu parceiro Jerry Wooters (Ryan Gosling), que está começando um romance com ninguém menos do que a mulher de Cohen, Grace (Emma Stone).
Se em Os Intocáveis os personagens eram desenvolvidos a ponto de nós nos importarmos com o destino deles, em Caça aos Gângsteres isso é quase inexistente. Aqui, os membros da equipe de John O’Mara são basicamente relegados a suas funções: Harris é o cara das facas, Keeler é quem cuida da parte técnica (como escutas telefônicas), Kennard é o atirador e Ramirez é o novato. Isso faz com que o eles soem tão desinteressantes quanto os vários anões de O Hobbit. Há apenas uma figura desse pequeno grupo que é um pouco mais desenvolvida junto com os personagens principais, mas apenas para que um ponto do roteiro tenha um impacto no final do segundo ato da trama. Impacto este que acaba não ocorrendo, já que essa parte é um tanto previsível.
O roteiro ainda parece não saber se está fazendo uma comédia ou um filme de gângsteres com um pé no noir. Em determinado momento, por exemplo, O’Mara e Harris se preparam para fugir da prisão, mas a tensão da cena acaba graças a uma tentativa desengonçada de fazer uma gag com um carro. Em outro, Jerry se refere a Cohen como Mickey Mouse enquanto fala com Grace. São gags que além de não funcionarem como deveriam, ainda destoam um pouco do filme, que chega a ser excessivamente violento em algumas cenas, como na sequência de abertura, que traz Cohen usando dois carros para partir um homem ao meio.
Ruben Fleischer (responsável pelo ótimo Zumbilândia e o mediano 30 Segundos ou Menos) ainda não consegue investir muita emoção em sua narrativa, o que torna sua direção quase que um mero exercício de estilo. Fleischer utiliza desde rápidos freeze frames até o slow motion nas cenas de ação, mas infelizmente esses são recursos que nada acrescentam ao filme, servindo mais como distração. Mas vale dizer que o diretor conduz bem algumas cenas, como a tensa sequência que se passa em Chinatown e uma grande perseguição de carros envolvendo o Esquadrão Anti-Gângsteres e os traficantes de Mickey Cohen. Enquanto isso, o design de produção reconstrói com eficiência a Los Angeles da década de 1940, desde suas boates até o departamento de polícia, ao passo que a bela fotografia de Dion Beebe oscila entre um tom mais escuro e o sépia, contribuindo muito para o clima de filme noir da narrativa.
Já o elenco faz o que pode com seus personagens. Josh Brolin e Ryan Gosling trazem carisma para a O’Mara e Wooters, mas infelizmente não desenvolvem uma grande química entre a dupla. Enquanto isso, a bela Emma Stone surge como uma femme fatale até eficiente, ainda que o romance entre sua personagem e Jerry não soe tão interessante. E Sean Penn consegue fazer de Mickey Cohen uma figura ameaçadora durante a maior parte do tempo, investindo sempre em uma voz calma antes de matar as pessoas, o que dá alguma falsa esperança para elas. Mas é uma pena que Penn exagere um pouco nos ataques de irritação do sujeito, além de ser triste ter que ver o ator falar algo tão ridículo como “Aí vai o Papai Noel!” em meio a um tiroteio no terceiro ato.
Por causa da tragédia na sessão de pré-estreia de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge ano passado, Caça aos Gângsteres teve uma cena (aparentemente decisiva) trocada. Mas mesmo que não houvesse tido nenhuma mudança, é muito provável que o filme ainda iria ter seus problemas e continuaria sendo uma decepção.
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