quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
O Resgate
Uma das coisas mais tristes de se acompanhar atualmente é, sem dúvida alguma, a carreira de Nicolas Cage, que parece se aproximar cada vez mais do fundo do poço. Olhando sua filmografia dos últimos cinco anos, é incrível constatar que o ator estrelou nada menos do que treze filmes (um número muito grande para alguém como ele) e apenas quatro deles se salvam (Vício Frenético, Astro Boy, Presságio e Kick-Ass, respectivamente). Agora, Cage tenta pagar suas dívidas com O Resgate, filme que a campanha de divulgação vem dando destaque ao fato de ser comandado pelo “mesmo diretor de Os Mercenários 2” como se isso fosse grande coisa, passando a ideia de que o ator já não é mais um grande atrativo, o que é lamentável (e sendo seu fã, fico triste por ter que ver essa queda).
Escrito por David Guggenheim, O Resgate traz Cage interpretando Will Montgomery, um ladrão que é preso em uma de suas empreitadas, quando tentava roubar 10 milhões de dólares de um banco. Solto após oito anos de reclusão, Will não quer mais saber de sua vida de criminoso, tendo como objetivo tentar reconquistar o amor de sua filha, Alison (Sami Gayle). Mas quando seu antigo parceiro de crimes, Vincent (Josh Lucas), sequestra a garota querendo os 10 milhões do roubo que não deu certo, Will se vê em uma corrida contra o tempo, tendo 12 horas para conseguir o dinheiro e salvar sua filha. Enquanto isso, o FBI liderado pelo agente Harlend (Danny Huston) continua o seguindo caso ele resolva cometer mais roubos.
Logo de cara, O Resgate apresenta elementos que irão permear a narrativa ao longo de toda a projeção, indo desde os péssimos diálogos (“O meu casamento, o nascimento dos meus gêmeos e este dia são os melhores momentos da minha vida”, diz Harlend ao prender Will) até as cenas de ação desinteressantes. Sem falar na incompetência dos agentes do FBI, principalmente de seu líder, que não acredita em Will quando este o avisa do sequestro da filha e em nenhum momento estranha a urgência de suas ações.
Além disso, o roteiro inclui cenas que são absurdas demais até para o padrão dos filmes de Nicolas Cage, e por isso acabam rendendo belos risos involuntários, como quando Will quebra a mão com grande facilidade para se livrar de um par de algemas, resultando em um acidente que o faz sair com o celular na mão tranquilamente e sem nenhum arranhão. Mas nada supera a cena em que Alison está no porta-malas do táxi de Vincent e tenta (sem olhar!) chamar a polícia usando a pontinha dos dedos para discar o número em um celular. E é inacreditável que alguém tenha escrito cenas como essas e achado que renderiam um bom filme.
Com um roteiro com tais cenas e que ainda conta com um amontoado de clichês, é até difícil para o diretor Simon West conseguir fazer da história algo minimamente envolvente. Para piorar, West ainda dirige as cenas de ação de maneira genérica, desde a sequência da tentativa de fuga de Will no início do filme ou uma perseguição de carros, e isso faz com que O Resgate seja muito aborrecido e não empolgue em nenhum momento. E o tempo de 12 horas estabelecido para Will arranjar o dinheiro surge no filme apenas quando o roteiro acha ser necessário, não sendo usado nem para causar algum tipo de tensão.
Já Nicolas Cage, ainda que um pouco mais contido do que de costume, aparece em cena no piloto automático, o que é normal nessas produções rasteiras que têm sua participação. Enquanto isso, Danny Huston e Malin Ackerman pouco tem a fazer com seus personagens, ao passo que Josh Lucas adota uma perna metálica, um cabelo desgrenhado, dentes podres e alguns dedos arrancados, tendo em mãos um dos vilões mais ridículos que deram as caras no cinema nos últimos anos. Vincent chega até a fazer um grande discurso quando está prestes a matar o protagonista, em um diálogo que não poderia ser pior.
No final das contas, O Resgate é só mais um filme que chega aos cinemas de maneira incompreensível, já que um lançamento direto em home vídeo seria muito mais apropriado. E se isso não aconteceu é por que Nicolas Cage ainda tem algum prestígio. Mas se ele continuar sua carreira dessa forma, prefiro não imaginar onde ele estará daqui uns cinco anos. Pensar nisso já é triste o bastante.
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2 comentários:
A carreira de Nicolas Cage é muito irregular, principalmente nos últimos dez anos.
A situação lembra um pouco o que aconteceu com Christopher Lambert, que fez ótimos filmes nos anos oitenta, depois se entregou aos longas de ação e afundou a carreira.
Abraço
A necessidade de pagar as dívidas,está fazendo o Nicolas Cage embarcar em qualquer canoa furada.Fúria Sobre Rodas, Reféns, Motoqueiro Fantasma 2 e outras bombas não fazem jus a quem já estrelou Arizona nunca Mais,Adaptação e outras filmaços.
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