segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Batman: O Cavaleiro das Trevas

(Texto originalmente escrito para a aula de Análise da Produção Audiovisual)
Tim Burton havia concebido em seus dois filmes sobre o homem-morcego, Batman e Batman: O Retorno, sua visão sobre o mundo desse personagem. Com seu estilo gótico, Burton criou uma Gotham City mergulhada em trevas onde o perigo era uma constante e os vilões, apesar de serem quase absurdos, conseguiam ser uma ameaça. Depois disso, Joel Schumacher tratou de entrar na lista negra de todos os fãs do herói ao transformar esse universo em algo completamente caricatural, onde até mesmo a roupa de Batman era ridícula com seus mamilos.
Com Batman Begins, o diretor inglês Christopher Nolan não só ressuscitou Batman nas telonas como conseguiu fazer do universo do personagem algo muito mais real (a violenta Gotham City poderia ser qualquer cidade do mundo, seja Nova York ou São Paulo, por exemplo), além de desenvolver muito mais a figura de Bruce Wayne, o homem por trás da máscara. Com Batman: O Cavaleiro das Trevas, Nolan não só nos mergulha em um universo onde o mal parece ser absoluto, mas também nos faz presenciar confrontos psicológicos memoráveis entre o herói e o mais novo vilão de Gotham.
Escrito pelo próprio Christopher Nolan em parceria com seu irmão Jonathan e com um argumento feito por eles e David S. Goyer, Batman: O Cavaleiro das Trevas mostra que os marginais de Gotham City agora temem a figura de Batman a ponto de o tenente Jim Gordon precisar apenas acender o bat-sinal para que eles já comecem a pensar duas vezes antes de atacar. A fama do herói ainda faz com que indivíduos comuns resolvam se fantasiar como ele para fazer justiça com as próprias mãos. Com a ajuda de Gordon e do novo promotor, Harvey Dent, Batman parece estar tendo êxito em sua missão de afastar o mal de sua cidade. Mas a chegada do Coringa ameaça pôr a perder todos os esforços do trio.
Christopher Nolan, ao lado de seu fiel diretor de fotografia, Wally Pfister, mergulha Gotham City no sombrio, muito mais do que havia feito em Batman Begins, o que acaba sendo mais do que adequado já que a cidade parece estar encarando um de seus mais caóticos momentos. Além disso, o diretor faz grandes cenas de ação, sendo uma delas a sequência na qual o Coringa persegue Harvey Dent, no túnel de Gotham. E a belíssima trilha sonora de Hans Zimmer e James Newton Howard remete não só a parte sombria da narrativa, mas também ao heroísmo de Batman.
O roteiro de O Cavaleiro das Trevas parece ter sido escrito baseado em um objeto simples e pequeno: uma moeda. De um lado temos Batman, um símbolo de esperança para os habitantes de Gotham, Harvey Dent, um cidadão comum que está colocando metade dos marginais na cadeia sem usar uma máscara, e Jim Gordon, um dos poucos policiais em quem se pode confiar. Do outro, temos o Coringa e sua fome por destruir seus adversários física e psicologicamente e ainda impor medo e caos na cidade.
Essa ideia da moeda surge várias vezes ao longo do filme. Quando Batman interroga o Coringa na delegacia, Christopher Nolan faz um jogo de plano e contra-plano que, devido à conversa e ao momento dos personagens, pode ser comparado com o jogo de cara ou coroa. Sendo uma das cenas mais importantes do filme, por representar uma das poucas vezes em que herói e vilão ficam frente a frente, ela é tensa até seu último segundo.
Aliás, o Coringa vivido pelo grande Heath Ledger nos faz esquecer todas as outras encarnações do personagem, até mesmo a divertida interpretação de Jack Nicholson no filme de Tim Burton. Surgindo ameaçador desde sua primeira cena, Ledger constrói um personagem louco e psicótico, e a ideia do ator de emprestar ao vilão seu tique de passar a língua em volta da boca é algo que faz do vilão um ser ainda mais estranho e único. E o fato de o roteiro não perder tempo contando as origens do personagem faz com que ele seja imprevisível.
Enquanto isso, Christian Bale comprova que é o melhor ator a encarnar Bruce Wayne nas telonas, deixando o até então favorito Michael Keaton para trás (prefiro não comentar Val Kilmer e, principalmente, George Clooney). Sendo Bruce Wayne um personagem que precisa ser um playboy milionário durante o dia e um herói à noite, Bale interpreta essas duas partes da personalidade do protagonista de maneira impecável. O ator ainda consegue nos passar a exaustão de Wayne não só com relação ao que acontece com o personagem durante o filme, mas também por ele ter a esperança de poder largar a máscara de Batman algum dia.
Quanto ao resto do elenco, Michael Caine aparece sempre ótimo como Alfred, personagem que aparece para confortar e aconselhar Bruce quando este precisa. A substituição de Katie Holmes por Maggie Gyllenhall no papel de Rachael Dawes acaba sendo mais do que adequada, já que Gyllenhall é uma atriz claramente mais madura do que Holmes, e a personagem está muito mais experiente como advogada nesta sequência do que no filme anterior. Morgan Freeman empresta todo seu carisma para Lucius Fox, ajudante que consegue todos os tipos de armas e aparelhos para Wayne. Fechando o elenco, Aaron Eckhart tem uma grande atuação interpretando o personagem mais trágico do filme. Harvey Dent é um homem que tenta de todas as formas fazer o bem, e não é à toa que o protagonista confia nele desde seu primeiro encontro. Mas Dent acaba por ser a grande experiência/plano do Coringa, que prova que as pessoas só precisam de um empurrãozinho para passar para o “lado negro da força”.
Mas o grande êxito de O Cavaleiro das Trevas é o fato de que ele parece ser o primeiro filme onde é mostrado o significado do verdadeiro herói. Se até então o que víamos era uma pessoa comum que salva a cidade sem pedir nada em troca, Nolan acrescenta algo absolutamente fascinante. Em certo momento do filme, Harvey Dent diz em um jantar “Ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar o vilão”, diálogo que ainda indica o que acontecerá com o personagem. Um herói é aquele que não tem medo de tornar-se o vilão para ver as pessoas e a cidade a salvo. A maneira como Nolan trata isso é espetacular, sendo digno de palmas.
Finalizado com o cavaleiro das trevas cercado por um belíssimo feixe de luz, indicando que ele é o grande herói que Gotham City precisa, Batman: O Cavaleiro das Trevas coloca os filmes de super-heróis em um patamar muito mais sério do que a do simples entretenimento. Se Christopher Nolan caprichar no terceiro e último capítulo de Batman, então ele terá acabado de fazer a trilogia O Poderoso Chefão do gênero histórias em quadrinhos.
Cotação:

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