domingo, 4 de setembro de 2011

O Homem do Futuro

Voltar ao passado é algo que eu consideraria fazer para tentar mudar alguns detalhes (particularmente, gostaria de ter participado mais ativamente da minha turma do colégio, por exemplo). Viagem no tempo é algo visto em muitos filmes hollywoodianos. Quando se ouve falar nesse assunto, a primeira coisa que vem a cabeça de qualquer um é a genial trilogia De Volta Para o Futuro, mas há também Planeta dos Macacos, Efeito Borboleta, O Exterminador do Futuro. A maioria desses filmes trabalha com o conceito de que mudar o passado pode trazer grandes (e terríveis) mudanças ao futuro. É uma fórmula “batida”? Com certeza, mas isso não muda o fato de ser algo interessante desde que a história seja de boa qualidade. E é aí que O Homem do Futuro ganha créditos, além de contar com o talento de seu protagonista, Wagner Moura.
Escrito e dirigido por Claudio Torres, O Homem do Futuro nos apresenta a João (Wagner Moura), um cientista que foi humilhado na época da faculdade pela então namorada Helena (Alinne Moraes), algo que o fez ter uma vida miserável. Durante o teste de um acelerador de partículas, João acaba voltando no tempo, mais especificamente para 22 de novembro de 1991, dia em que a humilhação aconteceu. Ele, então, tem a oportunidade de mudar o passado e ficar com a mulher de sua vida.
Por tratar de viagem no tempo, Claudio Torres precisava ter um cuidado muito grande com os principais detalhes da trama, por que se algo fosse esquecido teríamos furos no roteiro. Mas o diretor-roteirista é competente nesse aspecto, não deixando nenhuma ponta solta ao longo do filme (e se deixou, pelo menos conseguiu nos distrair para que não percebêssemos). E um dos pontos altos do modo como esse conceito é usado no filme é o fato de João voltar no tempo e poder ver o que sua versão mais jovem está fazendo. Isso se destaca no terceiro ato, quando a última versão do personagem volta no tempo e percebe que o que fez naquele dia foi algo que não era de sua personalidade, e por isso ele deveria ter orgulho, já que foi uma das poucas vezes em que realmente se soltou de seu “campo de força”.
Podemos ver O Homem do Futuro não só como uma ficção científica, mas também como uma comédia romântica, ou seja, o filme segue duas fórmulas básicas. Mas, com relação ao segundo gênero, acaba sendo muito interessante ver o protagonista passar pelos obstáculos para tentar ficar com a mulher que ama. E não são poucos os problemas que aparecem no caminho de João, incluindo outra viagem no tempo no final do segundo ato.
Claudio Torres conduz bem o filme, não deixando o espectador confuso com as viagens do protagonista. Mas em certos momentos, Torres estica a história mais do que deveria, incluindo momentos que nós já sabemos que vão acontecer e por isso não precisavam entrar no filme, algo que fica claro na segunda viagem no tempo, onde vemos de novo os acontecimentos do dia da humilhação. Além disso, o diretor-roteirista faz um suspense desnecessário em algumas cenas, como quando João vai cantar no palco com Helena.
Por outro lado, Torres consegue surpreender com algumas reviravoltas na trama e também com o modo como ele faz o protagonista perceber, ao voltar para 1991, que não está no seu tempo. Quando João acorda caído na rua, ele olha para as roupas das pessoas e também para os vários aparelhos da época, como celulares e televisões, todos em seu formato antigo. Isso acaba sendo muito divertido por que faz o público de hoje olhar para o passado com o seguinte pensamento: “Não acredito que algum dia isso existiu!”. A escolha das canções da trilha sonora (que incluí Tempo Perdido, do Legião Urbana) também é muito boa, por que elas combinam com a história do filme.
Mas O Homem do Futuro não se sustentaria caso não tivesse um ator tão talentoso interpretando o protagonista. Wagner Moura dá um show interpretando três versões diferentes do personagem. A primeira é mais excêntrica, nos fazendo ver as consequências da humilhação. Depois temos a versão de 1991, quando João era jovem, tímido, gago e inseguro (e é impressionante como Moura consegue, aos 35 anos, convencer como alguém de 20). E a última é a que volta para um 2011 diferente depois da primeira viagem no tempo, uma versão mais determinada e segura sobre aquilo que precisa fazer para deixar tudo normal novamente. Enquanto isso, Alinne Moraes conquista o público interpretando uma personagem que fica cada vez mais adorável à medida que a conhecemos, já que o amor que Helena sente por João mostra ser real.
O Homem do Futuro é uma grata surpresa para o nosso cinema em 2011, que, depois de Assalto ao Banco Central, necessitava de um filme interessante.
Cotação:

Um comentário:

Papa Tabone disse...

Aqui vai um comentário do futuro para você :)

Vi o filme apenas há duas semanas. Realmente, mesmo quase sete anos depois, e após Wagner Moura ter feito Tropa de Elite 2, Narcos e até Elysium, continua sendo uma atuação espetacular.

O filme é todo bom, mesmo incluindo alguns clichês como referência ou insipiração. Ainda assim, alguns deles já têm mais de 30 anos! Muitos jovens espectadores deste filme não viram a versão original e provavelmente não devem notar referências à obras mais antigas. Eu discordo de você num ponto fundamental quando você diz que "Torres estica a história mais do que deveria, incluindo momentos que nós já sabemos que vão acontecer e por isso não precisavam entrar no filme, algo que fica claro na segunda viagem no tempo, onde vemos de novo os acontecimentos do dia da humilhação"

Na cena entre Helena e João no palco, quando Helena pendura o cartaz "ZERO" no pescoço dele, a diferença na expressão facial de Helena entre este momento e as memórias "turvas" de João/Zero no começo do filme são essenciais… É uma das melhores partes da trama. Isso mostra que Helena também foi vítima do destino e fez o fez à contragosto, a pedido do próprio João. Era muito necessário mostrar isso!