(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)
Rocky Balboa e John Rambo podem
ser os personagens mais marcantes da carreira de Sylvester Stallone, mas as
trajetórias de cada um no cinema não poderiam ser mais diferentes. O primeiro
se estabeleceu como uma figura inspiradora em uma série bem consistente,
chegando a render indicações ao Oscar para seu astro (por sinal, a recente
derrota dele na premiação por Creed,
ainda dói). Já o segundo, ao longo dos quatro filmes que estrelou, passou de
traumatizado veterano de guerra, que apontava o descaso dos Estados Unidos com
os soldados que retornam dos conflitos, para herói de ação caricatural. E se Rambo II: A Missão já havia representado
uma queda drástica em relação ao ótimo primeiro exemplar, Rambo III não mudou em nada as coisas.
Escrito por Stallone e Sheldon
Lettich, Rambo III traz o
protagonista vivendo tranquilamente na Tailândia, entrando em ação apenas para
ganhar dinheiro em pequenas lutas locais, ajudando os
monges que o acolheram. Isso até o momento em que seu velho amigo Coronel Sam
Trautman (Richard Crenna) o visita, pedindo ajuda em uma missão que pretende
auxiliar os rebeldes afegãos em sua luta contra a invasão soviética, algo que
Rambo recusa para continuar vivendo a paz que conquistou. Mas quando a missão
não ocorre como o planejado e Trautman é feito prisioneiro pelos soviéticos,
Rambo imediatamente muda de ideia e parte para mais uma guerra.
Quando Sylvester Stallone coloca
seu dedo em um filme que lida de alguma forma com política internacional,
podemos ter certeza que não resultará em coisa boa. Rambo II e Rocky IV já
eram exemplos disso, e em Rambo III
não é diferente, mostrando uma visão maniqueísta dos conflitos. John Rambo
quase deixa de ser um personagem para virar uma espécie de propaganda política,
representando toda a integridade americana (que o filme enaltece sempre que
pode) enquanto os soviéticos são figuras absolutamente sádicas. Além disso,
assim como no segundo filme, Rambo acaba sendo a fantasia de que um soldado
poderia terminar sozinho com uma guerra, e o roteiro parece não medir esforços
para mostrar isso, colocando o personagem matando centenas de soviéticos e
explodindo helicópteros e tanques sem precisar da ajuda dos afegãos.
Assim, apostando no conceito de
“exército de um homem só” que o protagonista carrega em seus atos, as cenas de
ação do filme não só são comandadas de maneira caótica e sem imaginação por
Peter MacDonald (diretor de segunda unidade do longa anterior e que aqui
substituiu Russell Mulcahy pouco depois do início das filmagens) como ainda
impossibilitam qualquer envolvimento por parte do espectador, até porque as
habilidades de Rambo fazem com que ele pareça tão invencível. Em momento algum
sentimos que ele realmente fica em risco, mesmo na cena absurda envolvendo a
cauterização de um ferimento. É algo que, inclusive, sabota quaisquer esforços
por parte de Sylvester Stallone de trazer um mínimo de humanidade ao
personagem, e nem a relação dele com o pequeno rebelde Hamid (Doudi Shoua)
contribui para isso.
Trazendo ainda frases de efeito
capazes de causar risos, mesmo que involuntários (“Deus teria piedade. Ele [Rambo]
não”), Rambo III infelizmente é
como todas as continuações envolvendo seu herói: um produto esquecível de uma
franquia que devia ter parado em seu primeiro filme. Isso certamente poderia
ter feito John Rambo ser lembrado de um jeito um pouco melhor.
Nota:
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