quinta-feira, 5 de maio de 2016

Rambo III

(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)

Rocky Balboa e John Rambo podem ser os personagens mais marcantes da carreira de Sylvester Stallone, mas as trajetórias de cada um no cinema não poderiam ser mais diferentes. O primeiro se estabeleceu como uma figura inspiradora em uma série bem consistente, chegando a render indicações ao Oscar para seu astro (por sinal, a recente derrota dele na premiação por Creed, ainda dói). Já o segundo, ao longo dos quatro filmes que estrelou, passou de traumatizado veterano de guerra, que apontava o descaso dos Estados Unidos com os soldados que retornam dos conflitos, para herói de ação caricatural. E se Rambo II: A Missão já havia representado uma queda drástica em relação ao ótimo primeiro exemplar, Rambo III não mudou em nada as coisas.

Escrito por Stallone e Sheldon Lettich, Rambo III traz o protagonista vivendo tranquilamente na Tailândia, entrando em ação apenas para ganhar dinheiro em pequenas lutas locais, ajudando os monges que o acolheram. Isso até o momento em que seu velho amigo Coronel Sam Trautman (Richard Crenna) o visita, pedindo ajuda em uma missão que pretende auxiliar os rebeldes afegãos em sua luta contra a invasão soviética, algo que Rambo recusa para continuar vivendo a paz que conquistou. Mas quando a missão não ocorre como o planejado e Trautman é feito prisioneiro pelos soviéticos, Rambo imediatamente muda de ideia e parte para mais uma guerra.

Quando Sylvester Stallone coloca seu dedo em um filme que lida de alguma forma com política internacional, podemos ter certeza que não resultará em coisa boa. Rambo II e Rocky IV já eram exemplos disso, e em Rambo III não é diferente, mostrando uma visão maniqueísta dos conflitos. John Rambo quase deixa de ser um personagem para virar uma espécie de propaganda política, representando toda a integridade americana (que o filme enaltece sempre que pode) enquanto os soviéticos são figuras absolutamente sádicas. Além disso, assim como no segundo filme, Rambo acaba sendo a fantasia de que um soldado poderia terminar sozinho com uma guerra, e o roteiro parece não medir esforços para mostrar isso, colocando o personagem matando centenas de soviéticos e explodindo helicópteros e tanques sem precisar da ajuda dos afegãos.

Assim, apostando no conceito de “exército de um homem só” que o protagonista carrega em seus atos, as cenas de ação do filme não só são comandadas de maneira caótica e sem imaginação por Peter MacDonald (diretor de segunda unidade do longa anterior e que aqui substituiu Russell Mulcahy pouco depois do início das filmagens) como ainda impossibilitam qualquer envolvimento por parte do espectador, até porque as habilidades de Rambo fazem com que ele pareça tão invencível. Em momento algum sentimos que ele realmente fica em risco, mesmo na cena absurda envolvendo a cauterização de um ferimento. É algo que, inclusive, sabota quaisquer esforços por parte de Sylvester Stallone de trazer um mínimo de humanidade ao personagem, e nem a relação dele com o pequeno rebelde Hamid (Doudi Shoua) contribui para isso.

Trazendo ainda frases de efeito capazes de causar risos, mesmo que involuntários (“Deus teria piedade. Ele [Rambo] não”), Rambo III infelizmente é como todas as continuações envolvendo seu herói: um produto esquecível de uma franquia que devia ter parado em seu primeiro filme. Isso certamente poderia ter feito John Rambo ser lembrado de um jeito um pouco melhor.

Nota:

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