Não deixa de ser curioso que a
Marvel esteja usando os filmes do Capitão América para desenvolver tramas com
um viés político um pouco mais forte. É como se o lado patriótico dele, carregado
tanto no nome quanto no uniforme, abrisse portas para que as histórias sigam
por esse caminho. Capitão América:
Guerra Civil não se desvia disso ao colocar um ponto de interrogação em
cima do próprio altruísmo do personagem e dos outros Vingadores, desenvolvendo
uma narrativa interessante a partir do choque ideológico e político com relação
a como abordar a natureza heroica deles.
Escrito por Christopher Markus e
Stephen McFeely (os mesmos roteiristas dos dois filmes anteriores do
personagem) a partir da saga concebida por Mark Millar nos quadrinhos, Guerra Civil traz os Vingadores
precisando lidar com as consequências das batalhas em que se metem ao redor do
mundo, que obviamente causam fatalidades em meio às destruições. Por causa
disso, os heróis recebem a visita do General Ross (William Hurt, reprisando seu
papel de O Incrível Hulk), que os
informa sobre um tratado que dá ao governo o direito de supervisionar suas
ações. Mas se alguns não gostam da ideia, sendo liderados por Steve Rogers (Chris
Evans), outros a aprovam, encabeçados por Tony Stark (Robert Downey Jr.), numa
divisão que leva a embates que chegam a níveis pessoais e
que se agravam graças ao envolvimento do velho amigo do Capitão, Bucky Barnes
(Sebastian Stan), o Soldado Invernal.
É difícil ver a premissa e não
lembrar um pouco do recente (e decepcionante) Batman vs. Superman. Mas se aquele filme acabava se bagunçando com
tudo o que precisava desenvolver, Guerra
Civil tem a vantagem de fazer parte de um universo já muito bem
estabelecido, conseguindo ser mais objetivo na forma como usa as peças que tem
em mãos. Assim, mesmo tendo vários personagens e algumas subtramas, o filme
nunca perde o foco da história ou soa inchado, com os irmãos Joe e Anthony
Russo (de volta como diretores após o sucesso do ótimo Capitão América 2) mantendo um ritmo envolvente durante toda a
narrativa.
Aliás, os diretores mais uma vez
mostram talento para criar um clima de tensão política instigante entre os
personagens, tendo para isso a ajuda de um roteiro que desenvolve muito bem as
discussões entre eles, nos fazendo compreender as motivações de ambos os lados
do conflito. Nesse sentido, sempre que os heróis se reúnem e debatem suas
posições, chegando a pensar na possibilidade de serem parte dos problemas que
enfrentam ao invés da solução, o filme rende alguns de seus melhores momentos.
É difícil até tomar partido, o que é ótimo considerando que todos ali são
heróis que, essencialmente, lutam pelas mesmas coisas e, em maior ou menor
grau, são figuras com as quais simpatizamos, de maneira que poderia ser
estranho torcer contra algum deles.
Isso inclusive ajuda a trazer
peso para as cenas de ação, aspecto no qual os irmãos Russo voltam a exibir
talento, criando sequências bem orquestradas e dinâmicas, desde a missão que
abre o filme até a perseguição numa rodovia. Mas o maior destaque acaba sendo
mesmo a batalha que ocorre em um aeroporto e que utiliza maravilhosamente os
poderes de todos os envolvidos, sabendo impressionar e até mesmo divertir. Por
sinal, já que falei em diversão, é bacana ver que o filme ainda consegue ter
seus eficientes momentos de humor, que aliviam um pouco a seriedade que rege a
história durante grande parte do tempo.
Enquanto isso, o elenco todo tem
a chance de se destacar. Chris Evans volta a encarnar Steve Rogers com
segurança, exibindo também uma entrega admirável a parte física do personagem,
como se vê na cena em que ele se esforça para deter um helicóptero, e tendo um
senso de camaradagem natural tanto com o bem humorado Sam Wilson de Anthony
Mackie quanto com o pesaroso Bucky Barnes de Sebastian Stan. Já Robert Downey
Jr. não interpreta Tony Stark no piloto automático como ocorreu em outras
ocasiões, surpreendendo ao dar mais camadas ao personagem, algo que contribui
para sua humanidade. E se figuras como a Natasha Romanoff de Scarlett
Johansson, a Wanda Maximoff de Elizabeth Olsen e o Visão de Paul Bettany
cumprem bem suas funções na trama, outras como o T’Challa de Chadwick Boseman e
o Peter Parker de Tom Holland representam belas adições a esse universo, com os
personagens sendo apresentados com propriedade e ambos os atores provando ser
ótimas escolhas para os papeis. Fechando o elenco, Daniel Brühl surge como um
vilão trágico em suas motivações, se encaixando perfeitamente em uma história
que, à primeira vista, poderia não precisar dele.
Representando o pontapé inicial
para a chamada Fase 3 dos filmes da Marvel, Capitão América: Guerra Civil consegue ser uma obra cuja grande
escala entretém sem sacrificar o peso emocional de sua história e de seus
personagens. Um longa que se coloca desde já entre as produções mais sólidas e
maduras feitas pelo estúdio.
Obs.: Há uma cena durante e outra
depois dos créditos finais.
Nota:
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