Em alguns momentos de Voando Alto, o roteiro traz à tona com
certa ênfase uma frase de Pierre de Coubertin, o fundador das Olimpíadas, que
dizia que “A coisa mais importante nos Jogos Olímpicos não é vencer, mas
participar”. Não é à toa que a medalha que leva seu nome é concedida àqueles
que valorizam o espírito esportivo mais até do que as possíveis medalhas. Pois a frase de Coubertin resume bem o britânico Eddie “A Águia”
Edwards. Primeira pessoa a representar seu país no salto de esqui, nas Olimpíadas
de Inverno de 1988, Edwards tinha como sonho participar dos jogos, não se
importando tanto com seu desempenho. E Voando
Alto diverte ao contar a história do grande feito pessoal do sujeito.
Escrito por Sean Macaulay e Simon
Kelton, o filme mostra os esforços de Eddie Edwards (Taron Egerton) em chegar às
Olimpíadas, algo para o qual ele se prepara desde a infância. Encontrando no
salto de esqui uma possibilidade de realizar esse sonho, ele ignora o fato de
quase todas as pessoas não o levarem a sério e dá início aos
treinamentos, conhecendo no processo o americano Bronson Peary (Hugh Jackman), outrora
campeão da modalidade, mas que agora é uma figura decadente, alcoólatra e sem
perspectivas. Encontrando em Peary um treinador inesperado, Eddie passa a fazer
seu caminho para provar a todos o potencial que possui.
Naturalmente, trata-se de uma
história clássica de underdog, e o
roteiro não se esforça nenhum pouco em tentar fazer com que o que vemos na tela
seja levemente diferente do que já vimos em uma série de outras produções. Esse é o grande problema enfrentado pelo filme. Desde os obstáculos enfrentados por Eddie até a própria estrutura utilizada
para desenvolver a trama, Voando Alto
se apresenta como uma obra claramente formuláica e clichê. De tão comuns que as
coisas se revelam, o espectador é até capaz de prever certas direções que a história toma, como o conflito desnecessário que surge no fim do
segundo ato.
Apesar disso, o diretor Dexter
Fletcher (mais conhecido por sua carreira de ator em filmes como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
e que comanda aqui seu terceiro trabalho atrás das câmeras) ainda mostra ser
capaz de organizar uma narrativa ágil, cheia de energia e calor humano, algo
que reflete na fotografia de George Richmond, que aposta em cores quentes durante
todo o filme, ajudando até mesmo na recriação de época. Assim, o diretor naturalmente
consegue fazer com que o longa várias vezes leve o espectador a sorrir no
decorrer da jornada de seu protagonista. Aliás, Fletcher exibe um timing cômico
eficiente em determinados momentos, como quando várias pessoas vibram de boca
aberta e em câmera lenta, em uma das sequências mais divertidas do filme.
Mas a maior parte do charme de Voando Alto encontra-se mesmo em Taron
Egerton e Hugh Jackman, sendo o primeiro um ator que vem merecendo atenção
desde seu trabalho em Kingsman: Serviço Secreto e o segundo um cara que já dispensa apresentações. Como Eddie
Edwards, o jovem ator conquista o público com seu carisma, criando um personagem
cativante, persistente e cujas excentricidades combinam com sua coragem maluca,
que o faz não se concentrar tanto nas dificuldades daquilo que deseja fazer. Já
Jackman concebe em Bronson Peary (que, por sinal, é um personagem ficcional) uma
figura mais rebelde, mas não menos interessante, compensando seu arco dramático
previsível. E a dinâmica que ele constrói com Egerton é, sem dúvida, o ponto
alto do filme.
De certa forma, Voando Alto não deixa de ser como seu
admirável protagonista. Pode não ser um dos melhores naquilo que
se propõe, mas ainda assim proporciona um divertimento que é capaz de conquistar a simpatia do espectador, que sai da sala de cinema com o sentimento agradável de ter visto um bom filme.
Nota:
Nenhum comentário:
Postar um comentário