terça-feira, 29 de março de 2016

Máquina Mortífera 4

(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)

Protagonizada por Mel Gibson e Danny Glover, a série Máquina Mortífera se estabeleceu entre as décadas de 1980 e 1990 como um dos principais expoentes do cinema de ação norte-americano, mais especificamente do subgênero dos buddy cops. Martin Riggs (Gibson) e Roger Murtaugh (Glover) são personagens interessantes, humanos e que, apesar de suas personalidades completamente distintas, desenvolveram ao longo dos filmes uma amizade que veio a ser o coração da série, em uma dinâmica onde um fortalece o outro. Máquina Mortífera 4 foi a última vez (ao menos por enquanto, já que um seriado de TV está a caminho) que a dupla entrou em ação. Mesmo sendo o pior longa da franquia, ainda se revela relativamente eficiente.
Com roteiro escrito por Channing Gibson, a partir do argumento concebido por Jonathan Lemkin em parceria com Alfred Gould e Miles Millar, Máquina Mortífera 4 traz os protagonistas em momentos importantes de suas vidas. Riggs descobre que sua amada, Lorna Cole (Rene Russo), está grávida, o que o faz ficar ainda mais em dúvida quanto à possibilidade de casar novamente, enquanto Murtaugh descobre que sua filha, Rianne (Traci Wolfe), também está esperando um filho, cujo pai é mantido em segredo para não irrita-lo. Mas é claro que mesmo assim as coisas não ficam plenamente em paz, já que em meio a isso a dupla de policiais passa a investigar um grupo chinês de contrabando de imigrantes, responsável por trazer para os Estados Unidos a bondosa família Hong, algo que faz parte dos misteriosos planos de Wah Sing Ku (Jet Li, em sua estreia no cinema hollywoodiano).
Assim como nos exemplares anteriores, Máquina Mortífera 4 já começa com os personagens no meio de uma sequência de ação, mostrando tanto o lado ágil da narrativa, com os absurdos em que Riggs e Murtaugh se metem, quanto a comicidade presente na série. No entanto, o diretor Richard Donner (que comandou todos os longas da franquia) encontra dificuldades para achar um equilíbrio entre esses dois aspectos, algo problemático, principalmente porque o humor aqui é excessivamente bobo durante boa parte do tempo. Se por um lado podemos nos divertir com as brincadeiras que os protagonistas fazem um com o outro, como quando uma reportagem inusitada é colada num corredor do departamento de polícia, por outro o filme cria situações ineficientes, que indicam certo desespero para causar o riso, como na cena em que Riggs cai em uma lata de lixo, ou em algumas discussões entre o detetive Lee Butters (Chris Rock) e o insuportável Leo Getz (Joe Pesci), com ambos assumindo as posições de alívios cômicos.
Além disso, a história infelizmente não se mostra tão interessante, servindo mais como uma desculpa para ligar as sequências de ação, sendo que estas são comandadas por Richard Donner com agilidade, impressionando por sua escala. Exemplos, a sequência inicial e sua grande explosão,  e a perseguição que ocorre em uma rodovia. Aliás, nesse aspecto do filme, o diretor ainda tem a vantagem de contar com Jet Li como vilão, um papel que mesmo não sendo tão bem desenvolvido permite que o astro chinês mostre pontualmente suas excepcionais habilidades em artes marciais. É algo que não só rende bons embates entre ele e os heróis (a luta final até volta a ser na chuva, numa autorreferência ao primeiro filme), mas também traz um elemento novo à ação que nos acostumamos a ver ao longo da série.
Mas não há dúvidas de que, se a narrativa de Máquina Mortífera 4 se segura firme dentro do possível, isso é por conta de seus protagonistas. Mel Gibson e Danny Glover voltam confortavelmente aos papeis de Martin Riggs e Roger Murtaugh, tendo novamente uma dinâmica cativante na tela. Na verdade, é bom ver que, apesar da franquia ter caído de qualidade a cada filme, ao menos isso não pode ser dito sobre seus carismáticos personagens, que formam uma verdadeira família, conquistando com facilidade o espectador. E isso acaba sendo um motivo muito válido para que entremos junto deles nas insanidades proporcionadas por seu trabalho, por mais narrativamente problemático que isso seja.
Nota:

Nenhum comentário: