quarta-feira, 18 de maio de 2016

X-Men: Apocalipse

Desde que começou, há dezesseis anos, a série X-Men soube exibir uma consistência muito admirável com a trilogia original e os dois capítulos seguintes com as versões jovens de seus personagens (por serem produções um tanto à parte na franquia, ignoro aqui os irregulares filmes-solo do Wolverine e o ótimo Deadpool lançado recentemente). Pois X-Men: Apocalipse chega representando uma queda nessa consistência, se estabelecendo como um longa inferior aos outros da equipe de heróis. O curioso é que, mesmo que possamos classifica-lo dessa forma, este novo filme ainda mostra ser um exemplar eficiente dentro da série.

Com roteiro escrito por Simon Kinberg a partir do argumento concebido por ele em parceria com Dan Harris, Michael Dougherty e o diretor Bryan Singer (todos veteranos da franquia), X-Men: Apocalipse se passa na década de 1980, dez anos depois de Dias de Um Futuro Esquecido, e traz o despertar de En Sabah Nur (Oscar Isaac), também conhecido como Apocalipse, o primeiro mutante. Vendo com desgosto a posição de dominância dos humanos, ele logo dá início a um plano para acabar com a raça humana e governar um mundo dominado pelos mutantes, tendo para isso a ajuda de quatro discípulos, entre eles nosso velho conhecido Erik Lehnsherr (Michael Fassbender). Mas é claro que Charles Xavier (James McAvoy) e sua equipe farão o possível para que o vilão não seja bem sucedido.

É o tipo de história que se tornou comum na franquia, e o roteiro também não se arrisca muito a fazer coisas diferentes com ela. Até mesmo a motivação de Apocalipse surge como algo reciclado, lembrando um pouco o plano que Magneto tenta aplicar em X-Men 2. O roteiro do filme é o aspecto que mais puxa a produção para baixo, chegando a incluir uma longa sequência em uma base militar que, apesar de render um momento que deve fazer os fãs vibrarem, acaba desviando a atenção da história e prejudicando o ritmo da narrativa. Além disso, depois que a cronologia da série sofreu um reset em Dias de Um Futuro Esquecido, fica muito clara a desnecessária compulsão dos realizadores em querer corrigir possíveis erros cometidos durante a trajetória da franquia, e X-Men: O Confronto Final (do qual sou um dos defensores) e X-Men Origens: Wolverine praticamente são colocados de castigo pelos realizadores, como se isso apagasse a existência dos filmes. Sem falar que diálogos como “Eu leio mentes” e “Ele está falando do mundo inteiro” doem os ouvidos, seja pela exposição em si ou pelo contexto em que são inseridos.

Mas ainda que esses detalhes incomodem, o filme consegue se segurar bem, até por conta do envolvimento que criamos com os personagens ao longo da série. É algo que Bryan Singer felizmente não esquece, de forma que as cenas de ação conduzidas por ele não só mostram ser ágeis e interessantes, mas também ganham peso por envolverem figuras com as quais nos importamos, e por esse motivo os momentos que trazem grandes destruições nunca soam como meros espetáculos vazios de efeitos visuais. Para completar, o diretor é hábil ao equilibrar a diversão da narrativa e as cenas mais impactantes (uma específica envolvendo Magneto merece atenção especial aqui), além de conseguir dar um apropriado ar oitentista à narrativa através dos figurinos e da escolha de canções.

Voltando ao papel de Charles Xavier com seu carisma habitual, James McAvoy encarna bem o lado idealista e sonhador do personagem com relação à humanidade e o convívio pacífico com os mutantes, sendo que ele se mantém firme a essa visão mesmo que ela constantemente pareça impossível de se tornar realidade. Já Michael Fassbender tem a chance de interpretar um Erik Lehnsherr que pela primeira vez surge dando valor aos ideais de seu amigo, e exatamente por isso as motivações do personagem para ser o sujeito vingativo que conhecemos se tornam ainda mais compreensíveis, ao passo que Jennifer Lawrence faz de Mística uma figura exausta não só da posição de heroína que ganhou após os eventos do filme anterior, mas também de como isso pouco melhorou a realidade que vive. E se Nicholas Hoult volta a mostrar segurança no papel de Hank McCoy, Evan Peters rouba novamente a cena com seu irreverente Mercúrio (ele mais uma vez protagoniza uma sequência admirável com seus poderes), enquanto Tye Sheridan, Sophie Turner e Kodi Smit-McPhee aparecem eficientes como as versões jovens de Ciclope, Jean Grey e Noturno. Finalmente, apesar das motivações batidas do personagem, Oscar Isaac compõe Apocalipse como um vilão ditatorial, persuasivo e com ar de superioridade, não escondendo seu desprezo pelos humanos e tendo plena noção do quão poderoso pode ser, assumindo assim a posição do líder divino que pensa representar.

As irregularidades de X-Men: Apocalipse não o impedem de aproveitar bem o que seu rico universo é capaz de proporcionar. Assim como em outros exemplares, fica ao final a curiosidade com relação ao futuro da série, até porque ela ainda tem fôlego para render histórias interessantes.

Obs.: Há uma cena depois dos créditos finais.

Nota:


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