Liam Neeson ter se estabelecido
como um astro de ação popular é algo surpreendente. Afinal, quem diria que,
depois de 30 anos de carreira, um ator reconhecido por obras como A Lista de Schindler e Michael Collins viria a entrar tão engajado
num gênero como esse? Só nos últimos anos, Neeson montou um currículo que o
encaixaria perfeitamente na franquia Os
Mercenários. No entanto, por mais bem sucedido que ele venha se revelando nisso,
poucos de seus projetos tem se mostrado eficientes, sendo que no início do ano
ele já apareceu no desastroso Busca
Implacável 3 (o pior exemplar de uma franquia que torço para que não renda outros
frutos). Mas Neeson está de volta, agora neste Noite Sem Fim, que não é grandes coisas apesar de ser uma
obra-prima se comparado ao trabalho anterior do ator.
Noite Sem Fim traz Liam Neeson interpretando Jimmy Conlon, sujeito que
costumava trabalhar como assassino profissional para seu melhor amigo, o
ex-chefe do crime Shawn Maguire (Ed Harris). Em meio a uma vida repleta de
sangue e que o tornou um homem amargurado e alcoólatra, Jimmy fez uma coisa
certa: conseguiu impedir que seu filho, Mike (Joel Kinnaman), repetisse seus
erros, de forma que o rapaz sente vergonha do pai e tem uma vida feliz e
confortável com a família. O mesmo não pode ser dito sobre Shawn, cujo filho,
Danny (Boyd Holbrook), está cada vez mais inserido no mundo do crime. Quando
Mike presencia um assassinato cometido por Danny, este começa a caçá-lo e como
resultado acaba morrendo pelas mãos de Jimmy. É então que pai e filho se veem
tendo que se juntar para fugir de Shawn, que passa a querer a cabeça deles
custe o que custar.
Não demora muito até que se
perceba que Noite Sem Fim é um
daqueles filmes de ação que tenta não recorrer apenas a pancadarias, tiroteios
e explosões para conquistar o interesse do espectador. O roteiro de Brian
Ingelsby insere esses elementos ao mesmo tempo em que desenvolve com calma a
história e as relações entre os personagens, o que abre a possibilidade para o filme
ter um peso maior e deixar o espectador envolvido no drama que está acontecendo.
Em parte o roteirista é bem sucedido nisso, mas é uma pena que ele parta de
clichês batidos para compor o que ocorre na tela, seja o conflito entre Jimmy e
Mike ou a inclusão de um detetive (vivido por Vincent D’Onofrio) que está há
anos no encalço de Jimmy e quer que ele se entregue, detalhes que contribuem
para que muitas das resoluções da trama sejam previsíveis e óbvias. Além disso,
o roteirista em determinados momentos se entrega a simplicidades convenientes
demais, como ao apresentar o universo do filme como algo extremamente corrupto,
mas trazer um personagem entregando uma informação importante exatamente ao
único policial íntegro visto ali.
Enquanto isso, o diretor Jaume Collet-Serra (em
sua terceira colaboração com Neeson, depois de Desconhecido e Sem Escalas)
merece créditos por apostar em transições de cena fluídas, que pulam de um
lugar a outro quase que literalmente, e por impor um tom um tanto soturno ao
longa, aspecto que encontra auxílio no fato de o roteiro estabelecer a maior
parte da ação ao longo de uma única noite. Nesse sentido, aliás, é curioso ver
que Noite Sem Fim faz jus ao título
que ganhou no Brasil, já que tantas coisas acontecem no filme que fica a impressão
de que as horas se esticaram bastante na narrativa. Mas esse detalhe não chega
a ser um problema (é até normal, na verdade), diferente das sequências de ação,
que são dirigidas por Collet-Serra de modo burocrático e aborrecido, sendo que
a própria estrutura do roteiro (que depois de sua cena inicial volta 16 horas
no tempo para contar a história) deixa claro que um personagem não morrerá
naqueles momentos, tirando boa parte da tensão.
Liam Neeson, por sua vez, interpreta
Jimmy Conlon com competência, apesar de o alcoolismo do personagem ser um
detalhe repetitivo quando se fala no ator (lembremos que seu papel em Sem Escalas trazia o mesmo vício).
Quando está em cena, Neeson traz segurança e carisma a um homem que não está em
busca do perdão do filho ou de uma espécie de redenção, mas sim de impedir que
sua antiga vida cause danos a quem simplesmente não merece. Já Ed Harris faz de
Shawn Maguire um vilão que deixa de lado qualquer senso de justiça e
racionalidade para dar voz à própria dor como pai, e a grande amizade que ele
tem com Jimmy traz um toque intrigante aos eventos. E se Vincent D’Onofrio e
Nick Nolte são desperdiçados em papeis pequenos, Joel Kinnaman impede que Mike
se torne o filho chato do protagonista, tendo personalidade e motivações bem estabelecidas.
Soando até mais longo do que o
necessário (culpa principalmente da estrutura do roteiro, que é obrigado a
chegar de alguma forma a sua cena inicial, o que ocorre de um jeito pouco
interessante), Noite Sem Fim é uma
obra irregular que ao menos não representa uma experiência torturante. Mas, como
sempre, fica a esperança de que Liam Neeson não se contente com projetos que
vão disso para pior.
Nota:
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