A era Roger Moore
é a menos interessante da franquia 007. Não necessariamente por culpa
do ator, mas porque os filmes constantemente se viram caindo de vez na
mais pura bobagem, e nem sempre de um jeito divertido, algo que chegaria
ao ápice em 007 Contra o Foguete da Morte, um dos piores da série. Levando isso em conta, 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro, segunda produção a trazer Moore
como James Bond, é um dos exemplares aceitáveis que o ator estrelou
dentro da franquia, ainda que se destaque mais graças ao vilão
interpretado por Christopher Lee.
Escrito por Richard Maibaum (que assinou grande parte dos filmes da série) em parceria com Tom Mankiewics, 007 contra o Homem com a Pistola de Ouro traz James Bond enfrentando a ameaça de Francisco Scaramanga (Lee), assassino profissional conhecido por cobrar um milhão de dólares por cada um de seus alvos e por utilizar uma pistola de ouro para eliminá-los (como aponta o próprio título do filme). Bond talvez seja o próximo em sua lista e, mesmo assim, o agente decide investigar seu novo nêmesis, eventualmente entrando no meio da corrida pelo agitador Solex, aparelho importante para uma máquina conversora de energia solar que chama a atenção tanto de Scaramanga quanto do governo.
É muito claro durante a história que os realizadores querem muito mais divertir o público que empolgá-lo e envolvê-lo numa tensão comum aos filmes de espionagem, mesmo que o pano de fundo seja uma crise de energia, referência à crise do petróleo que atormentava aqueles anos. Sendo assim, o roteiro insere um nível alto de comicidade em meio à trama, de tal maneira que é uma surpresa a produção não entrar em definitivo na área da autoparódia. Nesse sentido, 007 contra o Homem com a Pistola de Ouro diverte em alguns momentos (como quando o protagonista derruba um lutador com apenas um chute), mas em outros soa muito bobo, perdendo tempo com elementos desnecessários, como o insuportável xerife Pepper (Clifton James), que infelizmente retorna depois de sua participação em Com 007 Viva e Deixe Morrer.
Considerando tudo isso, o diretor Guy Hamilton (em sua quarta e última passagem pelo universo de 007) acaba apostando num tom leve durante boa parte do tempo, o que tira um pouco o peso da trama, que sempre fica melhor quando investe na tensão dos eventos. Isso serve também para as cenas de ação. Se por um lado, o grande jogo de gato e rato que Scaramanga faz em sua ilha se destaca pelo suspense, assim como a perseguição de barco no segundo ato, por outro, o mesmo não pode ser dito sobre a luta em que duas colegiais arrebentam vários homens enquanto Bond assiste, ou a briga no final entre o protagonista e o capanga baixinho do vilão, Nick Nack (Hervé Villechaize). São cenas que apelam demais para o ridículo. Em determinado momento, isso parece até fazer Hamilton esquecer o tipo de filme que está comandando, já que ele realiza uma manobra tecnicamente impressionante com um carro, mas arruína o esforço com um desnecessário efeito sonoro de desenho animado.
Já Roger Moore surge claramente mais confortável no papel de James Bond, encaixando naturalmente no personagem seu senso de humor sem sacrificar sua determinação e energia, trazendo um carisma imprescindível no processo. E se Britt Ekland e Maud Adams não conseguem fazer com que a ajudante de Bond, Mary Goodnight, e a amante de Scaramanga, Andrea Anders, sejam Bond girls interessantes (a primeira até irrita por ser o estereótipo da loira burra), Hervé Villechaize aparece como uma presença curiosa interpretando Nick Nack. Mas é inegável que Christopher Lee rouba a cena com seu vilão. Mesmo quando contracena com o James Bond de Moore, o Francisco Scaramanga de Lee é um personagem que surge mais cativante, com o ator encarnando-o com charme e elegância, sendo que ele ainda tem habilidades que o tornam um sujeito tão letal quanto o próprio protagonista.
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