terça-feira, 12 de maio de 2015

Tucker: Um Homem e Seu Sonho

Consagrado nos anos 1970 como um dos grandes nomes do cinema norte-americano, ao lado dos amigos Martin Scorsese e Steven Spielberg, Francis Ford Coppola não chegou a mostrar toda a força de seu talento nas décadas seguintes. Sim, de lá pra cá ele realizou belos filmes, como O Selvagem da Motocicleta, mas nada que se compare aos dois O Poderoso Chefão, A Conversação ou Apocalypse Now (a não ser, é claro, O Poderoso Chefão 3 que, diferentemente do que muitos dizem, fecha a trilogia dos Corleone com brilhantismo). Isso pode ser visto em Tucker: Um Homem e Seu Sonho, projeto caro ao cineasta. Mesmo sendo uma obra eficiente, fica longe de seus melhores trabalhos.

Com roteiro de Arnold Schulman e David Seidler, Tucker se passa pouco depois da Segunda Guerra Mundial e mostra a história real do empresário Preston Tucker (Jeff Bridges) concebendo o Tucker 48, carro inovador no quesito segurança de motoristas e passageiros, atributo visto hoje como fundamental em qualquer veículo. Tendo o apoio da família e conseguindo financiamento com Abe Karatz (Martin Landau), Preston forma uma equipe para ajudá-lo na empreitada. Mas, sua ambição bate de frente com figuras poderosas, o que o faz enfrentar alguns problemas durante o processo.
Mesmo que Tucker seja um projeto dos sonhos de Coppola e bastante pessoal (muito se fala sobre o cineasta paralelizar a situação do protagonista com o Tucker 48 e a dele com sua produtora American Zoetrope), é difícil não pensar que o filme é guiado no piloto automático. Coppola parece apertar os botõezinhos certos para agradar o público inofensivamente, apostando até em um tom leve mesmo quando a narrativa poderia ganhar toques mais sérios, como no julgamento que vemos no terceiro ato. Dentro desse objetivo, Coppola acaba sendo bem-sucedido, mas é uma pena ele se arriscar tão pouco, não exibindo muita imaginação ou ambição.
Se o diretor peca um pouco nesses aspectos, curiosamente o contrário pode ser dito sobre o protagonista. Tratado por Coppola com um respeito notável (isso pode ser visto nos ângulos baixos que o engrandecem ocasionalmente), Preston Tucker é a ambição e o entusiasmo em pessoa, empolgado com as próprias ideias e sem dúvidas de que elas darão certo. Além disso, é bacana notar que ele não é arrogante a ponto de barrar as ideias de sua equipe, como podemos ver no tratamento dado ao designer Alex Tremulis (Elias Koteas). E, apesar de o personagem ser essencialmente unidimensional (devido mais ao roteiro), Jeff Bridges traz seu carisma habitual ao papel, além de ter uma boa dinâmica com o restante do elenco (destaque para o ótimo Martin Landau como Abe Karatz e Joan Allen como a esposa de Preston), o que contribui para que a história se torne cativante ao espectador.
Considerando o que aconteceu com Preston Tucker após os eventos retratados aqui (e que é estabelecido superficialmente por meio de letreiros finais), talvez a abordagem que Coppola dá à história seja excessivamente bonitinha, até um pouco desonesta. Mas, mesmo com seus problemas, Tucker não chega a representar um ponto baixo na carreira do diretor. É um Coppola menor, lançado numa época em que ele tinha dificuldades para reencontrar o prestígio recebido quando estava no auge.
Nota:

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