Sean Penn é um ator excepcional. Extremamente
versátil, ele pode encarnar com propriedade desde a frieza de um pai vingativo,
em Sobre Meninos e Lobos, até a
delicadeza de um político homossexual que luta pelos direitos de sua comunidade,
em Milk, sem falar no jeito maluco
de um surfista maconheiro, em Picardias
Estudantis. Até em papeis pequenos ele é capaz de brilhar, como o do
fotógrafo que aprecia o mundo ao seu redor em A Vida Secreta de Walter Mitty. Em maior ou menor grau, todos são
papeis que soam normais na carreira do ator. Mas é então que Penn surge em O Franco-Atirador (não, não é um remake
do famoso filme com Robert De Niro) como um herói de ação a la Stallone,
Schwarzenegger e tantos outros, algo bastante diferente dos personagens que ele
interpretou ao longo dos anos. À primeira vista isso pode ser curioso, mas é
uma pena que o ator tenha escolhido um projeto tão medíocre para explorar essa
faceta.
Baseado no livro de Jean-Patrick
Machette, o roteiro escrito a seis mãos pelo próprio Penn em parceria com Don
MacPherson e Pete Travis tem início em 2006, em meio à guerra civil no Congo,
onde Jim Terrier (Penn) mata o Ministro das Minas local em uma operação
liderada por Felix (Javier Bardem). Seu contrato ainda o manda fugir do país, obrigando-o
a abandonar sua amada Annie (Jasmine Trinca). Oito anos depois, Jim volta ao
Congo buscando corrigir seus erros do passado, trabalhando em uma ONG e levando
uma existência pacífica. Mas quando alguns homens tentam mata-lo, ele se vê
tendo que abraçar sua antiga vida para descobrir quem está por trás disso.
Dirigido por Pierre Morel (que
coincidentemente foi quem lançou o veterano Liam Neeson como herói de ação no
primeiro Busca Implacável), O Franco-Atirador inicialmente parece querer
ser um filme de ação com um lado político, focando logo de cara o conflito no
Congo, o trabalho de ONGs e os interesses de grandes corporações, algo que até
combina com Sean Penn, que é conhecido por seu engajamento político em causas
sociais. Mas o roteiro se mostra bastante raso nesse aspecto, sendo que não
demora muito até ele ceder lugar à pancadaria e aos objetivos do protagonista. É
então que o filme cai em um amontoado de clichês enquanto desenvolve uma trama desinteressante
e lugar-comum, que inclusive dá um espaço maior do que devia a um triângulo
amoroso novelesco entre Jim, Felix e Annie, elemento que irrita pela forma quase
infantil como os personagens constrangem uns aos outros.
Mas estamos falando de um filme
de ação, então O Franco-Atirador
obviamente precisa parar a história de vez em quando para se concentrar em suas
sequências de tiroteios e explosões. Nisso, Pierre Morel claramente se esforça
para envolver o espectador ao ditar um ritmo frenético. Mas as sequências não
deixam de ser um tanto burocráticas, sendo que o diretor ainda peca por não
conseguir impor tensão nelas, de maneira que nunca tememos pelo destino do
protagonista, o que só contribui para torna-las aborrecidas. Como se não
bastasse, no terceiro ato o filme chega ao ápice da bobagem ao conseguir colocar
um touro em seu grande clímax em uma arena de Barcelona.
Enquanto isso, Sean Penn merece créditos
por convencer como herói de ação, e considerando o número de vezes em que ele
aparece sem camisa ou com os braços à mostra durante o longa, eu não duvidaria
se ele tiver topado fazer o filme só para exibir sua forma física invejável aos
54 anos. No entanto, quaisquer tentativas de Penn para tentar humanizar o
personagem vão por água a baixo quando o roteiro praticamente faz dele uma
figura indestrutível. Em determinado momento, por exemplo, ele descobre ter um
problema de saúde, mas nem isso ajuda a torna-lo vulnerável, por mais que seus
efeitos apareçam ocasionalmente. E se Javier Bardem (outro ator que dispensa
apresentações) engata o overacting interpretando
o insuportável Felix, a bela Jasmine Trinca pouco pode fazer com Annie, sendo
esta o típico interesse amoroso que segue o herói por todo canto. Fechando o
elenco, atores talentosos como Ray Winstone e Idris Elba são desperdiçados em papeis
menores (até o já citado touro ganha mais o que fazer no filme).
Espero que O Franco-Atirador não seja para Sean Penn o que Busca Implacável foi para Liam Neeson:
o início de um novo rumo na carreira. Se for, é melhor o ator escolher projetos
mais interessantes para estrelar. Caso contrário será um enorme desperdício de
talento.
Nota:
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