quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Franco-Atirador

Sean Penn é um ator excepcional. Extremamente versátil, ele pode encarnar com propriedade desde a frieza de um pai vingativo, em Sobre Meninos e Lobos, até a delicadeza de um político homossexual que luta pelos direitos de sua comunidade, em Milk, sem falar no jeito maluco de um surfista maconheiro, em Picardias Estudantis. Até em papeis pequenos ele é capaz de brilhar, como o do fotógrafo que aprecia o mundo ao seu redor em A Vida Secreta de Walter Mitty. Em maior ou menor grau, todos são papeis que soam normais na carreira do ator. Mas é então que Penn surge em O Franco-Atirador (não, não é um remake do famoso filme com Robert De Niro) como um herói de ação a la Stallone, Schwarzenegger e tantos outros, algo bastante diferente dos personagens que ele interpretou ao longo dos anos. À primeira vista isso pode ser curioso, mas é uma pena que o ator tenha escolhido um projeto tão medíocre para explorar essa faceta.

Baseado no livro de Jean-Patrick Machette, o roteiro escrito a seis mãos pelo próprio Penn em parceria com Don MacPherson e Pete Travis tem início em 2006, em meio à guerra civil no Congo, onde Jim Terrier (Penn) mata o Ministro das Minas local em uma operação liderada por Felix (Javier Bardem). Seu contrato ainda o manda fugir do país, obrigando-o a abandonar sua amada Annie (Jasmine Trinca). Oito anos depois, Jim volta ao Congo buscando corrigir seus erros do passado, trabalhando em uma ONG e levando uma existência pacífica. Mas quando alguns homens tentam mata-lo, ele se vê tendo que abraçar sua antiga vida para descobrir quem está por trás disso.

Dirigido por Pierre Morel (que coincidentemente foi quem lançou o veterano Liam Neeson como herói de ação no primeiro Busca Implacável), O Franco-Atirador inicialmente parece querer ser um filme de ação com um lado político, focando logo de cara o conflito no Congo, o trabalho de ONGs e os interesses de grandes corporações, algo que até combina com Sean Penn, que é conhecido por seu engajamento político em causas sociais. Mas o roteiro se mostra bastante raso nesse aspecto, sendo que não demora muito até ele ceder lugar à pancadaria e aos objetivos do protagonista. É então que o filme cai em um amontoado de clichês enquanto desenvolve uma trama desinteressante e lugar-comum, que inclusive dá um espaço maior do que devia a um triângulo amoroso novelesco entre Jim, Felix e Annie, elemento que irrita pela forma quase infantil como os personagens constrangem uns aos outros.

Mas estamos falando de um filme de ação, então O Franco-Atirador obviamente precisa parar a história de vez em quando para se concentrar em suas sequências de tiroteios e explosões. Nisso, Pierre Morel claramente se esforça para envolver o espectador ao ditar um ritmo frenético. Mas as sequências não deixam de ser um tanto burocráticas, sendo que o diretor ainda peca por não conseguir impor tensão nelas, de maneira que nunca tememos pelo destino do protagonista, o que só contribui para torna-las aborrecidas. Como se não bastasse, no terceiro ato o filme chega ao ápice da bobagem ao conseguir colocar um touro em seu grande clímax em uma arena de Barcelona.

Enquanto isso, Sean Penn merece créditos por convencer como herói de ação, e considerando o número de vezes em que ele aparece sem camisa ou com os braços à mostra durante o longa, eu não duvidaria se ele tiver topado fazer o filme só para exibir sua forma física invejável aos 54 anos. No entanto, quaisquer tentativas de Penn para tentar humanizar o personagem vão por água a baixo quando o roteiro praticamente faz dele uma figura indestrutível. Em determinado momento, por exemplo, ele descobre ter um problema de saúde, mas nem isso ajuda a torna-lo vulnerável, por mais que seus efeitos apareçam ocasionalmente. E se Javier Bardem (outro ator que dispensa apresentações) engata o overacting interpretando o insuportável Felix, a bela Jasmine Trinca pouco pode fazer com Annie, sendo esta o típico interesse amoroso que segue o herói por todo canto. Fechando o elenco, atores talentosos como Ray Winstone e Idris Elba são desperdiçados em papeis menores (até o já citado touro ganha mais o que fazer no filme).

Espero que O Franco-Atirador não seja para Sean Penn o que Busca Implacável foi para Liam Neeson: o início de um novo rumo na carreira. Se for, é melhor o ator escolher projetos mais interessantes para estrelar. Caso contrário será um enorme desperdício de talento.

Nota:


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