O projeto que a Marvel Studios tem
desenvolvido no cinema denota ambição e organização notáveis, com os
realizadores tendo paciência na maneira como montam todo o quebra-cabeça de
seus super-heróis. E algo admirável com relação a tudo isso é que, com poucas
exceções (como o fraco Thor 2), essas
adaptações de quadrinhos tem resultado em entretenimentos muito eficientes, e
2014 possivelmente foi o melhor ano do estúdio, com os ótimos Capitão América 2 e Guardiões da Galáxia. No fim, tudo isso
culmina nos filmes dos Vingadores, e juntar todos os personagens que aprendemos
a gostar ao longo dos anos (seja através do que é visto no cinema ou do próprio
material de origem) é uma ideia naturalmente empolgante. Há três anos, ela conseguiu
fazer jus a seu potencial, e agora em Vingadores:
Era de Ultron as coisas não mudam muito.
Escrito e dirigido por Joss
Whedon, Vingadores 2 começa trazendo
os heróis em uma grande missão, na qual conhecem os gêmeos Pietro e Wanda
Maximoff (Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen, respectivamente). Esta última
usa seus poderes telecinéticos para mexer com a cabeça de Tony Stark (Robert
Downey Jr.), que passa a temer que ele e seus amigos não sejam o suficiente
para proteger o mundo, medo este que ele já havia manifestado de certa forma em
Homem de Ferro 3. Com isso em mente,
ele cria com a ajuda de Bruce Banner (Mark Ruffalo) um programa para tentar
proteger a todos, dando origem ao robô Ultron (James Spader). Mas o
plano falha quando Ultron racionaliza que o maior mal da Terra são seus habitantes
e que estes merecem a extinção, fazendo os Vingadores darem o máximo de si para
detê-lo.
Logo de cara Joss Whedon aparenta
não estar disposto a perder muito tempo durante a projeção. Na primeira sequência
do filme, o diretor não apenas nos joga no meio da ação com os heróis, mas
também os acompanha em um longo plano sem cortes que além de nos reapresentar a
eles, ainda mostra que a dinâmica entre todos só melhorou desde a última vez que
os vimos juntos. A partir disso, o roteiro se estrutura de forma a desenvolver o
conflito principal com Ultron e as subtramas que o complementam, e é aí que Vingadores 2 encontra alguns obstáculos
que prejudicam a narrativa, já que nem todos esses elementos se revelam
interessantes. Por um lado, os conflitos ideológicos entre os personagens,
principalmente Tony Stark e Steve Rogers (Chris Evans), soam naturais,
significativos e até necessários naquele ambiente. Mas por outro, o filme também
dá atenção considerável a um romance repentino entre duas figuras importantes,
algo que, infelizmente, ganha contornos tão clichês que acaba incomodando sempre
que surge na tela. Além disso, o roteiro por vezes apela demais para diálogos
expositivos, inserindo-os de maneira pouco orgânica, como quando Pietro fala sobre
o passado dele e da irmã.
Enquanto isso, as sequências de
ação obviamente mostram-se grandiosas, conseguindo passar a impressão de uma ameaça global ao se passarem em várias partes do mundo e aproveitando bem os poderes dos
personagens, que em determinados momentos combinam suas forças de modo criativamente
eficaz. E se levarmos em conta que os heróis se distribuem entre o espaço da
ação, é admirável que Joss Whedon não torne tudo uma bagunça, deixando sempre
claro o que está acontecendo e onde está cada personagem. Sendo assim, não há
como não destacar, principalmente, a já citada sequência inicial e todo o
terceiro ato, com a grande batalha contra Ultron e seu exército de robôs. A única
cena que não funciona tão bem nesse aspecto é a briga entre Homem de Ferro e
Hulk, que lembra a ação exaustiva de O Homem de Aço, saturando o espectador rapidamente com toda a destruição que
ocorre.
No entanto, por mais que Vingadores 2 tenha problemas claros, ainda
assim trata-se de uma produção envolvente e divertida na maior parte do tempo,
o que se deve principalmente porque Joss Whedon tem em mãos personagens
absolutamente carismáticos, que ainda são
interpretados por um elenco talentoso. De Robert Downey Jr. como Tony Stark até
Chris Hemsworth e Scarlett Johansson como Thor e Natasha Romanoff, todos ali já
conseguem encarnar seus papeis com os olhos fechados, tendo também uma bela
química em cena, como pode ser visto na festa que ocorre no início. Mas há de
se destacar em meio a isso o espaço surpreendente dado ao Clint Barton de
Jeremy Renner, além das adições de Paul Bettany como o androide Visão (é dele a
melhor gag do filme), e Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson como os irmãos
Maximoff, que conseguem ser cativantes mesmo com espaço reduzido em comparação
aos heróis principais. Já o Ultron de James Spader é um vilão cuja ameaça fica evidente
logo em sua primeira cena, sendo que suas motivações não poderiam ser mais claras
e até compreensíveis, e algumas de suas falas estão entre as melhores do filme.
Mas o personagem perde boa parte dessa força mais tarde, o que é um pouco decepcionante.
Vingadores 2 definitivamente não é o melhor filme da Marvel, mas
ainda representa uma diversão bem acima da média, como quase todas as produções
do estúdio. E considerando sua última cena, é um filme que consegue deixar o
espectador ansioso pelo futuro da franquia, se organizando para que novos e promissores rumos possam ser dados a este ótimo grupo de heróis.
Obs.: Há uma cena durante os
créditos finais.
Obs. 2: Não recomendo assistir a
versão 3D, já que a conversão para a tecnologia mais prejudica a experiência de
ver o filme do que qualquer outra coisa.
Nota:
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