quarta-feira, 22 de abril de 2015

Vingadores: Era de Ultron

O projeto que a Marvel Studios tem desenvolvido no cinema denota ambição e organização notáveis, com os realizadores tendo paciência na maneira como montam todo o quebra-cabeça de seus super-heróis. E algo admirável com relação a tudo isso é que, com poucas exceções (como o fraco Thor 2), essas adaptações de quadrinhos tem resultado em entretenimentos muito eficientes, e 2014 possivelmente foi o melhor ano do estúdio, com os ótimos Capitão América 2 e Guardiões da Galáxia. No fim, tudo isso culmina nos filmes dos Vingadores, e juntar todos os personagens que aprendemos a gostar ao longo dos anos (seja através do que é visto no cinema ou do próprio material de origem) é uma ideia naturalmente empolgante. Há três anos, ela conseguiu fazer jus a seu potencial, e agora em Vingadores: Era de Ultron as coisas não mudam muito.

Escrito e dirigido por Joss Whedon, Vingadores 2 começa trazendo os heróis em uma grande missão, na qual conhecem os gêmeos Pietro e Wanda Maximoff (Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen, respectivamente). Esta última usa seus poderes telecinéticos para mexer com a cabeça de Tony Stark (Robert Downey Jr.), que passa a temer que ele e seus amigos não sejam o suficiente para proteger o mundo, medo este que ele já havia manifestado de certa forma em Homem de Ferro 3. Com isso em mente, ele cria com a ajuda de Bruce Banner (Mark Ruffalo) um programa para tentar proteger a todos, dando origem ao robô Ultron (James Spader). Mas o plano falha quando Ultron racionaliza que o maior mal da Terra são seus habitantes e que estes merecem a extinção, fazendo os Vingadores darem o máximo de si para detê-lo.

Logo de cara Joss Whedon aparenta não estar disposto a perder muito tempo durante a projeção. Na primeira sequência do filme, o diretor não apenas nos joga no meio da ação com os heróis, mas também os acompanha em um longo plano sem cortes que além de nos reapresentar a eles, ainda mostra que a dinâmica entre todos só melhorou desde a última vez que os vimos juntos. A partir disso, o roteiro se estrutura de forma a desenvolver o conflito principal com Ultron e as subtramas que o complementam, e é aí que Vingadores 2 encontra alguns obstáculos que prejudicam a narrativa, já que nem todos esses elementos se revelam interessantes. Por um lado, os conflitos ideológicos entre os personagens, principalmente Tony Stark e Steve Rogers (Chris Evans), soam naturais, significativos e até necessários naquele ambiente. Mas por outro, o filme também dá atenção considerável a um romance repentino entre duas figuras importantes, algo que, infelizmente, ganha contornos tão clichês que acaba incomodando sempre que surge na tela. Além disso, o roteiro por vezes apela demais para diálogos expositivos, inserindo-os de maneira pouco orgânica, como quando Pietro fala sobre o passado dele e da irmã.

Enquanto isso, as sequências de ação obviamente mostram-se grandiosas, conseguindo passar a impressão de uma ameaça global ao se passarem em várias partes do mundo e aproveitando bem os poderes dos personagens, que em determinados momentos combinam suas forças de modo criativamente eficaz. E se levarmos em conta que os heróis se distribuem entre o espaço da ação, é admirável que Joss Whedon não torne tudo uma bagunça, deixando sempre claro o que está acontecendo e onde está cada personagem. Sendo assim, não há como não destacar, principalmente, a já citada sequência inicial e todo o terceiro ato, com a grande batalha contra Ultron e seu exército de robôs. A única cena que não funciona tão bem nesse aspecto é a briga entre Homem de Ferro e Hulk, que lembra a ação exaustiva de O Homem de Aço, saturando o espectador rapidamente com toda a destruição que ocorre.

No entanto, por mais que Vingadores 2 tenha problemas claros, ainda assim trata-se de uma produção envolvente e divertida na maior parte do tempo, o que se deve principalmente porque Joss Whedon tem em mãos personagens absolutamente carismáticos, que ainda são interpretados por um elenco talentoso. De Robert Downey Jr. como Tony Stark até Chris Hemsworth e Scarlett Johansson como Thor e Natasha Romanoff, todos ali já conseguem encarnar seus papeis com os olhos fechados, tendo também uma bela química em cena, como pode ser visto na festa que ocorre no início. Mas há de se destacar em meio a isso o espaço surpreendente dado ao Clint Barton de Jeremy Renner, além das adições de Paul Bettany como o androide Visão (é dele a melhor gag do filme), e Elizabeth Olsen e Aaron Taylor-Johnson como os irmãos Maximoff, que conseguem ser cativantes mesmo com espaço reduzido em comparação aos heróis principais. Já o Ultron de James Spader é um vilão cuja ameaça fica evidente logo em sua primeira cena, sendo que suas motivações não poderiam ser mais claras e até compreensíveis, e algumas de suas falas estão entre as melhores do filme. Mas o personagem perde boa parte dessa força mais tarde, o que é um pouco decepcionante.

Vingadores 2 definitivamente não é o melhor filme da Marvel, mas ainda representa uma diversão bem acima da média, como quase todas as produções do estúdio. E considerando sua última cena, é um filme que consegue deixar o espectador ansioso pelo futuro da franquia, se organizando para que novos e promissores rumos possam ser dados a este ótimo grupo de heróis.

Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.

Obs. 2: Não recomendo assistir a versão 3D, já que a conversão para a tecnologia mais prejudica a experiência de ver o filme do que qualquer outra coisa.

Nota:

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