sábado, 16 de fevereiro de 2013
A Hora Mais Escura
Depois da missão que resultou na morte do líder terrorista Osama bin Laden em maio de 2011, era apenas uma questão de tempo até que isso fosse tema de algum filme. Não demorou muito, e logo de uma vez temos duas produções envolvendo essa caça: O Homem Mais Procurado do Mundo (lançado nos cinemas brasileiros mesmo que originalmente tenha sido feito para a TV americana, e que não vi ainda) e este A Hora Mais Escura, novo trabalho de Kathryn Bigelow depois do excepcional e premiadíssimo Guerra ao Terror. Criando um belo thriller em cima de um evento bastante significativo, Bigelow é bem sucedida ao fazer de A Hora Mais Escura um filme que prende a atenção do início ao fim.
Escrito por Mark Boal (responsável pelo roteiro de Guerra ao Terror), A Hora Mais Escura foca os esforços da CIA para localizar Osama bin Laden após os terríveis ataques de 11 de setembro de 2001 (mostrados de maneira angustiante logo no início da projeção, quando é usado apenas o áudio de gravações feitas na época, onde o pânico das pessoas é triste de ouvir). Nisso somos apresentados a jovem agente Maya (Jessica Chastain), que ao longo dos anos não mede esforços para tentar encontrar o líder da Al-Qaeda, não se deixando abater por nada do que acontece ao seu redor.
Estabelecendo um clima hostil que percorre todo o filme, Kathryn Bigelow rapidamente faz de sua narrativa algo envolvente. Aliás, a tensão em volta de A Hora Mais Escura é tão grande que acaba fazendo com que cenas mais calmas se tornem estranhamente desconfortáveis, até porque depois de um tempo fica óbvio que elas precedem algum tipo de ataque impactante, como quando Maya tenta sair de uma garagem com seu carro. A cineasta ainda desenvolve tudo com agilidade, não parando em nenhum momento para explicar em que ponto das investigações os personagens estão, o que prova que ela confia em seu espectador para acompanhar a história sem maiores problemas.
Enquanto isso, Mark Boal constrói as investigações com inteligência, sempre conseguindo manter o interesse do público, o que é importante considerando que todos entram na sala de cinema sabendo como será o final disso tudo. Em meio a isso, o roteirista inclui detalhes que tentam aproximar a história um pouco mais da realidade, como o modo como a CIA tenta arrancar informações de prisioneiros na base da tortura (algo que trouxe tanta polêmica para cima do filme que diminuiu consideravelmente o favoritismo que ele tinha no início da temporada de premiações). Mas em momento algum Boal e Bigelow defendem esse tipo de ato, tratando-o de maneira desconfortável tanto para quem assiste ao filme quanto para os personagens, que não sentem prazer nenhum em ter que fazer aquilo. Na verdade, o roteiro não deixa de criticar esse método, por que pelo menos no filme ele não ajuda muito, obrigando os personagens a ter outra ideia para tentar ganhar informações. Querendo ou não, esse é um elemento que precisava ser retratado de alguma forma, porque torturas infelizmente ocorreram e omitir isso seria o mesmo que negar os fatos, o que seria absurdo por parte dos envolvidos no projeto.
Saltando no tempo várias vezes, o roteiro torna a narrativa um tanto episódica, mas compensa esse detalhe por conseguir condensar muito bem toda uma década dedicada à procura de bin Laden, além de mostrar as dificuldades que Maya e sua equipe na CIA passam para cumprir sua missão. Já alguns eventos que realmente aconteceram, como a explosão em Islamabad que destruiu parte do Hotel Marriott em 2008 ou o ataque a uma base dos Estados Unidos no Afeganistão em 2009, são inseridos na história organicamente por Mark Boal, colocando os personagens no meio da ação, o que inclusive ajuda a aumentar o nível de suspense dessas cenas, porque nos importamos com as figuras vistas na tela.
Vale ressaltar também o excelente trabalho dos montadores Dylan Tichenor e William Goldenberg (este último indicado ao Oscar desse ano não só por este filme, mas também por Argo). Inserindo imagens de arquivo e outras gravações ao longo da narrativa, a dupla merece créditos por manter um ritmo cativante durante toda a projeção. Para completar, vale dizer que Tichenor e Goldenberg também lidam admiravelmente bem com as montagens paralelas, como na sequência final que segue a equipe que vai atrás de bin Laden ao mesmo tempo em que Maya fica nos bastidores na base de comando.
Já que comentei a parte da missão, é difícil não destacar a qualidade com a qual ela é orquestrada e que a faz ser um dos vários pontos altos do filme. Filmada de maneira extremamente escura por Kathryn Bigelow e o diretor de fotografia Greig Fraser (detalhe que nos obriga a prestar a atenção ainda mais no que está acontecendo), essa tensa sequência conta com uma calmaria que evidencia o cuidado que todos tiveram em seu desenvolvimento. E é interessante ver que Bigelow consegue deixar clara a geografia da cena mesmo no meio da escuridão e acompanhando os vários lugares em que os soldados entram.
Transformando Maya em uma figura forte e corajosa em um universo onde os homens praticamente imperam sozinhos, Jessica Chastain surge em A Hora Mais Escura com uma determinação incrível, brilhando em cada cena em que aparece. Ainda que o elenco masculino tenha seus destaques, como Jason Clark, Kyle Chandler e Mark Strong, é Chastain quem domina a tela. É interessante ver que a atriz em alguns momentos faz da personagem uma pessoa até um pouco perturbada por causa do trabalho, já que Maya não faz outra coisa a não ser tentar cumprir sua missão. Dessa forma, pegar bin Laden acaba sendo um vício para ela, o que a faz ser parecida com o Sargento William James, interpretado por Jeremy Renner em Guerra ao Terror (lá, a própria guerra era um tipo de droga para ele). Além disso, é admirável ver Maya enfrentar seus superiores sem medo algum, o que mostra a confiança que ela tem no que está fazendo ao lado de sua equipe.
Representando mais um acerto de Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura retrata com eficiência a caça a um terrorista, mas ao mesmo tempo deixa claro que por mais que bin Laden esteja morto, isso não é motivo de comemoração. Afinal, matar um líder terrorista não termina com o terrorismo em si, que infelizmente ainda será responsável por muitos eventos trágicos, enquanto várias pessoas gastam anos de suas vidas tentando combatê-lo.
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Um comentário:
Acho "A Hora Mais Escura" superior a "Argo" e "Lincoln". Kathryn Bigelow fez um excelente trabalho ao lado de Mark Boal e conseguiu me cativar ainda mais.
Minha resenha do filme: http://peliculacriativa.blogspot.com.br/2013/01/critica-hora-mais-escura-zero-dark.html?spref=tw
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