quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Meu Namorado é um Zumbi
Se Zumbilândia e Romeu e Julieta se casassem e tivessem um filho, este seria Meu Namorado é um Zumbi. Investindo em uma premissa que à primeira vista é boba e absurda demais (um romance entre uma humana e um zumbi), o filme surpreende ao assumir tal esquisitice, além de contar com uma veia cômica eficiente que somada ao carisma do casal principal acaba resultando em uma história muito agradável de se acompanhar. Uma certa franquia de vampiros brilhantes certamente poderia ter sido mais suportável caso tivesse um pouco do bom humor desse novo filme dirigido por Jonathan Levine (responsável pelo ótimo 50%).
Escrito pelo próprio Levine, baseado no livro de Isaac Marion, Meu Namorado é um Zumbi se passa oito anos após algo (nunca é explicado o quê) ter acabado com quase toda a sociedade, transformando as pessoas em zumbis, sendo que algumas viram figuras conhecidas como Esqueléticos depois de algum tempo. Nisso somos apresentados a R (Nicholas Hoult), morto-vivo que anda pelos arredores de um aeroporto e só consegue se comunicar com seu amigo M (Rob Corddry) através de grunhidos e às vezes com palavras. Durante um ataque em que ele e mais alguns “amigos” tentavam se alimentar, R come o cérebro de Perry (Dave Franco) e depois salva a namorada dele, Julie (Teresa Palmer). Se sentindo responsável pela garota e procurando protegê-la o máximo possível, R desenvolve com ela um relacionamento que começa a causar sérias mudanças nele e em toda a comunidade zumbi, podendo esta ser a chance de todos voltarem ao normal.
O roteiro de Levine não chega a desmistificar a figura do zumbi. O que vemos no filme continua sendo a criatura que morre levando tiros na cabeça, se alimenta de carne humana e cambaleia por aí. A única mudança um pouco mais estranha é o detalhe de eles serem bastante racionais, mas ainda assim não é nada muito gritante como brilhar sob a luz do sol. E por a história ser contada pelo ponto de vista de R, isso ajuda para que compreendamos o porquê de eles agirem da forma vista no filme, como por exemplo o porquê de eles comerem cérebros, sendo esta a única maneira de eles se sentirem humanos de novo, já que eles veem as memórias das pessoas de quem estão se alimentando. É absurdo, mas não deixa de ser interessante porque assim o roteiro faz deles pessoas comuns presas em um corpo moribundo, e todos desejam se curar um dia.
O fato de R ser o personagem que guia o espectador através da história ainda contribui para que nos identifiquemos rapidamente com ele. Boa parte disso também se deve a sua ótima narração em off, que apesar de ser explicativa demais em alguns momentos, acaba ajudando a compor R como uma figura tímida e, por isso mesmo, divertida. Além disso, seu talentoso intérprete, Nicholas Hoult, não só tem um ótimo timing cômico como ainda traz seu carisma habitual para o personagem. O mesmo pode ser dito sobre a bela Teresa Palmer e o modo como ela interpreta Julie, e a química que os dois atores desenvolvem faz com que nos importemos com o destino dos personagens, mesmo que haja um conflito previsível (e até mesmo clichê) envolvendo o fato de R manter em segredo o que fez com Perry. E se o casal principal se sai bem, os coadjuvantes não ficam muito atrás, onde vemos um Rob Corddry divertido e um John Malkovich mais contido interpretando o pai da mocinha (e que é praticamente uma espécie de presidente nos tempos do apocalipse).
Jonathan Levine conduz tudo com leveza, incluindo gags eficientes ao longo do filme, como quando Julie tenta imitar um zumbi ou a cena em que M traduz de maneira hilária o que um grupo de zumbis quer dizer com seus gemidos. No entanto, o diretor falha ao fazer dos Esqueléticos figuras relativamente fáceis de serem combatidas, não fazendo jus a ameaça que eles representam inicialmente, o que até tira um pouco da tensão de algumas cenas de ação. Já a montagem de Nancy Richardson merece créditos por inserir os flashbacks (a maioria são memórias de Perry vistas por R) organicamente na narrativa, nunca interrompendo a história abruptamente.
Com uma aura de produção que poderia ter sido realizada na década de 1980 (o que inclui sequências com uso de músicas, que são muito bem escolhidas, por sinal), Meu Namorado é um Zumbi surge nesse início de ano não só como uma comédia eficiente, mas também como uma agradável surpresa.
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