sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Frankenweenie

Antes de estourar com obras como Os Fantasmas Se Divertem, Batman e Edward Mãos de Tesoura, Tim Burton fez alguns curtas-metragens interessantes. Um deles é Frankenweenie, de 1984, que contava uma história simpática de um garoto que ressuscita seu adorável cachorro, em algo que claramente fazia referência a Frankenstein. Mas ao transformar Frankenweenie em um longa-metragem (chegando a trocar o live-action pela animação), Burton infelizmente não consegue fazer com que a história seja tão interessante quanto era em sua versão original, resultando em um filme divertido, mas que não é nada marcante, o que pode ser dito também sobre seu outro lançamento no ano, Sombras da Noite.
Escrito por John August (que já colaborou com Burton em outros filmes, como Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas e A Fantástica Fábrica de Chocolate), Frankenweenie nos apresenta ao jovem Victor Frankenstein (voz de Charlie Tahan) e seu cãozinho Sparky. Depois que o animal morre ao ser atropelado, Victor resolve colocar em prática o que aprendeu em uma aula de ciências na escola: usar eletricidade para trazer seu amigo de volta a vida. O experimento dá certo, mas Victor não consegue manter tudo em segredo, o que acaba trazendo sérias consequências.
O modo como Burton conduz a história é bastante curioso. De vez em quando, é possível notar uma certa falta de continuidade entre alguns frames (o que inclusive ocorre no filme caseiro que Victor apresenta logo no início, e que ainda por cima é em 3D), como quando a turma na escola começa a se levantar para ir embora. Dessa forma, Burton dá um toque bastante cru a Frankenweenie, fazendo lembrar um pouco as animações em stop motion mais antigas, o que é muito interessante. Já o modo como o diretor utiliza o 3D é dispensável, porque com exceção de uma cena na qual um gato estica seu pescoço em direção a tela, Burton não consegue fazer a tecnologia funcionar. Mas pelo menos ele faz com que as lentes escuras dos óculos 3D não prejudiquem a fotografia, algo que acontece com vários filmes convertidos para o formato.
Ao longo de Frankenweenie, Tim Burton não se limita apenas a fazer referências a Frankenstein, mas também a várias outras obras. O problema é que às vezes o diretor parece muito mais preocupado em fazer essas referências do que em contar a história. Em determinado momento, por exemplo, o diretor faz com que a cadelinha que serve como interesse amoroso de Sparky vire a cabeça para o lado, apenas para ela mostrar as mechas brancas de seu pelo, lembrando obviamente A Noiva de Frankenstein. Em outro momento, o diretor faz em sequência referências a Godzilla, A Múmia (a versão original com Boris Karloff) e Gremlins. É divertido ver tais homenagens na tela, mas é lamentável que acabem servindo mais como distração por serem inseridas no filme muito escancaradamente.
Além disso, o modo como a história é esticada para fazer de Frankenweenie um longa-metragem dá espaço a personagens pouco interessantes, como os colegas de Victor, que passam a incomodar o personagem a partir de determinado momento por um motivo muito bobo: a Feira de Ciências da escola, que acaba sendo apenas uma desculpa para desencadear uma série de acontecimentos. Aliás, não só o filme tem esses personagens desinteressantes como também tem outros descartáveis, como Shelly, garota que aparece na história fazendo coisas que não acrescentam nada muito importante à trama.
Mas se tais personagens ganham mais espaço, o mesmo acontece com a grande força de Frankenweenie, que se encontra na amizade de Victor e Sparky. O relacionamento que eles têm um com o outro é tratado com sensibilidade por Tim Burton e ambos os personagens são muito carismáticos. Além disso, é fácil se identificar com Victor, já que qualquer um que perdeu um ente querido gostaria de trazê-lo de volta de alguma maneira. As melhores cenas do filme são protagonizadas pelos dois personagens, sejam os divertidos momentos que Sparky tem com sua amada ou a parte do experimento que ressuscita o cão. E por nos importarmos com esses personagens, algumas cenas se tornam bastante tensas, algo que Burton também consegue fazer muito bem, principalmente no terceiro ato.
Em resumo, a história de Frankenweenie parece funcionar muito melhor em seu formato de curta-metragem. Com esse filme, Tim Burton fecha seu 2012 da mesma forma que começou: com uma obra que apesar de conseguir divertir, está longe de ser um de seus melhores trabalhos.
Cotação:

2 comentários:

Márcio Sallem disse...

Não concordo que o gato esticar o pescoço em direção à tela seja um bom uso do 3D, pelo contrário, representa o mal-uso da técnica que prefere lançar coisas na direção do espectador do que trabalhar profundidade de campo e espaço. Mas concordamos no restante da crítica, o elemento emocional é interessante e sensível o bastante para sustentar o excesso de referências pouco orgânicas da narrativa.

Thomás R. Boeira disse...

Olá, Márcio!
Eu concordo com você. Ficar jogando coisas na tela é um péssimo jeito de usar o 3D. O que eu quis dizer é que essa cena do gato foi o único momento no qual dá pra perceber a tecnologia sendo usada de alguma maneira. ;)