quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Curvas da Vida

A carreira de Clint Eastwood como ator é composta em sua maioria por tipos durões, carrancudos, com os quais o público simpatiza quase que imediatamente. Desde o Homem Sem Nome (da Trilogia dos Dólares), passando pelo policial Harry Callahan (da franquia Dirty Harry) e chegando a Walt Kowalski (de Gran Torino), o ator acabou ficando conhecido por essa sua persona cinematográfica. Quatro anos após dizer que não atuaria mais e que ficaria apenas com seus trabalhos como diretor, Eastwood retorna para adicionar mais um personagem durão para sua coleção. Mas por mais interessante que seja revê-lo em frente às câmeras dessa forma, é uma pena que tal retorno aconteça em um filme tão formuláico e bobinho como esse Curvas da Vida.
Escrito pelo estreante Randy Brown, Curvas da Vida nos apresenta a Gus Lobel (Eastwood), veterano olheiro de beisebol que já está no final de seu contrato com o Atlanta Braves. É quando ele começa a ter problemas de visão graças a um glaucoma, o que começa a comprometer seu trabalho. À pedido do melhor amigo dele, Pete (John Goodman), a filha de Gus, Mickey (Amy Adams), tira alguns dias de seu trabalho como advogada e segue o pai para ajudá-lo em uma viagem à Carolina do Norte. Lá, ele deve avaliar o arrogante Bo Gentry (Joe Massingill), uma das grandes promessas do beisebol, algo que pode resultar na demissão de Gus caso ele não faça seu trabalho direito.
Marcando a estreia na direção de Robert Lorenz (que trabalhou como assistente de Eastwood em filmes como Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro), Curvas da Vida inicia de maneira interessante ao mostrar, através de um travelling, as várias fotos de Gus em seus tempos de glória, terminando isso com o personagem não conseguindo urinar direito. Isso deixa bem claro que muita coisa mudou desde aquela época. E esse é o momento mais inspirado da direção de Lorenz. No resto, além de esbarrar em um roteiro bastante problemático, o diretor ainda trata um dos elementos mais importantes da história (a relação entre Gus e Mickey) com muita frieza, o que até impede que o filme se torne mais envolvente.
O roteiro de Randy Brown segue a fórmula básica de apresentar os elementos do filme, desenvolvê-los e incluir conflitos na história para causar algum tipo de impacto. No entanto, a única coisa que ele consegue fazer é tornar o filme clichê e previsível. Além disso, apesar de Gus surgir várias vezes tropeçando em objetos e tendo dificuldades para abrir a porta de casa, o problema de visão dele ganha importância apenas quando necessário, chegando até mesmo a sumir pouco antes do terceiro ato. Além disso, durante todo o filme, o roteirista tenta passar a ideia de que Gus abandonou Mickey quando criança. Mas para alguém que se sente abandonada e ignorada, a garota aprendeu muita coisa com o pai, sendo durona como ele e sabendo absolutamente tudo sobre beisebol.
Ao mesmo tempo em que precisa lidar com o relacionamento entre o protagonista e sua filha, o roteiro também desenvolve o romance entre ela e Johnny Flanagan (Justin Timberlake), ex-jogador que foi descoberto por Gus, mas que agora trabalha como olheiro. No entanto, apesar do carisma da sempre interessante Amy Adams e de Justin Timberlake, essa parte do filme é enrolada demais. E quando parece ter sido bem resolvida, um conflito bobo e desnecessário é incluído apenas para colocar um pouco mais de drama a história, o que acaba sendo irritante e faz com que a narrativa fique ainda mais aborrecida.
Por ter o carisma de Clint Eastwood, Gus consegue prender a atenção do espectador, mesmo sendo uma figura que não lida muito bem com as novas tecnologias na idade em que se encontra, o que o torna comum a personagens de outros filmes (John McClane na franquia Duro de Matar é sempre o primeiro que me vem à cabeça). No entanto, é uma grata surpresa ver que o roteiro não tenta causar algum tipo de choque ideológico entre Gus e Johnny, sendo o primeiro um olheiro à moda antiga enquanto que o segundo está a recém começando na profissão e aberto aos novos tempos.
Sendo até mais longo do que o necessário, Curvas da Vida é um filme no qual Clint Eastwood parece retornar mais como um favor ao seu ex-assistente do que por qualquer outra coisa. Caso ele volte a atuar em mais algum filme, esperemos que seja em algo melhor. Seria triste ver Eastwood encerrar sua carreira de ator com esse filme.
Cotação:

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