sábado, 5 de setembro de 2015

The Death of "Superman Lives": What Happened?

(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)

Em uma época na qual Batman estava sendo cinematograficamente sepultado graças aos filmes dirigidos por Joel Schumacher, circulava na Warner o projeto de trazer Superman de volta às telonas, anos depois do fracasso de Superman IV: Em Busca da Paz. Intitulado Superman Lives, o filme seria dirigido por Tim Burton, ao passo que Nicolas Cage havia sido o escolhido para encarnar o Homem de Aço. A produção estava quase pronta para começar seus trabalhos em frente às câmeras quando, repentinamente, foi cancelada pelo estúdio, mantendo o herói longe dos cinemas por mais alguns anos (ele só voltaria em 2006, com o fraco Superman: O Retorno). Mas o projeto nunca foi totalmente esquecido, como prova este The Death of “Superman Lives”: What Happened?, documentário feito por Jon Schnepp.

No filme, Schnepp busca investigar como Superman Lives seria, o que poderia ter representado e os motivos que levaram ao seu cancelamento. Para isso, o diretor tem acesso irrestrito a praticamente todo o material de pré-produção do filme, desde artes conceituais e vídeos de testes de figurino até os três roteiros que foram desenvolvidos, além de entrevistar grande parte dos envolvidos no projeto, como Tim Burton e os roteiristas Kevin Smith, Wesley Strick e Dan Gilroy.
É um ótimo material de bastidores, e a partir dele o documentarista consegue explorar bem o processo criativo do projeto frustrado, mostrando a visão que havia por trás da história e até que ponto os produtores controlavam seu desenvolvimento. Esse detalhe, aliás, rende um momento divertido no qual Kevin Smith fala das regras impostas pelo produtor Jon Peters. Mas um dos méritos de The Death of “Superman Lives” é mostrar que, por mais inusitadas que fossem certas escolhas para aquele filme, este ainda poderia ter sido interessante. A maneira existencialista como Tim Burton queria abordar o herói fazia sentido (por coincidência ou não, a ideia veio a ser explorada no recente O Homem de Aço), enquanto que Nicolas Cage parecia capaz de dar conta do papel e toda a equipe técnica estava empenhada em realizar algo que fizesse jus ao herói. Aliás, é visível o quão marcante a produção foi para seus envolvidos, que sentem uma clara frustração por terem visto seu trabalho ser jogado fora. Tim Burton, por exemplo, chega a dizer que fica meio depressivo só de pensar nele.
No entanto, apesar da riqueza do material, é lamentável que Jon Schnepp quase sabote o próprio filme ao se revelar parte da escola Morgan Spurlock de documentaristas (e não é surpresa ver o nome do diretor de Super Size Me, 2004, listado entre os produtores associados). Ao longo de The Death of “Superman Lives”, o realizador mostra um desejo compulsivo de aparecer, surgindo na tela quase o tempo todo, como ao ficar ao lado de seus entrevistados durante as conversas, de forma que em determinados momentos ele até parece chamar atenção para si mesmo, como se estivesse tentando se inserir em uma história da qual não faz parte. O ápice do egocentrismo de Schnepp ocorre quando Jon Peters precisa atender um telefonema e vemos o diretor aproveitar para beber água, algo que não tem nada a ver com o filme, não servindo nem por um lado cômico e pausando a narrativa desnecessariamente.
Superman Lives poderia ter sido uma bomba homérica ou poderia ter adiantado o impacto causado por Batman nas mãos de Christopher Nolan. Nunca saberemos ao certo, e a curiosidade com relação a isso é frustrante, principalmente se considerarmos que o dinheiro gasto com grandes fracassos poderia ter sido usado nele. Resta nos contentarmos com o fato de sua história ao menos render um documentário satisfatório, mas que certamente seria mais interessante nas mãos de um cineasta com um pouco mais de noção.
Nota:


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