segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Destino de Júpiter

Desde que decepcionaram com o final de sua trilogia Matrix, os irmãos Andy e Lana Wachowski passaram a ser incrivelmente subestimados. Desde então, a dupla realizou os excelentes Speed Racer e A Viagem, obras que fazem jus a inventividade que os tornou famosos no início da carreira, mas que fracassaram diante do público e da maior parte da crítica quando lançados. Dito isso, eles voltam neste O Destino de Júpiter, cujos problemas o tornam um tanto irregular, mas isso não chega a impedi-lo de ser um entretenimento eficiente durante suas duas horas de duração.

Escrito pelos próprios Wachowski, O Destino de Júpiter nos apresenta a Júpiter Jones (Mila Kunis), que tem uma vida entediante trabalhando como faxineira para ajudar sua família. Mas quando o licomutante Caine Wise (Channing Tatum) chega a Terra e salva a garota de seres alienígenas que querem mata-la, ela descobre ser a herdeira do trono do planeta, algo cobiçado pela família Abrasax, formada pelos irmãos Balem (Eddie Redmayne), Kalique (Tuppence Middleton) e Titus (Douglas Booth), cada um tendo seu próprio interesse na herança. É então que Júpiter, ao lado de Caine, se vê no meio de um jogo de intrigas e poder que definirá o futuro da Terra, não sabendo exatamente em quem pode confiar.

O Destino de Júpiter conta com alguns elementos que os Wachowski já haviam trabalhado em suas obras anteriores, desde a pessoa que mudará o curso do universo (Matrix) até o conceito de os humanos serem usados como colheita (de novo Matrix), passando pela ação frenética (Speed Racer) e pela ideia da reencarnação (A Viagem). A diferença é que dessa vez esses elementos entram em uma história bem lugar-comum, sem dúvida a menos criativa que os irmãos cineastas já desenvolveram, ainda que o universo que eles concebam seja impressionante em seu visual e sua grandiosidade, num ótimo trabalho de design de produção. E se os diálogos expositivos incomodam um pouco mesmo sendo inevitáveis considerando tudo o que a trama tem que apresentar, até podem ser perdoados diante de alguns clichês batidos e que são difíceis de engolir, como quando vemos uma personagem tossir (sinal imediato de doença) ou o típico beijo que ocorre em meio ao caos.

Mas, mesmo com esses problemas, o filme ainda se mostra capaz de divertir, com os Wachowski comandando as várias cenas de ação com sua firmeza habitual, criando sequências empolgantes em sua energia, merecendo destaque aquela em que Júpiter e Caine são perseguidos por caçadores de recompensa pelos céus de Chicago. Além disso, a narrativa em si tem um tom leve e descontraído, aspecto que ajuda a torna-la cativante, o que chega ao ápice na cena divertidíssima em que Júpiter passa por uma grande burocracia para receber o título de sua herança, naquele que é o melhor momento do filme.

Enquanto isso, a bela Mila Kunis tem um bem-vindo carisma que faz de Júpiter uma figura interessante, característica que a atriz compartilha com Channing Tatum, que interpretando Caine se sai muito bem como herói de ação, e se o romance entre ele e Júpiter é suportável em seu desenvolvimento meio bobo é porque eles contam com intérpretes agradáveis. Já Sean Bean tem uma bela presença como Stinger Apingi, personagem que ajuda a dupla principal ao longo da história, ao passo que Eddie Redmayne merece créditos por seus esforços para dar a Balem um ar de superioridade e ameaça. Mas infelizmente tais atributos nunca se concretizam narrativamente, o que até se deve mais ao roteiro do que a própria composição do ator.

O Destino de Júpiter em determinados momentos dá a impressão de ser uma produção feita às pressas. Mas é uma obra que encontra em suas qualidades força o suficiente para compensar seus tropeços, representando um trabalho satisfatório na carreira de seus talentosos diretores.

Nota:

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