Logo no início de Cássia, pessoas próximas a Cássia
Eller, como Deborah Dornellas e Nando Reis, falam de um ponto forte que lembram
da amiga. Entre tantas coisas admiráveis, o que eles ressaltam neste momento é o
brilhantismo dela no palco enquanto fazia aquilo que amava. É então que vemos
imediatamente uma parte de um show de Cássia Eller cantando com sua voz
magistral, e é impossível sentir outra coisa senão arrepios diante da presença
magnética da cantora, que através de uma carta ainda nos deixa avisados: “Você
vai se impressionar quando me ouvir cantar”. É um início simplesmente perfeito
para o filme, e daí pra frente ele só melhora.
Dirigido pelo gênio Paulo
Henrique Fontenelle (o mesmo responsável pelos excepcionais Loki: Arnaldo Baptista e Dossiê Jango), Cássia é um documentário que busca tocar tanto no lado artista de
Cássia Eller quanto em seu lado pessoal e puramente humano. Com todo o material
que tem em mãos, desde as entrevistas concedidas pela cantora até videoclipes e
apresentações em shows ou em programas de televisão, Fontenelle faz um retrato
bastante completo e que não deixa de servir como uma belíssima homenagem.
Durante o filme somos
apresentados a uma Cássia Eller que até podia ser conhecida por sua intensidade
em cima do palco, diante de milhares de pessoas, e também por seu jeito mais
selvagem. Mas por trás disso havia uma grande sensibilidade e uma timidez doce
e até mesmo divertida, que contribuía muito para o encanto que se criava em volta
dela e não travava sua coragem artística, como afirma Oswaldo
Montenegro. Como se não bastasse, a partir do nascimento de Francisco, o único
filho de Cássia, também conhecemos a mãe afetuosa e atenciosa, que quando
estava em turnê ficava contando os minutos até o momento de se reunir com o
filho e a esposa, Maria Eugênia.
Paulo Henrique Fontenelle, que se
confirma cada vez mais como um dos melhores documentaristas da atualidade, cria
uma fluidez admirável entre os assuntos que busca tratar ao longo da vida de
Cássia Eller, desde o uso de drogas, passando por relacionamentos, principais
trabalhos, parcerias, as sérias dificuldades financeiras, o auge da carreira e
chegando até sua morte precoce em 2001, aos 39 anos, graças a um infarto do
miocárdio (e não uma overdose como boa parte da imprensa declarou na época),
além da luta entre seu pai ausente e Maria Eugênia pela custódia de Francisco.
Tudo isso é mostrado pelo diretor com uma honestidade arrebatadora, evitando
uma espécie de hagiografia da cantora, detalhe que acaba sendo essencial ao
filme quando levamos em conta que Cássia Eller não tinha vergonha de ser ela
mesma, e se as pessoas gostassem dela seria aceitando-a do jeito que ela era, e
não apenas por conta de seu imenso talento.
Cássia Eller pode até dizer no
início do filme que vamos nos impressionar quando ouvi-la cantar. Mas a verdade
é que, com o que Paulo Henrique Fontenelle mostra aqui, nós não nos
impressionamos apenas com este aspecto dela, já que se tratava de uma figura
admirável em vários outros sentidos. Dessa forma, Cássia é um documentário que merece todos os aplausos por fazer jus
a uma mulher que conseguiu deixar um legado inesquecível e uma saudade
insuprível em muitas pessoas.
Nota:
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