sábado, 18 de outubro de 2014

O Juiz

Há filmes que parecem ser feitos sob medida para tentar agradar o público. O problema é que muitas produções que buscam fazer isso se arriscam pouco, resultando em trabalhos genéricos e com convenções que o espectador já está cansado de ver. O Juiz, infelizmente, segue essa linha, o que piora se considerarmos o fato de ele até subestimar a inteligência do público, desperdiçando o elenco talentoso no processo.

Escrito por Bill Dubuque e Nick Schenk a partir do argumento escrito por este último em parceria com o diretor David Dobkin, O Juiz segue Hank Palmer (Robert Downey Jr.), advogado muito bem sucedido profissionalmente em Chicago, mas que agora está em processo de divórcio. É então que ele se vê obrigado a voltar para sua cidade-natal, Carlinsville, para o enterro de sua mãe. Lá, ele reencontra seus irmãos Glen e Dale (Vincent D’Onofrio e Jeremy Strong), a ex-namorada Samantha Powell (Vera Farmiga) e o juiz Joseph Palmer (Robert Duvall), o pai com quem ele cortou relações antes de ir embora. Quando Hank pensa que sua passagem pela cidade será fácil, Joseph acaba sendo preso pelo assassinato de um antigo réu, precisando então de um advogado competente para defendê-lo.

“Protagonista precisa voltar para sua cidade-natal por algum motivo e é obrigado a enfrentar os demônios do passado”. É uma história que já foi contada várias vezes e ainda é capaz de render belos filmes. Mas O Juiz a segue de forma tão clichê que é possível prever boa parte das coisas que acontecem ao longo da narrativa antes de fechar a primeira hora de projeção, o que é grave principalmente se levarmos em conta que o filme tem 140 minutos de duração. Até por isso é irritante que o roteiro enrole muito a história com subtramas bobas (como aquela envolvendo Carla, a filha de Samantha vivida por Leighton Meester) e personagens que não têm relevância para a trama (o advogado C.P. Kennedy, interpretado Dax Shepard). Além disso, é impressionante como o desenvolvimento da trama é esquemático com relação a alguns elementos. Quando ficamos sabendo que um personagem está doente, por exemplo, isso é jogado forçadamente, já que ele não dá sinais disso. Sinais estes que, é claro, aparecem a partir do momento em que alguém diz que a doença se agravou.

Com um roteiro tão fraco, não é surpresa constatar que tudo é conduzido sem imaginação por David Dobkin (o mesmo de Penetras Bons de Bico), que investe em detalhes óbvios, como o plano em que vemos Hank e Joseph irem para lados contrários depois de uma briga, e não consegue impedir que o filme caia no melodrama, seja em cenas mais sentimentais ou nas grandes discussões entre os personagens (o terceiro ato chega a ser triste de se acompanhar nesse sentido). Como se não bastasse, Dobkin ainda tem como diretor de fotografia um Janusz Kaminski afetado demais, que joga uma luz forte na tela para criar uma espécie de aura em volta dos personagens, mas faz ela se destacar mais do que qualquer outra coisa, o que não ajuda a narrativa em nada. No entanto, Dobkin merece créditos por ao menos fazer com que certos momentos de humor funcionem, e nisso o destaque fica por conta da cena em que Hank escolhe o júri que participará do julgamento de seu pai.

Todos os problemas são ainda mais lamentáveis quando se tem em mãos um elenco tão bom, que torna os personagens simpáticos o bastante que o filme não fique entediante. A começar por Robert Downey Jr., que tem em Hank um papel que aproveita seu tipo arrogante, mas carismático, o que torna difícil não gostar dele mesmo quando não concordamos com seus atos. Já o veterano Robert Duvall impõe a autoridade de Joseph com naturalidade, além de encarnar eficientemente o cansaço e a confusão que o personagem sente pontualmente. Pra fechar, apesar de não serem tão bem aproveitados, Vera Farmiga, Vincent D’Onofrio, Billy Bob Thornton e Jeremy Strong têm presenças interessantes em papeis menores.

No fim, O Juiz é um filme que pensa ser grande coisa, e toda essa pretensão apenas contribui para torna-lo decepcionante. E é uma pena ver tantos bons nomes envolvidos em um projeto tão sem graça.

Nota:

2 comentários:

Brenno Bezerra disse...

Ansioso para ver os dois Roberts. Acho que posso me impressionar com ambos.

Anônimo disse...

Um desperdicio de filme, uma tentativa fraquissíma de incrementar em um roteiro parecido com "Album de família"! Melodramático! Péssima direção, com cenas clichês e desnecessárias (A cadeira no final, os dois andando em direção contrária, o furacão que não serviu para nada!), Nenhum, mas nenhum conhecimento de como é um julgamento... a hora em que eles falam sobre a própria vida no tribunal por uns 4 minutos, como se isso fosse aceitável... Falha como drama, mas o que incomoda mesmo são as escolhas da direção... Risível