No início do ótimo Invocação do Mal, víamos o casal Ed e
Lorraine Warren concluindo o caso da boneca Annabelle, o que em parte servia
para apresentar os personagens para o público. Mas toda a história envolvendo a
boneca é famosa entre os casos ditos sobrenaturais, tendo potencial para ganhar
um filme. Considerando o sucesso de Invocação
do Mal, não é surpresa ver isso acontecer neste spin-off, Annabelle, que
se revela capaz de render alguns bons sustos, apesar de não ser grandes coisas.
Escrito por Gary Dauberman, Annabelle se passa no fim da década de
1960 e nos apresenta ao jovem casal John e Mia Gordon (Ward Horton e Annabelle Wallis,
respectivamente), que estão esperando seu primeiro filho. Na noite em que John
presenteia Mia com a boneca de porcelana que faltava para ela completar sua
coleção, eles são atacados pela filha de seus vizinhos e o namorado dela, que
fazem parte de um culto satânico e são mortos antes de conseguirem fazer algo devastador.
Por Mia ter visto a garota morrer enquanto segurava sua boneca, ela decide se
desfazer do presente, mas isso não se mostra tão fácil e coisas assombrosas
passam a infernizar ela, John e o bebê que vem a nascer pouco tempo depois.
Em um comentário óbvio, há de se
ressaltar que a pessoa que compra uma boneca feia como essa vista no filme
basicamente está pedindo para ser amaldiçoada. Mas é verdade que temos que
compreender que se uma boneca de pano bonitinha fosse usada (e a Annabelle do
caso real no qual a história se baseia segue esse estilo), isso certamente não
teria um efeito tão eficiente em uma produção que pretende assustar o público.
Liberdades criativas à parte, Annabelle
se prejudica ao se sustentar demais em clichês, diferente de Invocação do Mal, que soube usar esses
detalhes a seu favor. Assim, é fácil se cansar da mania que Mia tem de ficar
sozinha em casa com o bebê e as assombrações enquanto John trabalha, além dos
momentos em que ela anda por um lugar pouco iluminado.
Enquanto isso, a história
desenvolvida pelo roteiro não é das melhores, sendo que às vezes ele soa óbvio,
como quando os personagens passam a tentar descobrir o que as presenças
demoníacas realmente querem. Aliás, para uma produção que parece se rodear em
volta da boneca Annabelle, ela é a figura menos utilizada para causar as
assombrações, e o roteiro parece ter noção disso, lembrando-se dela pontualmente
para poder seguir sua premissa de boneca amaldiçoada. Para completar, o filme
tem diálogos muito expositivos que mastigam a trama para o espectador, usando para
isso principalmente a bibliotecária vivida por Alfre Woodard, e também conta
com outras falas que parecem ter saído de um livro de autoajuda, sendo proferidas
pelo Padre Perez interpretado por Tony Amendola.
Mesmo assim, o cineasta John R.
Leonetti ainda consegue criar uma atmosfera de tensão que mantém o espectador
envolvido no filme durante a maior parte do tempo, o que se deve até a
expectativa que ficamos com relação aos sustos. Nesse aspecto, por sinal, Leonetti
não chega a causar tantos pulos na cadeira, mas os poucos que ocorrem são
bem-vindos e até divertem dentro do gênero (destaque para a cena em que uma
criança corre em direção a Mia). E apesar de Annabelle Wallis e Ward Horton são
serem tão talentosos, eles ao menos têm carisma o suficiente para que possamos
nos importar com o destino de seus personagens.
Trazendo ainda uma resolução meio
covarde para sua história, Annabelle
é um spin-off que certamente não chega
a ser tão bom quanto Invocação do Mal.
Mas ao menos se estabelece como um passatempo interessante com sua premissa. O
que não deixa de ser lucro levando em conta que o filme foi feito mais para
aproveitar o sucesso recente de seu original.
Nota:
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