terça-feira, 29 de julho de 2014

Guardiões da Galáxia

Homem de Ferro, Hulk, Thor, Capitão América. Até agora a Marvel construiu seu universo cinematográfico em cima de alguns de seus personagens mais populares. Sendo assim, um filme dos Guardiões da Galáxia, um grupo de heróis que não é tão conhecido, não deixa de ser uma aposta arriscada por parte do estúdio, e provavelmente só foi feita porque as produções baseadas nos quadrinhos da editora vêm se tornando um sucesso absoluto nas bilheterias. No entanto, uma bela joia pode ser encontrada onde menos se espera, e é exatamente isso que acontece com o filme comandado por James Gunn (responsável pelo divertido Seres Rastejantes e pelo eficiente Super). E se entrei no cinema sabendo quase nada sobre os personagens daquele novo universo, posso dizer que saí de lá querendo saber mais coisas sobre eles.

Escrito pelo próprio James Gunn em parceria com Nicole Perlman, Guardiões da Galáxia acompanha o saqueador Peter Quill (Chris Pratt), também conhecido como Senhor das Estrelas, que em uma de suas expedições pelo espaço rouba um orbe sem saber que este é objeto de desejo de vários indivíduos, sendo um deles o temido Ronan (Lee Pace), que ao lado de seu mestre Thanos (que apareceu na cena pós-créditos de Os Vingadores) é responsável por destruir muitas vidas. Entre elas estão as de Gamora (Zoe Saldana), filha adotiva de Thanos, e Drax (Dave Bautista), que ao lado do guaxinim falante Rocket (voz de Bradley Cooper) e seu parceiro-árvore Groot (voz de Vin Diesel) se juntam a Quill para, inicialmente, tirar proveito do preço do orbe. Mas quando este se mostra incrivelmente poderoso e eles passam a ser caçados por Ronan, o grupo faz de tudo para que o objeto não caia nas mãos do sujeito, que ameaça destruir a galáxia.

Tendo como um de seus principais objetivos apresentar os personagens e o universo do qual eles fazem parte, o roteiro esbarra várias vezes em diálogos expositivos que não surgem muito organicamente na narrativa. Quando Drax aparece em cena pela primeira vez, por exemplo, as palavras que saem de sua boca tratam de estabelecer quem ele é e suas motivações. Mas se o filme tem alguns problemas com relação a isso, James Gunn e sua equipe compensam ao conceber todo aquele universo brilhantemente. Desde o design de produção, passando pela maquiagem e chegando aos efeitos visuais, Guardiões da Galáxia se revela tecnicamente irrepreensível, sendo que a variedade de seres que desfilam pela tela e de lugares por onde passamos (como o planeta Knowhere) fazem jus a sagas intergalácticas como Star Wars e Star Trek. Além disso, o visual repleto de cores quentes combina com a grande energia do filme, já que ele se concentra muito na tarefa de divertir o público.

E como diverte. O roteiro aproveita que tem em mãos personagens com personalidades completamente diferentes e desenvolve gags que se encaixam muito bem na dinâmica entre eles, seja o modo literal como Drax trata certas metáforas, o jeito sarcástico de Rocket ou a ingenuidade de Groot. Mas não é só com isso que o filme consegue fazer graça, já que ele traz outras ótimas sacadas (como a menção a Footloose) e ainda conta com uma excelente seleção musical que ajuda a ditar o tom alegre da produção (logo no início, por exemplo, Peter Quill aparece dançando ao som de “Come and Get Your Love”, o que dá uma boa ideia do que veremos ao longo da projeção). É verdade que em determinados momentos o filme parece desesperado para causar o riso, mas isso não chega a incomodar quando 90% do divertimento funcionam tão bem.

Mas Guardiões da Galáxia provavelmente não seria tão eficiente caso seus personagens não fossem tão bons. Nisso, é bom constatar o carisma de todos e como o relacionamento deles soa natural e agradável, apesar de ser desenvolvido de um jeito comum. E se Chris Pratt demonstra segurança como Peter Quill, Zoe Saldana faz de Gamora a personagem mais séria do grupo, mas não menos interessante, ao passo que Dave Bautista surpreende ao equilibrar a raiva de Drax com a parte divertida do sujeito. Já a dupla Rocket e Groot podem até ter sido criada por computador, mas há de se ressaltar que em momento algum eles parecem figuras falsas na tela, tendo ainda a sorte de contarem com o ótimo trabalho vocal de Bradley Cooper e Vin Diesel. Se o primeiro contribui muito para o jeito escrachado de ser do guaxinim, o segundo tem uma tarefa mais complicada ao ter que repetir uma mesma frase ao longo de quase todo o filme, e é admirável que o ator consiga mostrar que em cada uma das vezes Groot está falando algo diferente.

Trazendo ainda sequências de ação muito bem conduzidas por James Gunn (destaque para a empolgante e divertida fuga de uma prisão, além do belo terceiro ato), Guardiões da Galáxia é uma grata surpresa em meio às produções que a Marvel vem realizando. Um filme que consegue fazer o espectador sair do cinema com um sorriso no rosto, até porque este fica sabendo imediatamente que “Os Guardiões da Galáxia retornarão”.

Obs.: Há uma cena após os créditos finais.

Nota:

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