Homem de Ferro, Hulk, Thor,
Capitão América. Até agora a Marvel construiu seu universo cinematográfico em
cima de alguns de seus personagens mais populares. Sendo assim, um filme dos
Guardiões da Galáxia, um grupo de heróis que não é tão conhecido, não deixa de
ser uma aposta arriscada por parte do estúdio, e provavelmente só foi feita
porque as produções baseadas nos quadrinhos da editora vêm se tornando um
sucesso absoluto nas bilheterias. No entanto, uma bela joia pode ser encontrada
onde menos se espera, e é exatamente isso que acontece com o filme comandado
por James Gunn (responsável pelo divertido Seres Rastejantes e pelo eficiente
Super). E se entrei no cinema sabendo quase nada sobre os personagens daquele
novo universo, posso dizer que saí de lá querendo saber mais coisas sobre eles.
Escrito pelo próprio James Gunn
em parceria com Nicole Perlman, Guardiões da Galáxia acompanha o saqueador
Peter Quill (Chris Pratt), também conhecido como Senhor das Estrelas, que em
uma de suas expedições pelo espaço rouba um orbe sem saber que este é objeto de
desejo de vários indivíduos, sendo um deles o temido Ronan (Lee Pace), que ao
lado de seu mestre Thanos (que apareceu na cena pós-créditos de Os Vingadores)
é responsável por destruir muitas vidas. Entre elas estão as de Gamora (Zoe
Saldana), filha adotiva de Thanos, e Drax (Dave Bautista), que ao lado do
guaxinim falante Rocket (voz de Bradley Cooper) e seu parceiro-árvore Groot
(voz de Vin Diesel) se juntam a Quill para, inicialmente, tirar proveito do
preço do orbe. Mas quando este se mostra incrivelmente poderoso e eles passam a
ser caçados por Ronan, o grupo faz de tudo para que o objeto não caia nas mãos
do sujeito, que ameaça destruir a galáxia.
Tendo como um de seus principais
objetivos apresentar os personagens e o universo do qual eles fazem parte, o
roteiro esbarra várias vezes em diálogos expositivos que não surgem muito
organicamente na narrativa. Quando Drax aparece em cena pela primeira vez, por
exemplo, as palavras que saem de sua boca tratam de estabelecer quem ele é e
suas motivações. Mas se o filme tem alguns problemas com relação a isso, James
Gunn e sua equipe compensam ao conceber todo aquele universo brilhantemente.
Desde o design de produção, passando pela maquiagem e chegando aos efeitos
visuais, Guardiões da Galáxia se revela tecnicamente irrepreensível, sendo que
a variedade de seres que desfilam pela tela e de lugares por onde passamos
(como o planeta Knowhere) fazem jus a sagas intergalácticas como Star Wars e
Star Trek. Além disso, o visual repleto de cores quentes combina com a grande
energia do filme, já que ele se concentra muito na tarefa de divertir o
público.
E como diverte. O roteiro
aproveita que tem em mãos personagens com personalidades completamente
diferentes e desenvolve gags que se encaixam muito bem na dinâmica entre eles,
seja o modo literal como Drax trata certas metáforas, o jeito sarcástico de
Rocket ou a ingenuidade de Groot. Mas não é só com isso que o filme consegue
fazer graça, já que ele traz outras ótimas sacadas (como a menção a Footloose) e
ainda conta com uma excelente seleção musical que ajuda a ditar o tom alegre da
produção (logo no início, por exemplo, Peter Quill aparece dançando ao som de
“Come and Get Your Love”, o que dá uma boa ideia do que veremos ao longo da
projeção). É verdade que em determinados momentos o filme parece desesperado
para causar o riso, mas isso não chega a incomodar quando 90% do divertimento
funcionam tão bem.
Mas Guardiões da Galáxia provavelmente
não seria tão eficiente caso seus personagens não fossem tão bons. Nisso, é bom
constatar o carisma de todos e como o relacionamento deles soa natural e agradável, apesar de ser desenvolvido de um jeito comum. E se Chris
Pratt demonstra segurança como Peter Quill, Zoe Saldana faz de Gamora a
personagem mais séria do grupo, mas não menos interessante, ao passo que Dave
Bautista surpreende ao equilibrar a raiva de Drax com a parte divertida do
sujeito. Já a dupla Rocket e Groot podem até ter sido criada por computador, mas
há de se ressaltar que em momento algum eles parecem figuras falsas na tela, tendo
ainda a sorte de contarem com o ótimo trabalho vocal de Bradley Cooper e Vin
Diesel. Se o primeiro contribui muito para o jeito escrachado de ser do guaxinim,
o segundo tem uma tarefa mais complicada ao ter que repetir uma mesma frase ao
longo de quase todo o filme, e é admirável que o ator consiga mostrar que em
cada uma das vezes Groot está falando algo diferente.
Trazendo ainda sequências de ação
muito bem conduzidas por James Gunn (destaque para a empolgante e divertida
fuga de uma prisão, além do belo terceiro ato), Guardiões da Galáxia é uma
grata surpresa em meio às produções que a Marvel vem realizando. Um filme que
consegue fazer o espectador sair do cinema com um sorriso no rosto, até porque
este fica sabendo imediatamente que “Os Guardiões da Galáxia retornarão”.
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