Algo que os responsáveis pelos Muppets gostam de fazer, de vez em
quando, é inseri-los em determinada história clássica, criando assim uma
versão própria da mesma. Logo no início da década de 1990, O Conto de Natal dos Muppets foi bem sucedido dentro desse modelo ao colocar os personagens em Um Conto de Natal, famoso livro de Charles Dickens já adaptado várias vezes para o cinema (a última foi em Os Fantasmas de Scrooge, de Robert Zemeckis). Sendo assim, os produtores decidiram repetir a fórmula no filme seguinte da franquia, Os Muppets na Ilha do Tesouro, que, por sua vez, se utiliza de "A Ilha do Tesouro", clássico de Robert Louis Stevenson. E, novamente, o resultado alcançado não decepciona.
Com roteiro escrito por Jerry Juhl e Kirk R. Thatcher, em parceria com James V. Vart, Os Muppets na Ilha do Tesouro se concentra no jovem órfão Jim Hawkins (Kevin Bishop), que fica sabendo através do pirata Billy Bones (Billy Connolly) da existência de um valioso tesouro. Durante um ataque de piratas, Jim e seus amigos Gonzo e Rizzo pegam o mapa de Bones e se juntam à tripulação comandada pelo Capitão Abraham Smollett (no caso, o sapo Kermit) para tentar encontrar a riqueza. É então que o garoto conhece Long John Silver (Tim Curry), cozinheiro do navio, que passa a protegê-lo das figuras que querem roubar o mapa. Mas Silver também mostra não ser uma figura particularmente confiável.
Assim como acontecia no filme anterior, os Muppets viram coadjuvantes, enquanto os personagens humanos ganham mais importância. Mas isso não muda o espírito “muppetiano” da produção, responsável ao longo da trama pelas típicas brincadeiras que vemos em qualquer aventura desses personagens. Sendo assim, o filme diverte com o jeito meio bobo e ingênuo deles (como na cena em que Gonzo é dolorosamente esticado, mas acha ótimo por ficar mais alto) e com as gags metalinguísticas que surgem ocasionalmente na narrativa (“Ele está morto? Mas este deveria ser um filme infantil! ”, diz Rizzo em dado momento).
Se essa parte é caprichada, o mesmo pode ser dito sobre a escala épica do longa, que o diretor Brian Henson (filho do próprio Jim Henson) conduz muito bem. Utilizando desde a bela fotografia com tons sépia de John Fenner até a trilha grandiosa composta por Hans Zimmer, Henson consegue impor um ritmo que combina perfeitamente com a história. O cineasta também se sai bem nas divertidas cenas de batalha, que ajudam a tornar o terceiro ato um dos melhores momentos do filme. Além disso, o design de produção faz um ótimo trabalho, criando cenários típicos dos Muppets, como o pequeno reino comandado por Benjamina Gunn (ou Miss Piggy, como estamos acostumados).
Já o elenco de carne e osso merece crédito por conquistar a simpatia do espectador. O jovem Kevin Bishop surpreende com seu carisma, algo absolutamente necessário para Jim Hawkins. Ele ainda desenvolve com Tim Curry uma dinâmica interessante de pai e filho, sobretudo pela afeição mútua parecer genuína, tanto que a cena final entre eles acaba muito eficaz e até mesmo tocante. Curry, por sinal, se destaca ao encarnar Long John Silver como um sujeito merecedor de nossa desconfiança constante, e o ator claramente se diverte com essa composição, o que de certa forma acaba sendo um bônus.
Embalado ainda por ótimas canções (destaque para “Shiver My Timbers” e “Sailling For Adventure”), Os Muppets na Ilha do Tesouro se revela uma aventura tão simpática e divertida quanto seus personagens. Em uma cena, Statler e Waldorf (os velhinhos rabugentos da turma) dizem que pior que ficar preso na proa do navio é ficar preso na plateia. No entanto, ver os Muppets em ação em um bom filme é sempre um deleite. A criança que existe dentro de nós agradece.
Nota:
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