terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Matar ou Morrer

(Texto originalmente escrito para a aula de Análise da Produção Audiovisual)
O gênero western é muito mais conhecido por ser aquele em que aparecem os cowboys, os saloons, os “bang-bang”, o cenário desértico, entre outras coisas. Lançado em 1952, Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann, é um dos maiores clássicos do gênero. Mas diferente de outros grandes filmes, como os da Trilogia dos Dólares, de Sergio Leone, este exemplar tem apenas uma cena em que seus personagens trocam tiros, e ela acontece no final do filme. O que se vê em Matar ou Morrer é uma bela história de honra e coragem na qual o protagonista passa por conflitos internos muito interessantes.
Escrito por Carl Foreman, Matar ou Morrer conta a história de Will Kane (Gary Cooper), delegado que está se casando com a bela Amy Fowler (Grace Kelly, em um de seus primeiros papeis no cinema). Depois do casamento, ele é avisado que Frank Miller (Ian MacDonald) inacreditavelmente conseguiu se safar da cadeia, e é esperado por seus capangas (um deles é Lee Van Cleef, por sinal) no trem que chegará ao meio-dia. Querendo ele mesmo encerrar o assunto com Miller, Kane resolve ficar na cidade e enfrentar seu inimigo. Mas a situação piora quando o delegado vê que a população não o ajudará.
Historicamente, Matar ou Morrer começa de forma inédita: usa uma canção-tema, feita especialmente para o filme, na abertura. Quando “Do Not Forsake Me, Oh My Darling” (por sinal, uma belíssima canção que ganhou merecidamente o Oscar, em 1953) começa a tocar, o tom da narrativa já é imposto quase que imediatamente, já que a letra mostra exatamente a situação pela qual Will Kane está passando. Ao mesmo tempo em que quer enfrentar Frank Miller, ele não quer que sua esposa o esqueça, mesmo que ele morra lutando. É uma questão não só dignidade (morro como herói ou fujo e fico conhecido como um covarde), mas também protetora, já que sem ele a cidade fica sem delegado durante um dia inteiro. E sabe-se lá o que os bandidos podem fazer nesse período.
A direção de Fred Zinnemann é absolutamente brilhante. O filme foi feito para dar a impressão de que a história se passa em tempo real. Ela ocorre em um período de tempo de uma hora e quarenta minutos, um pouco acima dos 85 minutos de duração, mas Zinnemann consegue perfeitamente passar esse sentimento. Ao longo do filme, o diretor faz vários enquadramentos em que mostra não só os personagens, mas também um relógio na parede. Isso é algo que traz uma grande tensão para o filme, por que à medida que os ponteiros se aproximam do meio-dia, nós tememos cada vez mais com o que pode acontecer quando Frank Miller chegar.
O grande Gary Cooper ajuda muito a implantar essa atmosfera temerosa. Interpretando Will Kane como o típico bom homem que quer apenas manter a paz em sua cidade, é difícil não gostar do ator e, consequentemente, se importar com o destino do personagem. Sendo assim, quando a cidade começa a se recusar a ajuda-lo na luta contra Frank Miller, nós ficamos tão desesperados quanto o protagonista.
Quando chega a grande cena da luta, Fred Zinnemann brilha mais uma vez ao fazer um zoom out no momento em que Kane está indo em direção aos vilões, algo que mostra que, da maneira em que está, ele é apenas uma formiga fácil de ser abatida. E quando a câmera fica próxima de seu rosto, em primeiro plano, vemos o medo que este homem está sentindo. Já com os vilões, Zinnemann mantém a câmera baixa e próxima deles, em plano de conjunto, algo que os torna maiores do que já aparentam ser, e consequentemente mais ameaçadores perto da “formiga” Kane.
Matar ou Morrer faz ainda uma crítica ao sistema de justiça americano. Apesar de existir corrupção, há pessoas que querem fazer o certo, mas não podem por terem as mãos atadas pela lei. Will Kane como essas pessoas. Além de saber que os bandidos estão soltos, ele sabe quem eles são, mas não pode prendê-los por que não tem justificativa. Esse é um dos motivos para que a maioria população não queira ajuda-lo. A cena na igreja é uma das melhores do filme por mostrar que há pessoas que entendem a situação de Kane, mas não o ajudam por medo.
Matar ou Morrer é o tipo de filme que mostra o porquê de o cinema ser uma arte tão apaixonante. Hoje em dia, é uma pena que existam tão poucos westerns com tamanha qualidade.
Cotação:

2 comentários:

Hugo disse...

A história que rola quase em tempo real dá a dimensão da angústia do personagem de Gary Cooper.

Um dos grandes faroestes da história do cinema.

Abraço

Thomás R. Boeira disse...

Verdade, Hugo. Obrigado pela colaboração.

Abraço