quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O Primeiro Homem


Damien Chazelle ascendeu no cinema com longas que encontravam na arte (majoritariamente na música) um pano de fundo para contar histórias de personagens que precisam ora se superar, ora fazer sacrifícios por seus sonhos (falo, claro, de Whiplash e La La Land). Em O Primeiro Homem, o diretor realiza um filme que encontra certa semelhança com seus trabalhos anteriores. Não pelo pano de fundo musical, claro, mas sim pelo esforço dos personagens para cumprirem seus objetivos, focando dessa vez na jornada que levou a humanidade até a lua, algo que ele conta com um cuidado admirável.

Escrito por Josh Singer (co-roteirista do fantástico Spotlight) a partir do livro de James R. Hansen, O Primeiro Homem nos leva até a década de 1960, período em que Estados Unidos e União Soviética travavam a grande corrida espacial, um dos principais pontos de sua Guerra Fria. É quando passamos a acompanhar o envolvimento de Neil Armstrong (Ryan Gosling) na missão da NASA para chegar á lua, pouco depois de ele e sua esposa, Janet (Claire Foy), terem perdido a filha pequena devido a um câncer.
De maneira muito segura, Damien Chazelle cria uma narrativa que favorece muito a delicadeza ao redor da missão. Assim, além de não ignorar os vários problemas e sacrifícios com os quais Armstrong e o resto da NASA precisam lidar, o diretor dá atenção especial ao cuidado que todos têm a cada passo que dão rumo à lua. O curioso em relação a isso é que, por mais que saibamos o final da história, esse cuidado também acaba servindo para gerar tensão na narrativa, porque qualquer erro na missão pode colocar vidas em risco e pôr tudo a perder. E a própria montagem mais cadenciada de Tom Cross (parceiro habitual do diretor) contribui para dar peso a esse aspecto.


No entanto, se O Primeiro Homem se mostra capaz de envolver o espectador, muito se deve ao drama pessoal do protagonista, detalhe que não deixa de se tornar o fio condutor da história. Usando a morte da filha de Armstrong como ponto de partida, o filme desenvolve ao longo da trama um belo arco dramático de luto e superação, fazendo com que a chegada de Armstrong (e, consequentemente, dos seres humanos de modo geral) à lua ganhe contornos emocionais que se revelam essenciais, já que transformam a missão em algo maior que vencer a corrida espacial. Também é preciso ressaltar aqui o trabalho de Ryan Gosling, que não só encarna com talento a determinação de Armstrong e sua aparente frieza, que cai por chão quando ele se isola das outras pessoas, mas também forma com a ótima Claire Foy um núcleo familiar que aproxima eles do público. Foy que, aliás, merece destaque pela força que traz a Janet, cujos questionamentos sobre a missão ajudam a mostrar as implicações que esta tem na vida pessoal dos personagens.

“Este é um pequeno passo para o homem, e um grande salto para a humanidade” é a famosa frase de Neil Armstrong. Pois levando tais palavras a sério, Damien Chazelle fez em O Primeiro Homem um filme que não faz feio frente a obras similares, como Apollo 13 e Os Eleitos, evitando quaisquer ufanismos e contando com propriedade uma história que indica que não há limites para a ambição humana.



Nota:

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