Universos compartilhados parecem
ter virado moda como modelo de produção para os estúdios, algo até natural
considerando os altos números de bilheteria que tem rendido. Depois de termos
um universo focado em heróis da Marvel, outro nos heróis da DC Comics e outro
com Godzilla e King Kong, agora é a vez de figuras clássicas como Drácula, Monstro
de Frankenstein e Lobisomem ganharem seu próprio mundo particular, projeto que dá
seu ponta pé inicial nesta nova versão de A
Múmia dirigida por Alex Kurtzman, em sua segunda empreitada na função após
fazer seu nome como roteirista ao lado de Roberto Orci. No entanto, nem mesmo
Tom Cruise consegue tornar animador este início da nova franquia.
Escrito por uma galeria de
roteiristas (a versão final do roteiro é creditada a David Koepp, Christopher
McQuarrie e Dylan Kussman, enquanto que o argumento foi concebido por Kurtzman,
Jon Spaihts e Jenny Lumet), A Múmia nos
apresenta a Nick Morton (Cruise), soldado que constantemente corre atrás de
valiosas relíquias, tarefa na qual tem o auxílio do sargento Chris Vail (Jake
Johnson). Ao lado da arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Wallis), a dupla
encontra a tumba da princesa Ahmanet (Sofia Boutella), que foi mumificada e enterrada
viva milhares de anos antes. Mas quando ela acorda destruindo tudo o que
encontra pelo caminho e tendo um interesse particular por Nick, nem ele nem a
Prodigium, organização especializada em estudar e combater o mal e que é liderada
pelo Dr. Henry Jekyll (Russell Crowe), parecem ser capazes de para-la.
Reencarnações, vilã que suga
outras pessoas para recuperar sua forma física, exército de mortos-vivos
perseguindo os mocinhos, casal que se odeia inicialmente, mas gradualmente cria
sentimentos um pelo outro. É praticamente impossível assistir a este A Múmia sem sentir que o roteiro aposta
em clichês que já vimos em outras produções, sejam estas focadas no monstro do
título ou não. Mas esse, na verdade, mostra ser o menor dos problemas do filme,
já que ele pega cada um de seus pontos e os conecta com uma trama que não
poderia ser mais desinteressante, sendo que o roteiro ainda a desenvolve de
maneira bem expositiva para o espectador (como na sequência inicial em que
Henry Jekyll conta a história de Ahmanet ou nas pontuais aparições de Vail) e
trazendo ideias que beiram o ridículo, como as visões que Nick tem ao longo da
projeção.
Enquanto isso, as cenas de ação
são conduzidas de maneira burocrática por Alex Kurtzman, rendendo uma série de momentos
esquecíveis e que tornam difícil para o diretor envolver o público. Nem a principal
sequência do filme, que ocorre com cerca de vinte minutos e é a única que exibe
algum esforço criativo ao focar a queda de um avião, consegue impressionar. Ao
mesmo tempo, o longa exibe um senso de humor que lembra um pouco o tom da
trilogia meia-boca estrelada por Brendan Fraser entre 1999 e 2008 (e que
inclusive é referenciada em determinado momento), mas é um aspecto que acaba
soando excessivamente bobo e forçado, com direito a uma cena em que devemos rir
por Nick sentir cócegas.
Mas o que mais decepciona em A Múmia certamente é seu grande astro.
Já comentei em algumas ocasiões o quanto admiro Tom Cruise como ator, mas aqui
é profundamente frustrante vê-lo em cena sem fazer esforço para criar um
personagem. Seu Nick Morton nada mais é do que uma versão genérica e insossa de
heróis de ação que o ator interpretou ao longo da carreira, não tendo nem um
terço da intensidade e (o que mais espanta) do carisma que sempre marcaram os
trabalhos dele. Já Annabelle Wallis surge inexpressiva como Jenny Halsey, sendo
que sua química com Cruise praticamente inexiste, ao passo que Jake Johnson se
revela particularmente irritante como Vail, cumprindo pobremente a função de
alivio cômico do projeto. E se Sofia Boutella não consegue fazer de Ahmanet uma
vilã ameaçadora, Russell Crowe não tem muitas chances para tornar seu Henry
Jekyll uma figura interessante, servindo apenas para apontar que o universo do
filme é maior do que o que é apresentado aqui, o que só deve ser explorado
futuramente nos outros exemplares da franquia.
Espera-se que A Múmia não seja uma amostra do que
serão os filmes deste novo universo de monstros. Caso contrário, acompanhar
cada um deles promete ser uma experiência cinematográfica triste.
Nota:
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