A cada nova adaptação de um jogo
de videogame para o cinema, há a esperança de que ela não caia no marasmo que
marcou esse tipo de filme no decorrer dos anos, com obras que são recebidas com
paus e pedras ao invés de beijos e abraços. Talvez esta esperança nunca tenha sido
tão grande quanto no momento em que os longas de Warcraft e Assassin’s Creed
entraram em produção. Mas se o primeiro rendeu um filme bem eficiente (sim, estou
no pequeno grupo que o defende), o segundo fica longe de alcançar o mesmo
resultado, contribuindo com a má fama das adaptações de jogos.
Em Assassin’s Creed, uma guerra entre a Irmandade dos Assassinos e os
Templários ocorre há séculos, sendo que durante a Inquisição Espanhola, em 1492,
a disputa entre os dois lados envolveu a Maçã de Éden, objeto que pode dar a
quem o possuir o controle sobre o livre arbítrio. Pulando para os dias atuais, Michael
Fassbender interpreta Callum Lynch, homem condenado à morte, mas cuja execução é
forjada pela Fundação Abstergo, que o recolhe para sua base em Madri para que
ele seja usado em um experimento da cientista Sophia Rikkin (Marion Cotillard),
filha do líder da organização, Alan (Jeremy Irons). Callum descobre ser descendente
do Assassino Aguilar de Nerha (novamente Fassbender), sendo conectado às
memórias deste através de uma máquina chamada Animus e recebendo de Sophia a
tarefa de descobrir onde a Maçã foi escondida em 1492.
Dirigido por Justin Kurzel (do
ótimo Macbeth estrelado por Fassbender
e Cotillard) a partir do roteiro escrito por Michael Lesslie e pela dupla Adam
Cooper e Bill Collage, Assassin’s Creed
se estrutura de um jeito que busca seguir a ideia de um jogo, contando sua
história nos tempos atuais e partindo para a ação do passado pontualmente como se
estas passagens fossem fases a serem vencidas, com tais momentos se encerrando
em cliffhangers na maioria das vezes,
numa tentativa de nos deixar curiosos quanto aos acontecimentos de 1492. O
problema é que é difícil ficar curioso quando o filme não só falha em criar uma
narrativa envolvente como também se estica mais do que o necessário, preferindo
nos mostrar toda a jornada de Aguilar na disputa pela Maçã (o MacGuffin do
roteiro) ainda que a única coisa que interesse nessa parte da trama seja a
localização do objeto, o que apenas evidencia o fiapo de história que o longa
tem em mãos.
Isso acaba servindo mais para
abrir espaço para cenas de ação que mostrem a luta enfrentada pelo antepassado
do protagonista, com Justin Kurzel intercalando as linhas temporais a fim de
mostrar Callum recriando cada passo de Aguilar, como se o personagem estivesse
jogando uma versão avançada do Nintendo Wii (com a diferença de que ele não
controla a ação, e sim a acompanha). Mas mesmo nesse quesito o filme encontra
problemas, já que, por mais que Kurzel se esforce em impor um ritmo ágil ao que
vemos na tela, ele não consegue criar sequências de batalha minimamente interessantes
e que tenham algum peso narrativo.
Para completar, é lamentável ver um
elenco incrivelmente talentoso ser desperdiçado. Ainda que Michael Fassbender,
Marion Cotillard e Jeremy Irons sejam atores muito competentes, a verdade é que
eles não conseguem fazer muita coisa com seus personagens unidimensionais, sem
personalidade e pelos quais não nos importamos nenhum pouco ao longo da
projeção, certamente um dos principais pontos que fazem o filme cair por terra.
No entanto, vale dizer que o trio tem mais sorte que Brendan Gleeson e Charlotte
Rampling, que aqui inexplicavelmente surgem como figurantes de luxo.
Assassin’s Creed até exibe um visual que chama a atenção,
principalmente nas sequências que se passam durante a Inquisição Espanhola. Mas
isso não chega nem perto de compensar o conteúdo pobre e sem vida que o filme
apresenta, sendo triste que em determinados momentos ele claramente pareça mais
preocupado em criar uma franquia no cinema, nos fazendo temer a possibilidade de retomar a história iniciada aqui ao invés de nos deixar
empolgados com isso.
Nota:
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