sábado, 21 de janeiro de 2017

Assassin's Creed

A cada nova adaptação de um jogo de videogame para o cinema, há a esperança de que ela não caia no marasmo que marcou esse tipo de filme no decorrer dos anos, com obras que são recebidas com paus e pedras ao invés de beijos e abraços. Talvez esta esperança nunca tenha sido tão grande quanto no momento em que os longas de Warcraft e Assassin’s Creed entraram em produção. Mas se o primeiro rendeu um filme bem eficiente (sim, estou no pequeno grupo que o defende), o segundo fica longe de alcançar o mesmo resultado, contribuindo com a má fama das adaptações de jogos.

Em Assassin’s Creed, uma guerra entre a Irmandade dos Assassinos e os Templários ocorre há séculos, sendo que durante a Inquisição Espanhola, em 1492, a disputa entre os dois lados envolveu a Maçã de Éden, objeto que pode dar a quem o possuir o controle sobre o livre arbítrio. Pulando para os dias atuais, Michael Fassbender interpreta Callum Lynch, homem condenado à morte, mas cuja execução é forjada pela Fundação Abstergo, que o recolhe para sua base em Madri para que ele seja usado em um experimento da cientista Sophia Rikkin (Marion Cotillard), filha do líder da organização, Alan (Jeremy Irons). Callum descobre ser descendente do Assassino Aguilar de Nerha (novamente Fassbender), sendo conectado às memórias deste através de uma máquina chamada Animus e recebendo de Sophia a tarefa de descobrir onde a Maçã foi escondida em 1492.

Dirigido por Justin Kurzel (do ótimo Macbeth estrelado por Fassbender e Cotillard) a partir do roteiro escrito por Michael Lesslie e pela dupla Adam Cooper e Bill Collage, Assassin’s Creed se estrutura de um jeito que busca seguir a ideia de um jogo, contando sua história nos tempos atuais e partindo para a ação do passado pontualmente como se estas passagens fossem fases a serem vencidas, com tais momentos se encerrando em cliffhangers na maioria das vezes, numa tentativa de nos deixar curiosos quanto aos acontecimentos de 1492. O problema é que é difícil ficar curioso quando o filme não só falha em criar uma narrativa envolvente como também se estica mais do que o necessário, preferindo nos mostrar toda a jornada de Aguilar na disputa pela Maçã (o MacGuffin do roteiro) ainda que a única coisa que interesse nessa parte da trama seja a localização do objeto, o que apenas evidencia o fiapo de história que o longa tem em mãos.

Isso acaba servindo mais para abrir espaço para cenas de ação que mostrem a luta enfrentada pelo antepassado do protagonista, com Justin Kurzel intercalando as linhas temporais a fim de mostrar Callum recriando cada passo de Aguilar, como se o personagem estivesse jogando uma versão avançada do Nintendo Wii (com a diferença de que ele não controla a ação, e sim a acompanha). Mas mesmo nesse quesito o filme encontra problemas, já que, por mais que Kurzel se esforce em impor um ritmo ágil ao que vemos na tela, ele não consegue criar sequências de batalha minimamente interessantes e que tenham algum peso narrativo.

Para completar, é lamentável ver um elenco incrivelmente talentoso ser desperdiçado. Ainda que Michael Fassbender, Marion Cotillard e Jeremy Irons sejam atores muito competentes, a verdade é que eles não conseguem fazer muita coisa com seus personagens unidimensionais, sem personalidade e pelos quais não nos importamos nenhum pouco ao longo da projeção, certamente um dos principais pontos que fazem o filme cair por terra. No entanto, vale dizer que o trio tem mais sorte que Brendan Gleeson e Charlotte Rampling, que aqui inexplicavelmente surgem como figurantes de luxo.

Assassin’s Creed até exibe um visual que chama a atenção, principalmente nas sequências que se passam durante a Inquisição Espanhola. Mas isso não chega nem perto de compensar o conteúdo pobre e sem vida que o filme apresenta, sendo triste que em determinados momentos ele claramente pareça mais preocupado em criar uma franquia no cinema, nos fazendo temer a possibilidade de retomar a história iniciada aqui ao invés de nos deixar empolgados com isso.


Nota:

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