A ideia do primeiro contato entre
humanos e seres extraterrestres surge com certa frequência no cinema, sendo que
em boa parte das vezes ela é usada como ponto de partida para que cineastas
deem vida à reflexões sobre a própria natureza humana. É uma premissa
obviamente ambiciosa e capaz de render obras fascinantes quando bem realizado.
Pois A Chegada se encaixa nisso
perfeitamente. Ao focar os esforços dos humanos em se comunicar com os alienígenas,
esse novo longa do cada vez mais brilhante Denis Villeneuve mostra como essa
nossa habilidade pode de nos levar a evoluir como espécie. Isso, claro, quando
queremos.
Escrito por Eric Heisserer a
partir do conto “História da Sua Vida”, de Ted Chiang, A Chegada nos coloca diante da linguista Louise Banks (Amy Adams), cuja
filha adolescente morreu devido a um câncer. Tendo uma vida solitária e dando
aulas em uma universidade, Louise vê sua rotina mudar no momento em que doze cápsulas
extraterrestres pousam em diferentes pontos do planeta. É quando ela é chamada
pelo coronel Weber (Forest Whitaker) para ir até Montana, onde está uma das
cápsulas, recebendo ali a tarefa de liderar, ao lado do físico Ian Donnelly
(Jeremy Renner), uma equipe que tem como objetivo traduzir a linguagem dos
visitantes e, assim, descobrir qual o propósito deles na Terra.
A partir daí, o roteiro de
Heisserer desenvolve com propriedade a temática comunicacional que rege a maior
parte da trama, sendo que se o trabalho dos personagens com os alienígenas já
se revela difícil por natureza, acaba se tornando ainda mais urgente quando se
vê o caos que se espalha pela sociedade ao redor do mundo, resultado do medo
que as pessoas têm do desconhecido e também da falta de diálogo, detalhe que desencadeia
conflitos que poderiam ser evitados caso a desconfiança não fizesse parte de
nossa natureza, impedindo uma maior união entre os envolvidos no evento que
acompanhamos. Além disso, é notável a crítica certeira que o filme faz a veículos
midiáticos que alimentam o sentimento de pânico com um trabalho nada
informativo, indo contra o propósito que deveriam ter, como pode ser visto em
pequenos momentos como aquele em que um soldado assiste a fala ignorante de um
radialista (certamente inspirado em Rush Limbaugh).
Se nessa parte A Chegada já faz jus à ambição que
exibe, o longa ainda tem a sorte de contar com a direção de Denis Villeneuve,
já que o cineasta tem se mostrado um especialista em criar narrativas que prendem
a atenção do público do início ao fim. Enquanto apresenta um mundo bastante melancólico,
cortesia da fotografia acinzentada de Bradford Young e da trilha de Jóhann
Jóhannsson, Villeneuve mantém o espectador constantemente instigado quanto às
questões levantadas pelo roteiro, algo que melhora principalmente depois de uma
excelente reviravolta que faz o filme ir além da comunicação com os
alienígenas, trazendo reflexões sobre as decisões que tomamos e no que elas
podem resultar. Para completar, o diretor trata com sensibilidade os dramas pessoais
de sua protagonista, sendo hábil também na forma como ressalta a urgência do trabalho
dela ao lado de Ian, o que rende sequências excepcionais como aquela envolvendo
uma ligação telefônica. Aliás, é preciso destacar aqui a excelente montagem de Joe
Walker, que dita muito bem a tensão que toma a tela pontualmente e lida perfeitamente
com a estrutura do roteiro.
Como se não bastasse, o filme
ainda conta com um elenco que encarna seus personagens com uma segurança admirável.
Jeremy Renner, por exemplo, faz de Ian um sujeito inteligente e carismático,
que pode discordar de ideias que lhes são apresentadas (como ocorre logo em sua
primeira cena), mas sem ser uma figura arrogante, tendo algumas de suas crenças
desafiadas no decorrer da trama, ao passo que Forest Whitaker surge eficiente ao estabelecer a autoridade representada pelo Coronel Weber. Mas o filme é mesmo de Amy Adams,
que tem aqui uma de suas melhores atuações interpretando Louise (e ficarei
surpreso caso ela fique de fora da temporada de premiações). Adams cria aqui uma
mulher forte e complexa, que leva uma vida vazia (como vemos em sua casa escura
e com paredes de vidros), mas que encontra em meio a seu contato com os
alienígenas algo capaz de reverter isso, seguindo um arco dramático tocante em
seu desenvolvimento.
A Chegada basicamente é um dos melhores tipos de ficção científica,
sendo um filme que exibe força para arrebatar o espectador não só com as ideias
que apresenta ao longo da trama, mas também com as discussões que promove sobre
a humanidade e as direções que planejamos seguir. Sem dúvida estamos falando de
uma das grandes obras de 2016.
Nota:
Um comentário:
Sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Amy Adams e Jeremy Renner neste filme, já que pela grande experiência que eles têm no meio da atuação fazem com que os seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções, por se acaso você não tenha visto A Chegada trailer essa será uma excelente oportunidade e garanto que você não irá se arrepender.
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