quarta-feira, 4 de novembro de 2015

007 Contra Spectre

Usando a era de Daniel Craig no papel de James Bond para marcar uma espécie de recomeço para a história do personagem, a série 007 tem conseguido fazer uma releitura interessante de si mesma, rendendo em Cassino Royale e Operação Skyfall dois longas que se revelaram memoráveis entre àqueles protagonizados pelo espião (o segundo capítulo, Quantum of Solace, é esquecível perto deles). James Bond ganhou um novo fôlego e considerando que essa ideia de recomeço agora está completa, de forma que até o tiro em direção à câmera voltou para o lugar certo, é compreensível que Sam Mendes (retornando como diretor após o sucesso de Operação Skyfall) e os outros envolvidos na série tenham sentido segurança para explorar ares familiares ao universo desenvolvido ao longo de mais de cinco décadas, e é isso que acontece neste 007 Contra Spectre.

O próprio título já estabelece a história que acompanharemos. Depois dos eventos de Operação Skyfall, James Bond agora investiga os passos da misteriosa organização terrorista SPECTRE, que não aparecia oficialmente nos filmes desde Os Diamantes São Eternos, há 44 anos. As pistas acabam colocando o espião diante de um velho conhecido, Franz Oberhauser (Christoph Waltz), que ele achava estar morto. Enquanto isso, o novo M (Ralph Fiennes) tem que lidar com a presença de Max Denbigh (Andrew Scott), que ameaça dar um fim ao programa “00” ao questionar sua eficiência e a relevância do MI6, o que obriga Bond a seguir sua missão por baixo dos panos.

Trata-se de outro filme no qual James Bond tem que lidar com uma missão de teor pessoal, algo comum na série e que aqui é interessante ao explorar um pouco mais o passado do personagem, assim como aconteceu em Operação Skyfall. Nisso, o roteiro é até corajoso na forma como desenvolve a trama, principalmente no que diz respeito à relação entre o herói e o vilão, dando a ela camadas que a tornam mais complexa. Além disso, durante a longa investigação feita por Bond, o filme reaproveita orgânica e inteligentemente vários elementos apresentados nos três exemplares anteriores, mostrando ser o resultado natural deles ao mesmo tempo em que faz o protagonista encarar feridas mal cicatrizadas, o que dá um peso maior à narrativa.

Tudo isso é conduzido com calma e segurança por Sam Mendes, ainda que ocasionalmente o cineasta não consiga impedir o filme de ter alguns problemas de ritmo. Mas ele compensa isso ao mais uma vez mostrar ser um diretor de ação formidável, construindo sequências intensas, empolgantes e divertidas, como uma perseguição no ambiente gélido da Áustria e a luta que acontece em um trem, sendo que ambas envolvem Hinx (interpretado pelo imponente Dave Bautista), capanga típico da série, que troca suas falas por socos e pontapés. Aliás, essa sequência no trem possivelmente referencia numa tacada só as lutas de Moscou Contra 007, Com 007 Viva e Deixe Morrer e O Espião Que Me Amava, comprovando o tom mais à moda antiga adotado pela produção. É uma pena, no entanto, que nenhuma delas se equipare àquela que abre o filme, iniciada com um belíssimo plano-sequência reapresentando o protagonista em meio a sua missão na Cidade do México, durante o Dia dos Mortos, e finalizada de maneira tensa e eletrizante em um helicóptero.

Interpretando James Bond pela quarta vez, Daniel Craig já revela ser capaz de encarnar a frieza e a exaustão do personagem mesmo parecendo estar no piloto automático, fazendo isso sem sacrificar seu senso de humor (como já falei outras vezes, Sean Connery pode ser o melhor Bond da série, mas Craig vem logo atrás). Já Léa Seydoux exibe força no papel da bond girl Madeleine Swann, tendo uma boa dinâmica com Craig, ainda que os sentimentos entre os personagens acabem soando esquemáticos graças às necessidades do roteiro. E se Monica Bellucci mal tem tempo de tela como Lucia Sciarra, Ralph Fiennes, Naomie Harris e Ben Whishaw dão personalidade aos conhecidos papeis de M, Moneypenny e Q. Finalmente, Christoph Waltz encarna maravilhosamente o sadismo de Franz Oberhauser, um vilão clássico por natureza e com motivações pessoais que lhe proporcionam maior aprofundamento, enquanto que o mistério feito em cima de sua identidade funciona apenas para apresentá-lo com calma e fazer uma rima dentro da franquia, já que se trata de algo óbvio desde o princípio.

007 Contra Spectre é admirável ao utilizar as peças que tem à disposição para montar uma narrativa que mantém o atual vigor da série enquanto dialoga com o que ela era antigamente. Em um ano como 2015, no qual vários filmes de espionagem se destacaram (como Missão Impossível 5, O Agente da U.N.C.L.E. e Kingsman), é bom ver que James Bond não decepcionou.

Nota:


Nenhum comentário: