Tendo despontado no final da
década de 1990 como um diretor promissor ao fazer a obra-prima O Sexto Sentido e logo depois o ótimo Corpo Fechado, M. Night Shyamalan lamentavelmente
não demorou para ficar totalmente em baixa, fazendo obras desastrosas como A Dama na Água e Fim dos Tempos, tornando-se um realizador que gera mais dúvidas e
desgosto do que admiração. Mesmo assim, por já ter mostrado que tem talento e
capacidade de realizar grandes filmes, é relativamente fácil entrar em seus
novos projetos torcendo para que ele tenha feito algo minimamente satisfatório.
Dito isso, em A Visita finalmente Shyamalan
volta a realizar um trabalho que funciona.
Dessa vez, o diretor se rende ao
formato dos falsos documentários ao se concentrar nos jovens irmãos Becca
(Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), que vão passar uma semana na casa dos
avós (interpretados por Peter McRobbie e Deanna Dunagan), figuras que nunca conheceram
por conta de sua mãe, Paula (Kathryn Hahn), ter cortado relações com eles
quando era mais jovem por motivos que não compartilha com ninguém. Sendo uma
aspirante a diretora de cinema, Becca decide fazer um documentário sobre a
viagem, filmando com a ajuda do irmão quase tudo o que acontece ao longo dos
dias. No entanto, ela e Tyler logo percebem que há algo estranho com seus avós
e, obviamente, a visita acaba não sendo muito tranquila.
Não chega a ser um longa particularmente
criativo, tanto pela trama quanto pela maneira como utiliza o formato documental,
trazendo uma série de coisas comuns em obras do tipo, como a necessidade de
Becca de filmar até coisas que não serviriam para o documentário que pretende
realizar, mas que, claro, funcionam dentro do que Shyamalan precisa. Mesmo que
isso não faça muito sentido, não é um detalhe que incomode tanto considerando
que, do contrário, não teríamos um filme sobre o qual falar agora. No fim das
contas, o que acaba importando é que o diretor torna interessante sua proposta
de criar um ambiente gradualmente inquietante, no qual ele também busca divertir
o público através de bizarrices, como as atividades noturnas da avó dos
protagonistas, ou de besteiras, como a habilidade de Tyler como rapper. Shyamalan
consegue equilibrar esses aspectos da narrativa, de maneira que um não tira a
força do outro.
Mas talvez o mais surpreendente em A Visita é que o
roteiro escrito pelo próprio Shyamalan se revela bem estruturado, o que até compensa
um pouco alguns dos diálogos desnecessariamente expositivos. Sendo assim, é interessante
ver o diretor inserir pontualmente certos elementos para dar-lhes sentido mais
adiante, mostrando que ele tem alguma noção do que está fazendo, diferente do
que ocorria em seus últimos trabalhos. E se a reviravolta que acontece no
início do terceiro ato pode até ser previsível para olhos mais atentos, ao
menos a construção narrativa até ali é boa o suficiente para merecer elogios.
Enquanto isso, Olivia DeJonge e
Ed Oxenbould surgem carismáticos interpretando Becca e Tyler, exibindo ainda
uma boa dinâmica em cena, algo essencial para que formemos uma ligação com os
personagens e com a situação na qual eles se encontram. É uma pena, porém, que
certos traumas e fobias deles sejam trazidos por Shyamalan apenas quando necessário
para o roteiro, sendo desenvolvidos de maneira meio corriqueira. E se Kathryn
Hahn faz bem o papel da mãe deles mesmo tendo poucas cenas, Deanna Dunagan e
Peter McRobbie encarnam a estranheza e a doçura dos avós apropriadamente, indo
de um jeito para o outro naturalmente. Dunagan em particular prova ser capaz de
causar arrepios só com suas expressões maléficas.
A Visita fica longe de ser marcante como O Sexto Sentido ou Corpo
Fechado, mas só por não representar um novo desastre comandado por M. Night
Shyamalan já é um alívio, podendo indicar que o cineasta está voltando à boa
forma. Resta esperar que seu próximo projeto o mantenha nesse caminho.
Nota:
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