Em 1820, numa época em que o óleo
de baleias era uma mercadoria valiosa, o navio Essex partiu com sua tripulação em
uma longa jornada para encher o maior número possível de barris com o produto.
O que os homens a bordo não imaginavam era que iriam bater de frente com uma cachalote que arrasou o navio e os deixou perdidos no mar durante meses,
obrigando-os a cometer atos horríveis para manterem-se vivos. O evento veio a
ser uma das principais influências do autor Herman Melville na concepção do
clássico literário Moby Dick e foi o foco de No Coração do Mar, livro de Nathaniel Philbrick que agora ganha uma
adaptação para o cinema pelas mãos de Ron Howard, rendendo uma produção eficiente
ao retratar com propriedade a tensão e o desespero que aqueles homens
enfrentaram.
No Coração do Mar começa em 1850, mostrando o próprio Herman
Melville (Ben Whishaw) tentando falar com Thomas Nickerson (Brendan Gleeson),
último membro vivo da tripulação do Essex e atormentado pelas memórias da
tragédia que vivenciou. A partir dos relatos de Nickerson, vamos para 1820,
quando ele era apenas um garoto (vivido por Tom Holland) em sua primeira
experiência no mar, estando sob o comando do capitão George Pollard (Benjamin
Walker) e do primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth), que iniciam uma
grande rivalidade. Mas o que deveria ser uma jornada de trabalho tranquila vira
um caos depois que o navio chega a uma região arriscada.
Ao longo do filme, Ron Howard se
esforça para contar a história de forma que ela tenha o peso que merece, e é
bom ver que esses esforços têm resultado na tela. O diretor não desvia o olhar
de detalhes mais desconfortáveis da trama, seja nos obstáculos viscerais
enfrentados pelos personagens ou no trabalho deles tirando o óleo das baleias,
aspecto no qual é possível ver a boa dinâmica da tripulação do Essex e um
curioso senso de humor (a cena em que o jovem Thomas Nickerson entra em uma
baleia é exemplo perfeito disso). Além disso, Howard exibe segurança ao
conduzir os embates envolvendo o cachalote, conseguindo impor tensão de maneira
ágil, ainda que o fraco 3D prejudique um pouco as cenas.
Mas é nas consequências dos
ataques do animal ao navio que No
Coração do Mar encontra maiores forças. São detalhes que obviamente acabam
sendo muito mais impactantes, e Ron Howard merece créditos por retratar eficientemente
a desolação sentida pelos personagens, que se veem em uma situação que fica
mais aterrorizante e vulnerável a cada dia que passa. No entanto, vale dizer
que o fato de o roteiro dedicar boa parte do tempo para desenvolver aqueles
indivíduos, de forma que sejam um pouco mais do que meros pedaços de carne
unidimensionais, facilita a identificação do público com eles, ao passo que o bom
elenco não só ajuda a torna-los interessantes como também encarna convincentemente
seu desgaste gradual.

Nota:
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