Peter Pan é uma peça que merece uma
revisita pontualmente, com seus temas envolvendo a infância, o peso das
responsabilidades da fase adulta e nossas inseguranças com relação a essas mudanças.
E como qualquer material imensamente popular, o que não faltam no cinema são
filmes que adaptem a obra de J.M. Barrie ou que a usem como ponto de partida para
conceber algo original com os personagens, que se tornaram figuras icônicas. Diferente
da animação clássica da Disney, do trabalho de Steven Spielberg em Hook: A Volta do Capitão Gancho e do
longa dirigido por P.J. Hogan em 2003 (as adaptações mais famosas da peça), este
novo Peter Pan busca ser uma mistura
de reimaginação e história de origem nos moldes de Oz: Mágico e Poderoso, funcionando moderadamente nesse objetivo.
Com roteiro de Jason Fuchs, Peter Pan (uma surpresa o filme não
contar com algum “Origem” no título brasileiro) tem início durante a Segunda
Guerra Mundial, quando o pequeno Peter (o expressivo Levi Miller) vive em um
orfanato regido à mão de ferro. É então que ele é sequestrado pelos piratas
comandados por Barba Negra (Hugh Jackman), cujo navio o leva ao mundo
fantástico da Terra do Nunca. Ali, ele encara uma profecia que o coloca como o
possível líder que uma tribo local esperava e que deve derrotar Barba Negra, dando
início a uma aventura inimaginável, na qual ele tem a ajuda de James Gancho
(Garrett Hedlund) e da Princesa Tigrinha (Rooney Mara).
Com Joe Wright na cadeira de diretor
(é ele o responsável pelos belos Desejo
e Reparação e Anna Karenina), não
surpreende que Peter Pan seja visualmente
arrebatador. Logo no início, em Londres, o filme ganha tons quase de noir pela fotografia mais sombria da
dupla John Mathieson e Seamus McGarvey, que ressalta não só a frieza dos tempos
de guerra, mas também a vida limitada que o protagonista leva no orfanato, onde
suas aventuras desafiando autoridades servem até como um escape. Essa
sombriedade cria um belo contraste com a Terra do Nunca, que se apresenta como
um lugar multicolorido e caloroso, abrindo espaço para a imaginação, algo que o
design de produção aproveita muito bem. Além disso, Wright mostra-se hábil na
condução do lado puramente aventureiro do filme, conseguindo criar sequências que
montam a maior parte da diversão da narrativa, merecendo destaque momentos como
a fuga de Peter da prisão de Barba Negra e uma breve luta de Gancho diante da
tribo de Tigrinha.
No entanto, Peter Pan encontra problemas em termos de história. Nesse aspecto,
o roteiro não foge muito da obviedade naquilo que envolve o destino do
protagonista, além de não desenvolver a trama com muita naturalidade, de forma
que mais de uma vez vemos os personagens pararem em um lugar para que detalhes
importantes sejam explicados. Mesmo assim, por ser uma história de origem e
investir em coisas inesperadas, como a amizade de Peter com Gancho, o filme consegue
manter o espectador curioso com relação a como eles e outros personagens se
tornarão as figuras que nos acostumamos a acompanhar. E é por isso que é decepcionante
que o roteiro eventualmente acabe mostrando estar mais preocupado com uma
possível continuação do que com fazer jus a essa curiosidade.
Dessa forma, Peter Pan até pode ser um longa que usa os personagens cativantes e
seu universo infanto-juvenil eficientemente no que diz respeito a entreter. Mas
levando em consideração sua proposta, ele não deixa de representar uma viagem incompleta
e que desperdiça boa parte de seu potencial.
Nota:
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