Talvez o que eu vá dizer a seguir soe estranho, mas a
cabeça de Guillermo del Toro deve ser um belo lugar para se morar. Dono de uma grande
imaginação e de um senso estético primoroso, o diretor mexicano é capaz de
criar histórias que fascinam com seus universos fantásticos e com a força
criativa com a qual são conduzidos. Em A
Colina Escarlate, o cineasta volta a mostrar seu talento como contador de
histórias, usando para isso a influência de romances góticos e longas de terror
como àqueles feitos pela Hammer na década de 1960.

Apesar de parecer, Guillermo del Toro não usa os fantasmas
como a grande fonte de sustos de sua narrativa. Na verdade, ainda que o diretor
tente causar alguns pulos na cadeira em determinados momentos, seu objetivo principal
ao longo do filme não é esse, nem apostar em uma série de mistérios para manter
o espectador curioso quanto a possíveis revelações, tanto que ele não faz segredo
quanto às intenções de certos personagens, deixando sua natureza mais ou menos clara
para o público, mas não para a protagonista, que fica no escuro com relação a
isso. E é principalmente a partir desse aspecto que o cineasta constrói sua atmosfera
de tensão, algo que ele conduz maravilhosamente, mostrando que a capacidade dos
seres humanos de fazer mal uns aos outros pode ser muito mais inquietante do
que a aparente ameaça representada pelos fantasmas, que surgem pontualmente na história
e servem como um ótimo complemento ao tom aterrorizante dado à narrativa, numa
jogada até inteligente por parte do roteiro.
Somando a isso, o design de produção brilha não só pela excelente
recriação de época, mas também pela concepção das mansões vistas no filme, sendo
apropriado o contraste entre o lar confortável onde Edith mora inicialmente com
o pai, Carter (Jim Beaver), com àquele dos irmãos Sharpe, um pouco mal acabado (mas não menos belo) e isolado. Enquanto isso, a fotografia de Dan Laustsen (substituindo o
colaborador habitual do diretor, Guillermo Navarro) auxilia a atmosfera
assombrosa através do uso de sombras e cores mais frias, ao passo que a
montagem de Bernat Vilaplana impõe um ritmo gradualmente mais ágil e envolvente,
além de pular organicamente entre a trama principal envolvendo Edith e a
subtrama da pequena investigação feita pelo médico Alan McMichael (Charlie
Hunnam), que ganha espaço ocasionalmente.
Provando ser uma atriz cada vez melhor, Mia Wasikowska interpreta
Edith Cushing (por sinal, bela referência a um astro da Hammer, Peter Cushing) como
uma garota forte e que está à frente de seu tempo, ficando indignada com quem pensa
que, só por ser mulher, ela deve escrever histórias de amor (não à toa, ela diz
preferir ser uma escritora como Mary Shelley). Podemos
até dizer que boa parte do porquê de a tensão da narrativa funcionar se deve ao
fato de Edith se revelar uma figura tão interessante, além de estar em uma
situação vulnerável. Já Tom Hiddleston exibe talento ao encarnar Thomas Sharpe
como um homem dividido entre seus interesses e os próprios sentimentos,
enquanto Charlie Hunnam traz seu carisma habitual a Alan McMichael, conseguindo
ser um pouco mais do que apenas o segundo interesse amoroso da protagonista.
Fechando o elenco, a fantástica Jessica Chastain cria uma Lucille Sharpe
amedrontadora desde seu primeiro segundo em cena, com uma frieza que se encaixa
perfeitamente nas motivações da personagem.
Devido a calma para apresentar as
peças que compõem sua narrativa, A
Colina Escarlate não chega a fisgar o espectador logo de cara. Mas depois
que Guillermo del Toro estabelece tudo isso e a proposta que pretende seguir, o
filme cresce a cada minuto, servindo como mais uma prova da genialidade de seu
fascinante realizador.
Nota:
2 comentários:
Parabéns, dear!Texto muito bem escrito.Tens o dom da palavra.Beijos e vou ver se consigo ver esse filme amanhã!
Vi este filme por que amo aos atores que participam nele!!! Charlie Hunnam se compromete muito com o personagem. Considero que madurou como ator. A colina escarlate a historia está bem estruturada, excelente filme, desfrutei muito. É o ator mais bonito e adorei vê-lo neste filme. Tambem vi no filme Rei Arthur. Ele sempre surpreende com os seus papéis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Seguramente o êxito dos Charlie Hunnam filmes de deve-se a participação dele, porque tem muitos fãs que como eu se sentem atraídos por cada estréia cinematográfica que tem o seu nome exibição.
Postar um comentário