quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Colina Escarlate

Talvez o que eu vá dizer a seguir soe estranho, mas a cabeça de Guillermo del Toro deve ser um belo lugar para se morar. Dono de uma grande imaginação e de um senso estético primoroso, o diretor mexicano é capaz de criar histórias que fascinam com seus universos fantásticos e com a força criativa com a qual são conduzidos. Em A Colina Escarlate, o cineasta volta a mostrar seu talento como contador de histórias, usando para isso a influência de romances góticos e longas de terror como àqueles feitos pela Hammer na década de 1960.

Escrito pelo próprio diretor em parceria com Matthew Robbins, A Colina Escarlate se passa na Inglaterra do século 19, quando a jovem escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) se casa com o misterioso baronete Thomas Sharpe (Tom Hiddlestom) após uma tragédia pessoal. Ela, então, vai morar com ele e sua irmã, Lucille (Jessica Chastain), na mansão deles. Mas o que deveria ser o início de uma nova vida acaba não saindo como planejado, com direito ao retorno de fantasmas que assombram Edith desde a infância.

Apesar de parecer, Guillermo del Toro não usa os fantasmas como a grande fonte de sustos de sua narrativa. Na verdade, ainda que o diretor tente causar alguns pulos na cadeira em determinados momentos, seu objetivo principal ao longo do filme não é esse, nem apostar em uma série de mistérios para manter o espectador curioso quanto a possíveis revelações, tanto que ele não faz segredo quanto às intenções de certos personagens, deixando sua natureza mais ou menos clara para o público, mas não para a protagonista, que fica no escuro com relação a isso. E é principalmente a partir desse aspecto que o cineasta constrói sua atmosfera de tensão, algo que ele conduz maravilhosamente, mostrando que a capacidade dos seres humanos de fazer mal uns aos outros pode ser muito mais inquietante do que a aparente ameaça representada pelos fantasmas, que surgem pontualmente na história e servem como um ótimo complemento ao tom aterrorizante dado à narrativa, numa jogada até inteligente por parte do roteiro.

Somando a isso, o design de produção brilha não só pela excelente recriação de época, mas também pela concepção das mansões vistas no filme, sendo apropriado o contraste entre o lar confortável onde Edith mora inicialmente com o pai, Carter (Jim Beaver), com àquele dos irmãos Sharpe, um pouco mal acabado (mas não menos belo) e isolado. Enquanto isso, a fotografia de Dan Laustsen (substituindo o colaborador habitual do diretor, Guillermo Navarro) auxilia a atmosfera assombrosa através do uso de sombras e cores mais frias, ao passo que a montagem de Bernat Vilaplana impõe um ritmo gradualmente mais ágil e envolvente, além de pular organicamente entre a trama principal envolvendo Edith e a subtrama da pequena investigação feita pelo médico Alan McMichael (Charlie Hunnam), que ganha espaço ocasionalmente.

Provando ser uma atriz cada vez melhor, Mia Wasikowska interpreta Edith Cushing (por sinal, bela referência a um astro da Hammer, Peter Cushing) como uma garota forte e que está à frente de seu tempo, ficando indignada com quem pensa que, só por ser mulher, ela deve escrever histórias de amor (não à toa, ela diz preferir ser uma escritora como Mary Shelley). Podemos até dizer que boa parte do porquê de a tensão da narrativa funcionar se deve ao fato de Edith se revelar uma figura tão interessante, além de estar em uma situação vulnerável. Já Tom Hiddleston exibe talento ao encarnar Thomas Sharpe como um homem dividido entre seus interesses e os próprios sentimentos, enquanto Charlie Hunnam traz seu carisma habitual a Alan McMichael, conseguindo ser um pouco mais do que apenas o segundo interesse amoroso da protagonista. Fechando o elenco, a fantástica Jessica Chastain cria uma Lucille Sharpe amedrontadora desde seu primeiro segundo em cena, com uma frieza que se encaixa perfeitamente nas motivações da personagem.

Devido a calma para apresentar as peças que compõem sua narrativa, A Colina Escarlate não chega a fisgar o espectador logo de cara. Mas depois que Guillermo del Toro estabelece tudo isso e a proposta que pretende seguir, o filme cresce a cada minuto, servindo como mais uma prova da genialidade de seu fascinante realizador.

Nota:


2 comentários:

Robertadear disse...

Parabéns, dear!Texto muito bem escrito.Tens o dom da palavra.Beijos e vou ver se consigo ver esse filme amanhã!

Unknown disse...

Vi este filme por que amo aos atores que participam nele!!! Charlie Hunnam se compromete muito com o personagem. Considero que madurou como ator. A colina escarlate a historia está bem estruturada, excelente filme, desfrutei muito. É o ator mais bonito e adorei vê-lo neste filme. Tambem vi no filme Rei Arthur. Ele sempre surpreende com os seus papéis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Suas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Seguramente o êxito dos Charlie Hunnam filmes de deve-se a participação dele, porque tem muitos fãs que como eu se sentem atraídos por cada estréia cinematográfica que tem o seu nome exibição.