Denis Villeneuve é um cineasta
que não cansa de fascinar. Produções como Polytechnique,
Incêndios, Os Suspeitos e O Homem
Duplicado provam que ele é um realizador que consegue impor com propriedade
a força, por vezes descomunal, de suas histórias, conduzindo narrativas
instigantes e que trazem atmosferas de tensão absolutamente impressionantes. Se
juntando aos filmes citados agora vem este Sicario,
onde Villeneuve encara a guerra contra as drogas e os conflitos morais de seus envolvidos, abraçando sem pudores esse material e acrescentando mais um
título poderoso em sua filmografia.

A guerra vista em Sicario tratou de construir um universo
onde a desumanidade aparece por toda parte, e encontrar alguém aqui que seja plenamente
bom ou mal não é comum, com quase todos sendo capazes de agir da melhor ou pior
forma possível enquanto visam seus objetivos, contribuindo para a complexidade
moral dessas pessoas e para a imprevisibilidade quanto ao que encontraremos na
trama. Indivíduos como Matt e Alejandro, homens já calejados nessa área, adquiriram
uma visão em que ignorar leis e responder com a mesma desumanidade às
atrocidades desse universo pode ser o melhor jeito de obter resultados (em
resumo, é a velha história de “os fins justificam os meios”). E se digo “pode”
é porque não há certeza com relação a isso, detalhe que o roteiro deixa claro
quando Matt fica um pouco aliviado pela legitimidade de uma informação conseguida
através de tortura, já que, no fim das contas, isso é um verdadeiro golpe de
sorte.
A maneira como vemos tais
princípios se chocarem com o idealismo seguido por Kate é um dos aspectos mais
ricos de Sicario, e isso se deve principalmente
ao modo como os personagens são desenvolvidos, mostrando como o conflito no
qual eles estão inseridos acaba afetando-os. Vivida brilhantemente por Emily Blunt,
a protagonista não demora muito para perceber onde se meteu, e mesmo assim usa suas
forças para manter seus ideais, por mais que as circunstâncias supliquem para
que ela os deixe de lado, algo que seus líderes fizeram há muito tempo. Falando
neles, Matt é um personagem que não ganha muita profundidade, mas mais do que
compensa isso com seu jeito manipulador e influente, que Josh Brolin encarna com
grande talento. Aliás, a forma como Denis Villeneuve apresenta o sujeito,
focando suas roupas casuais e chinelos num ambiente onde a elegância dos ternos
parece obrigatória, é perfeita para estabelecer não só a personalidade dele,
mas também o poder de sua posição. Já Alejandro é gradualmente estabelecido pelo
fantástico Benicio Del Toro como um homem frio e perturbado, dando indícios de
que conhece a violência de seu meio de trabalho melhor do que ninguém. Com uma
atuação minimalista e magnética, Del Toro rouba quase todas as cenas do filme, dominando
principalmente a reta final da trama e merecendo atenção especial na temporada
de premiações.
Enquanto isso, Denis Villeneuve comanda
uma narrativa onde tranquilidade é um detalhe a ser visto com estranheza,
tamanho espaço consumido pelo universo corrompido mostrado na história. Com o
auxílio precioso e sutil da trilha de suspense de Jóhann Jóhannsson, da
montagem arrebatadora de Joe Walker e da fotografia claustrofóbica do mestre
Roger Deakins, Villeneuve mais uma vez se vê criando uma atmosfera de tensão
absurdamente intensa ao redor dos personagens. Dando tamanho peso à narrativa,
o cineasta praticamente afunda o espectador na cadeira do cinema, nos mantendo quase
sem respirar em determinados momentos, como na sequência que se passa em uma
rodovia, na breve luta que ocorre em um apartamento ou no pequeno jantar de
família no terceiro ato.

Nota:
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