(Crítica originalmente publicada no Papo de Cinema)
The Final Girls é um daqueles filmes que busca fazer graça a partir do próprio cinema, pegando um gênero específico e homenageando-o ao brincar com suas convenções, e aqui os slasher movies (longas que colocam um assassino insano matando várias pessoas, especialmente adolescentes) novamente ganham atenção. Não é uma proposta original, claro, mas pode proporcionar uma experiência interessante se aproveitada com inteligência, e produções como Pânico e O Segredo da Cabana são provas disso. Em The Final Girls a situação não é diferente, ao revelar um ótimo nível de criatividade na forma como aborda seu material.
Escrito por M.A. Fortin e Joshua John Miller, The Final Girls nos apresenta a jovem Max Cartwright (Taissa Farmiga, irmã de Vera), cuja mãe, Amanda (Malin Akerman), foi uma das estrelas de Camp Bloodbath, um cultuado slasher movie da década de 1980, feito nos moldes de Sexta-Feira 13. Três anos depois da morte da mãe, Max vai a uma sessão especial do longa, mas um incêndio transforma a exibição em caos. A garota tenta fugir com os amigos Chris (Alexander Ludwig), Gertie (Alia Shawkat), Vicki (Nina Dobrev) e Duncan (Thomas Middleditch), mas o grupo acaba entrando no filme – numa possível referência ao lado escapista do cinema – e tendo que enfrentar o que acontece por ali de acordo com a história. Pra completar, Max ainda tem de lidar com o quase reencontro com a mãe, que aparece no papel da indefesa Nancy.
The Final Girls traz em Camp Bloodbath uma produção que claramente tem todos os clichês dos slasher movies. Seus personagens são jovens estúpidos que só querem saber de sexo, o que sacramentará sua morte se de fato fizerem. O acampamento onde estão é isolado, há o assassino mascarado cujas motivações não poderiam ser mais lugar-comum, assim como a menina virgem que sobra no final da história para salvar o dia, e... Enfim, é muita coisa. O legal disso é que o longa tem plena noção de onde está se metendo, e o diretor Todd Strauss-Schulson consegue divertir calorosamente apontando os clichês e explorando a relação de seus personagens com o universo fílmico, aproveitando muito bem desde o próprio conhecimento deles quanto ao desenrolar da história deste filme-dentro-do-filme, até o fato de eles poderem mudar o rumo desta trama, em jogadas de metalinguagem muito eficientes.
Há de se ressaltar que, mesmo brincando com essas convenções do subgênero, The Final Girls não deixa de se entregar um pouco a elas. No entanto, o roteiro faz isso ao mesmo tempo em que foge da obviedade, como se vê no desenvolvimento do enredo, em suas ótimas sacadas e nos personagens, que seguem estereótipos comuns, mas não ficam limitados a eles. Aliás, um dos pontos mais interessantes do filme é acompanhar a interação de Max e seus amigos com o pessoal de Camp Bloodbath, algo divertido por estes agirem de acordo com sua unidimensionalidade e jeito oitentista, enquanto os outros têm cabeças mais pensantes e contemporâneas. Além disso, o carisma do elenco ajuda em nossa identificação com as figuras na tela, e por nos importarmos com elas, consequentemente algumas cenas proporcionam tensão e peso à narrativa. Taissa Farmiga (que, se houver justiça no mundo, será uma estrela tão reconhecida quanto a irmã) e Malin Akerman, em especial, se destacam ao exibir uma dinâmica tocante graças a relação de mãe e filha entre suas personagens.
É bacana ver um subgênero como o dos slasher movies, que mesmo quando ruim ainda é capaz de render guilty pleasures interessantes, mais uma vez ganhar uma homenagem tão agradável quanto The Final Girls. Divertindo sem ofender a inteligência do público, o longa é uma grata surpresa, fazendo jus a produções que seguem a mesma linha.
Nota:
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