quinta-feira, 4 de junho de 2015

Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

Tomorrowland é diferente das outras produções que o talentosíssimo Brad Bird realizou até agora. Depois de três animações irrepreensíveis (O Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille) e uma ótima empreitada no cinema live action (Missão Impossível: Protocolo Fantasma), o diretor dessa vez comanda um longa que até tira o espectador de sua zona de conforto, representando um pouco mais do que apenas uma viagem divertida e tecnicamente impecável. Sem falar que fica longe de parecer uma propaganda da Disney para seu parque temático, algo que o título talvez pudesse indicar.

Escrito pelo próprio Bird em parceria com Damon Lindelof a partir do argumento concebido por eles e Jeff Jensen, Tomorrowland nos apresenta ao pequeno inventor Frank Walker (Thomas Robinson), que é recrutado por Athena (Raffey Cassidy) para ir ao universo que dá título ao filme, que fica em uma dimensão alternativa, onde outras figuras consideradas especiais nutrem a esperança de moldar um futuro melhor. Anos depois, Athena recruta a jovem Casey Newton (Britt Robertson), cujo otimismo é mais do que necessário agora que o mundo parece estar fadado à destruição. Para mudar isso, as duas se juntam a Frank (agora interpretado por George Clooney), que com o passar do tempo se tornou um sujeito pessimista com relação a si mesmo e o que ocorre ao seu redor.

Tomorrowland demora para mostrar a que veio. Durante toda sua primeira metade, o filme passa a impressão de ser uma aventura simpática e bem humorada, mas que não tem um conflito ou algum propósito, parecendo que não vai a lugar nenhum. No entanto, nesse tempo o roteiro consegue estabelecer os personagens e suas personalidades, além do universo grandioso que se coloca em seu caminho, elementos essenciais para sustentar a narrativa a partir do momento em que finalmente vemos sua intenção. Quando isso acontece, o filme apresenta uma ambição interessante ao tratar visões puramente humanas quanto ao futuro, com Brad Bird focando em um choque entre o lado otimista e o lado pessimista, explorando o modo como ambos causam impacto no que pode acontecer. É então que o diretor praticamente coloca um espelho em frente ao espectador, já que se as próprias pessoas são, de um jeito ou de outro, responsáveis pelos maus que ocorrem no mundo, também não fazem muito para mudar isso, e Bird é bastante crítico com relação a essa última parte.

O que nos traz aos personagens que movem a trama e enriquecem sua temática. Interpretado por George Clooney com uma rabugice apropriada, mas que nunca o torna antipático (até porque Clooney tem um carisma absurdo), Frank Walker é um homem cuja inteligência fica imediatamente clara, seja quando o encontramos ainda criança com seu jetpack ou quando adulto com sua casa cheia de invenções, sendo que seu modo nada esperançoso de agir vem muito do desencorajamento que recebeu ao longo da vida. Isso o torna um contraponto perfeito a Casey, que, interpretada pela ótima Britt Robertson, mostra ser uma garota cujo otimismo radiante não a permite se contentar com respostas superficialmente negativas, sempre buscando alternativas que lhe tragam uma possibilidade melhor. E se a adorável Raffey Cassidy (que ao lado de Robertson é a grande revelação do elenco) aparece admiravelmente segura como Athena, personagem que exibe uma humanidade surpreendente, Hugh Laurie é eficiente ao trazer um ar de superioridade a Nix, o governador de Tomorrowland que subestima as pessoas constantemente, e seu discurso no terceiro ato nos faz compreender perfeitamente o porquê disso e suas motivações.

Diante disso tudo, Tomorrowland até poderia perder forças quando se concentrasse em suas sequências de ação. Mas por sorte Brad Bird conduz esses momentos com segurança, de forma que o filme nunca perde seu ritmo cativante, merecendo destaque a cena na casa de Frank, onde vemos suas invenções serem exploradas criativamente. Além disso, o design de produção, com o auxílio dos excelentes efeitos visuais, é espetacular ao construir maravilhosamente a Tomorrowland e todo seu encantamento, ao passo que a montagem de Craig Wood e do veterano Walter Murch se destaca, principalmente, quando precisa pular do universo fantástico para a Terra.

A resolução da história em Tomorrowland soa meio simples levando em conta as coisas que ela aborda. Mas mesmo assim ela não deixa de se encaixar na voz otimista e provocativa do filme, que é transmitida de maneira incrivelmente forte através da narrativa. Brad Bird faz aqui um trabalho capaz de jogar algumas cores em cima de um pessimismo acinzentado, que, muitas vezes, pode representar uma acomodação autodestrutiva. E considerando onde vivemos, não seria nada mal se tais cores aparecessem com mais frequência.

Nota:


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