Tomorrowland é diferente das outras produções que o talentosíssimo
Brad Bird realizou até agora. Depois de três animações irrepreensíveis (O Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille) e uma ótima empreitada no cinema live action (Missão
Impossível: Protocolo Fantasma), o diretor dessa vez comanda um longa que até
tira o espectador de sua zona de conforto, representando um pouco mais do que apenas
uma viagem divertida e tecnicamente impecável. Sem falar que fica longe de
parecer uma propaganda da Disney para seu parque temático, algo que o título talvez
pudesse indicar.
Escrito pelo próprio Bird em
parceria com Damon Lindelof a partir do argumento concebido por eles e Jeff
Jensen, Tomorrowland nos apresenta
ao pequeno inventor Frank Walker (Thomas Robinson), que é recrutado por Athena
(Raffey Cassidy) para ir ao universo que dá título ao filme, que fica em uma
dimensão alternativa, onde outras figuras consideradas especiais nutrem a
esperança de moldar um futuro melhor. Anos depois, Athena recruta a jovem Casey
Newton (Britt Robertson), cujo otimismo é mais do que necessário agora que o
mundo parece estar fadado à destruição. Para mudar isso, as duas se juntam a
Frank (agora interpretado por George Clooney), que com o passar do tempo se
tornou um sujeito pessimista com relação a si mesmo e o que ocorre ao seu
redor.
Tomorrowland demora para mostrar a que veio. Durante toda sua
primeira metade, o filme passa a impressão de ser uma aventura simpática e bem
humorada, mas que não tem um conflito ou algum propósito, parecendo que não vai
a lugar nenhum. No entanto, nesse tempo o roteiro consegue estabelecer os
personagens e suas personalidades, além do universo grandioso que se coloca em
seu caminho, elementos essenciais para sustentar a narrativa a partir do
momento em que finalmente vemos sua intenção. Quando isso acontece, o filme apresenta
uma ambição interessante ao tratar visões puramente humanas quanto ao futuro,
com Brad Bird focando em um choque entre o lado otimista e o lado pessimista,
explorando o modo como ambos causam impacto no que pode acontecer. É então que
o diretor praticamente coloca um espelho em frente ao espectador, já que se as próprias
pessoas são, de um jeito ou de outro, responsáveis pelos maus que ocorrem no
mundo, também não fazem muito para mudar isso, e Bird é bastante crítico com
relação a essa última parte.
O que nos traz aos personagens
que movem a trama e enriquecem sua temática. Interpretado por George Clooney
com uma rabugice apropriada, mas que nunca o torna antipático (até porque Clooney
tem um carisma absurdo), Frank Walker é um homem cuja inteligência fica imediatamente
clara, seja quando o encontramos ainda criança com seu jetpack ou quando adulto
com sua casa cheia de invenções, sendo que seu modo nada esperançoso de agir vem
muito do desencorajamento que recebeu ao longo da vida. Isso o torna um
contraponto perfeito a Casey, que, interpretada pela ótima Britt Robertson, mostra
ser uma garota cujo otimismo radiante não a permite se contentar com respostas superficialmente
negativas, sempre buscando alternativas que lhe tragam uma possibilidade melhor.
E se a adorável Raffey Cassidy (que ao lado de Robertson é a grande revelação
do elenco) aparece admiravelmente segura como Athena, personagem que exibe uma
humanidade surpreendente, Hugh Laurie é eficiente ao trazer um ar de
superioridade a Nix, o governador de Tomorrowland que subestima as pessoas
constantemente, e seu discurso no terceiro ato nos faz compreender
perfeitamente o porquê disso e suas motivações.
Diante disso tudo, Tomorrowland até poderia perder forças
quando se concentrasse em suas sequências de ação. Mas por sorte Brad Bird conduz
esses momentos com segurança, de forma que o filme nunca perde seu ritmo
cativante, merecendo destaque a cena na casa de Frank, onde vemos suas
invenções serem exploradas criativamente. Além disso, o design de produção, com
o auxílio dos excelentes efeitos visuais, é espetacular ao construir maravilhosamente
a Tomorrowland e todo seu encantamento, ao passo que a montagem de Craig Wood e
do veterano Walter Murch se destaca, principalmente, quando precisa pular do
universo fantástico para a Terra.
A resolução da história em Tomorrowland soa meio simples levando
em conta as coisas que ela aborda. Mas mesmo assim ela não deixa de se encaixar
na voz otimista e provocativa do filme, que é transmitida de maneira
incrivelmente forte através da narrativa. Brad Bird faz aqui um trabalho capaz de
jogar algumas cores em cima de um pessimismo acinzentado, que, muitas vezes,
pode representar uma acomodação autodestrutiva. E considerando onde vivemos, não
seria nada mal se tais cores aparecessem com mais frequência.
Nota:
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