terça-feira, 16 de junho de 2015

Divertida Mente

Divertida Mente é um dos filmes mais ambiciosos e criativos que a Pixar já produziu. Partindo do princípio de que as emoções controlam um verdadeiro centro de comando na cabeça das pessoas, o longa mostra como nos definimos a partir do que funciona em nossas mentes, o que obviamente não é nenhum pouco simples considerando que somos indivíduos complexos. E por mais que estejamos falando de uma produção voltada principalmente ao público infantil, o diretor Pete Docter (que volta comandar uma animação do estúdio depois do excelente Up: Altas Aventuras) e sua equipe usam sua inventividade não para simplificar o material que exploram, mas para torna-lo fascinante, encantador e divertido, adjetivos que descrevem perfeitamente os melhores filmes da Pixar.

Com roteiro escrito por Meg LeFauve, Josh Cooley e pelo próprio Pete Docter, a partir do argumento concebido por ele em parceria com o co-diretor Ronaldo Del Carmen, Divertida Mente se concentra em cinco emoções principais: Alegria (voz de Amy Poehler na versão original), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Repulsa (Mindy Kalling) e Medo (Bill Hader). São eles que ficam no centro de comando na cabeça da pequena Riley (Kaitlyn Dias), que aos 11 anos se vê tendo que sair de sua casa em Minnesota para se mudar para San Francisco, onde seu pai (Kyle MacLachlan) conseguiu um novo emprego. Com isso, passamos a acompanhar como suas emoções e, consequentemente, ela própria encaram as dificuldades de se ajustar ao novo lar.

Falar sobre Divertida Mente sem elogiar seu design de produção seria uma heresia. O trabalho do filme nesse aspecto é primoroso ao dar vida a grande imaginação de seus realizadores, desde o que se refere à aparência dos personagens até a própria concepção da mente de Riley, com suas ilhas de personalidades, trem de pensamentos, a produção de sonhos (que parece uma indústria hollywoodiana, em uma jogada sensacional) e o depósito onde ficam as memórias, sendo que a funcionalidade disso tudo junto ao centro de comando é muito bem estabelecida. Além do mais, o filme é inteligente no modo como retrata a visão de Riley, como ao pintar Minnesota com uma série de cores quentes apenas para ela chegar em San Francisco e dar de cara com os tons pasteis de sua desgastada nova casa, algo que até contrasta com a personalidade alegre e cheia de vida da garota, passando de imediato a sensação de deslocamento que a aflige durante a trama.

Se isso já é notável no filme, o mesmo pode ser dito sobre o cuidado dos realizadores quanto à construção da história. Afinal, o roteiro até pode partir de personagens adoráveis que, por representarem emoções, são naturalmente unidimensionais, mas estes acabam moldando perfeitamente a multidimensionalidade de Riley, e no fim das contas é isso que importa. No entanto, não é só com esses detalhes que Divertida Mente encanta, mas também por fazer da menina uma personagem forte, com a qual nos identificamos com facilidade, e mostrar como suas emoções são igualmente essenciais e inevitáveis, não importa o quão negativas elas possam ser (na verdade, às vezes é até bom dar mais espaço a infelicidade, o que também é explorado aqui). Sendo assim, quando a Alegria e a Tristeza ficam de fora do centro de comando a partir de determinado momento, é difícil não temer pelo que pode acontecer na ausência delas diante da situação desconfortável na qual Riley se encontra, algo que Pete Docter conduz com energia e sensibilidade. E mesmo diante da complexidade surpreendente do projeto, o filme ainda encontra maneiras criativas de divertir o público, como a piada recorrente envolvendo um comercial de chiclé ou a cena em que a Tristeza recebe uma medalha.

É inegável que a Pixar esteve um pouco em baixa nos últimos anos, quando realizou Carros 2, Valente e Universidade Monstros, animações que não chegam aos pés do que ela é capaz de fazer. Mas Divertida Mente, sem dúvida, é um grande retorno do estúdio a excelência com a qual ficamos acostumados ao longo de quase toda sua história. E não deixa de ser até um alívio poder afirmar isso.


Nota:


Um comentário:

Carol disse...

Deve ser muito tri essa animação!Tuas críticas estão cada vez melhores!