Divertida Mente é um dos filmes mais ambiciosos e criativos que a Pixar
já produziu. Partindo do princípio de que as emoções controlam um verdadeiro
centro de comando na cabeça das pessoas, o longa mostra como nos definimos a
partir do que funciona em nossas mentes, o que obviamente não é nenhum pouco
simples considerando que somos indivíduos complexos. E por mais que estejamos
falando de uma produção voltada principalmente ao público infantil, o diretor
Pete Docter (que volta comandar uma animação do estúdio depois do excelente Up: Altas Aventuras) e sua equipe usam
sua inventividade não para simplificar o material que exploram, mas para
torna-lo fascinante, encantador e divertido, adjetivos que descrevem perfeitamente
os melhores filmes da Pixar.
Com roteiro escrito por Meg
LeFauve, Josh Cooley e pelo próprio Pete Docter, a partir do argumento
concebido por ele em parceria com o co-diretor Ronaldo Del Carmen, Divertida Mente se concentra em cinco emoções
principais: Alegria (voz de Amy Poehler na versão original), Tristeza (Phyllis
Smith), Raiva (Lewis Black), Repulsa (Mindy Kalling) e Medo (Bill Hader). São eles
que ficam no centro de comando na cabeça da pequena Riley (Kaitlyn Dias), que
aos 11 anos se vê tendo que sair de sua casa em Minnesota para se mudar para
San Francisco, onde seu pai (Kyle MacLachlan) conseguiu um novo emprego. Com
isso, passamos a acompanhar como suas emoções e, consequentemente, ela própria encaram
as dificuldades de se ajustar ao novo lar.
Falar sobre Divertida Mente sem elogiar seu design de produção seria uma
heresia. O trabalho do filme nesse aspecto é primoroso ao dar vida a grande
imaginação de seus realizadores, desde o que se refere à aparência dos
personagens até a própria concepção da mente de Riley, com suas ilhas de
personalidades, trem de pensamentos, a produção de sonhos (que parece uma
indústria hollywoodiana, em uma
jogada sensacional) e o depósito onde ficam as memórias, sendo que a funcionalidade
disso tudo junto ao centro de comando é muito bem estabelecida. Além do mais, o
filme é inteligente no modo como retrata a visão de Riley, como ao pintar
Minnesota com uma série de cores quentes apenas para ela chegar em San
Francisco e dar de cara com os tons pasteis de sua desgastada nova casa, algo
que até contrasta com a personalidade alegre e cheia de vida da garota,
passando de imediato a sensação de deslocamento que a aflige durante a trama.
Se isso já é notável no filme, o
mesmo pode ser dito sobre o cuidado dos realizadores quanto à construção da
história. Afinal, o roteiro até pode partir de personagens adoráveis que, por
representarem emoções, são naturalmente unidimensionais, mas estes acabam
moldando perfeitamente a multidimensionalidade de Riley, e no fim das contas é
isso que importa. No entanto, não é só com esses detalhes que Divertida Mente encanta, mas também por
fazer da menina uma personagem forte, com a qual nos identificamos com
facilidade, e mostrar como suas emoções são igualmente essenciais e inevitáveis,
não importa o quão negativas elas possam ser (na verdade, às vezes é até bom
dar mais espaço a infelicidade, o que também é explorado aqui). Sendo assim,
quando a Alegria e a Tristeza ficam de fora do centro de comando a partir de determinado
momento, é difícil não temer pelo que pode acontecer na ausência delas diante
da situação desconfortável na qual Riley se encontra, algo que Pete Docter
conduz com energia e sensibilidade. E mesmo diante da complexidade
surpreendente do projeto, o filme ainda encontra maneiras criativas de divertir
o público, como a piada recorrente envolvendo um comercial de chiclé ou a cena
em que a Tristeza recebe uma medalha.
É inegável que a Pixar esteve um
pouco em baixa nos últimos anos, quando realizou Carros 2, Valente e Universidade Monstros, animações que
não chegam aos pés do que ela é capaz de fazer. Mas Divertida Mente, sem dúvida, é um grande retorno do
estúdio a excelência com a qual ficamos acostumados ao longo de quase toda sua
história. E não deixa de ser até um alívio poder afirmar isso.
Nota:
Um comentário:
Deve ser muito tri essa animação!Tuas críticas estão cada vez melhores!
Postar um comentário