

Falar sobre Divertida Mente sem elogiar seu design de produção seria uma
heresia. O trabalho do filme nesse aspecto é primoroso ao dar vida a grande
imaginação de seus realizadores, desde o que se refere à aparência dos
personagens até a própria concepção da mente de Riley, com suas ilhas de
personalidades, trem de pensamentos, a produção de sonhos (que parece uma
indústria hollywoodiana, em uma
jogada sensacional) e o depósito onde ficam as memórias, sendo que a funcionalidade
disso tudo junto ao centro de comando é muito bem estabelecida. Além do mais, o
filme é inteligente no modo como retrata a visão de Riley, como ao pintar
Minnesota com uma série de cores quentes apenas para ela chegar em San
Francisco e dar de cara com os tons pasteis de sua desgastada nova casa, algo
que até contrasta com a personalidade alegre e cheia de vida da garota,
passando de imediato a sensação de deslocamento que a aflige durante a trama.
Se isso já é notável no filme, o
mesmo pode ser dito sobre o cuidado dos realizadores quanto à construção da
história. Afinal, o roteiro até pode partir de personagens adoráveis que, por
representarem emoções, são naturalmente unidimensionais, mas estes acabam
moldando perfeitamente a multidimensionalidade de Riley, e no fim das contas é
isso que importa. No entanto, não é só com esses detalhes que Divertida Mente encanta, mas também por
fazer da menina uma personagem forte, com a qual nos identificamos com
facilidade, e mostrar como suas emoções são igualmente essenciais e inevitáveis,
não importa o quão negativas elas possam ser (na verdade, às vezes é até bom
dar mais espaço a infelicidade, o que também é explorado aqui). Sendo assim,
quando a Alegria e a Tristeza ficam de fora do centro de comando a partir de determinado
momento, é difícil não temer pelo que pode acontecer na ausência delas diante
da situação desconfortável na qual Riley se encontra, algo que Pete Docter
conduz com energia e sensibilidade. E mesmo diante da complexidade
surpreendente do projeto, o filme ainda encontra maneiras criativas de divertir
o público, como a piada recorrente envolvendo um comercial de chiclé ou a cena
em que a Tristeza recebe uma medalha.
É inegável que a Pixar esteve um
pouco em baixa nos últimos anos, quando realizou Carros 2, Valente e Universidade Monstros, animações que
não chegam aos pés do que ela é capaz de fazer. Mas Divertida Mente, sem dúvida, é um grande retorno do
estúdio a excelência com a qual ficamos acostumados ao longo de quase toda sua
história. E não deixa de ser até um alívio poder afirmar isso.
Nota:
Um comentário:
Deve ser muito tri essa animação!Tuas críticas estão cada vez melhores!
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