sábado, 19 de outubro de 2013

Os Suspeitos

Os Suspeitos é um filme que traz no centro de sua narrativa uma grande investigação, cujas pistas para a resolução são espalhadas ao longo da história de maneira bastante sutil, e aos poucos o roteiro amarra suas pontas cuidadosamente. É, em suma, um thriller exemplar, que faz jus aos melhores do gênero e ainda representa uma excelente estreia em Hollywood para seu diretor, o canadense Denis Villeneuve (o mesmo por trás de Incêndios, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011).
Escrito por Aaron Guzikowski, Os Suspeitos mostra Keller Dover (Hugh Jackman), que busca fazer justiça com as próprias mãos depois que sua filha de seis anos, Anna (Erin Gerasimovich), desaparece no Dia de Ação de Graças junto com uma amiga, Joy (Kyla Drew Simmons), filha de Franklin e Nancy Birch (Terrence Howard e Viola Davis, respectivamente). Com o pensamento de que o detetive Loki (Jake Gyllenhaal), responsável pelo caso, e o resto da polícia não estão chegando a lugar algum, Keller tenta investigar tudo por si mesmo, apostando todas suas fichas em Alex Jones (Paul Dano), jovem que esteve perto de sua casa pouco antes do desaparecimento das meninas.
A trama pode soar como algo que já vimos antes, considerando que há vários filmes que trazem pais desesperados atrás de seus filhos sequestrados. Mas é aí que entra a inteligência do roteiro de Guzikowski, que desenvolve uma história na qual cada detalhe visto na tela tem seu propósito na narrativa, mesmo que inicialmente seja algo aparentemente banal. Guzikowski usa e abusa de “pista e recompensa” (quando um elemento é plantado em algum ponto no início da história e revela sua importância apenas mais tarde), montando uma estrutura absolutamente fascinante, e quando as pistas do filme passam a fazer sentido é difícil não querer aplaudir o feito do roteirista, que acaba mostrando que sabe exatamente o que está fazendo (se houver justiça, ele será lembrado em vários prêmios nos próximos meses).
Mas não é apenas Guzikowski quem merece aplausos. Impondo um ritmo bastante calmo e perfeito para a história, Denis Villeneuve faz de Os Suspeitos um filme instigante do início ao fim, criando diversos momentos de pura tensão, como quando Loki vai a antiga casa de Keller quando este está guardando algo importante lá, ou a sequência em que um personagem precisa dirigir rapidamente até um hospital. O cineasta também consegue acompanhar muito bem tanto a investigação feita por Keller quanto aquela feita por Loki (quesito no qual a ótima montagem da dupla Joel Cox e Gary Roach também merece créditos), sendo que ambas se contrastam bastante, já que enquanto Keller comete atos quase irracionais, Loki tenta se concentrar um pouco mais nas pistas que vão surgindo, estando aberto para a possibilidade de haver outros suspeitos além de Alex Jones. Enquanto isso, a fotografia do excepcional Roger Deakins não só ajuda a impor o clima de tensão pretendido por Villeneuve, investindo muito em cores frias, como também consegue mostrar o estado dos personagens, o que pode ser visto em um plano que traz Keller à frente em contraluz enquanto Loki surge mais iluminado ao fundo do quadro, indicando os caminhos diferentes que eles tomam em suas investigações.
Se tudo isso já seria o suficiente para tornar Os Suspeitos um filme interessante, o elenco praticamente é a cereja do bolo. Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, por exemplo, têm algumas das melhores atuações de suas carreiras. Trazendo determinação e até certa frieza para Keller Dover, Jackman ressalta brilhantemente o desespero de um pai diante da possibilidade de perder uma filha, e nesse sentido a cena em que ele vê algumas fotos na delegacia é um dos momentos mais tocantes do longa. Já Gyllenhaal faz de Loki um detetive competente, mas que parece estar constantemente estressado e sob pressão, algo indicado pelo seu jeito de piscar, o que mostra o quão difícil é o seu trabalho. E se Maria Bello, Terrence Howard e Viola Davis aparecem muito eficientes em seus papeis, Paul Dano e Melissa Leo quase roubam a cena como Alex Jones e sua tia Holly, respectivamente. O primeiro interpreta o jeito perturbado do rapaz admiravelmente, enquanto que a segunda protagoniza algumas belas cenas no terceiro ato.
Assistindo a Os Suspeitos, ficamos presos a um filme surpreendente, além de impecavelmente construído, e que resulta em uma das grandes obras de 2013.
Cotação:

2 comentários:

Hugo disse...

Gosto deste tipo de filme e por coincidência o título foi traduzido com o mesmo nome de um ótimo filme de Bryan Singer de 1995. O filme do Keyzer Soze.

Abraço

Thomás R. Boeira disse...

Verdade, Hugo. E são dois filmes sensacionais. ;)

Abraço