sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

127 Horas

A história de coragem e superação do escalador Aron Ralston é uma das mais impressionantes que já vi. Preso por uma pedra em uma fenda no meio das montanhas de Utah, Ralston suportou 127 horas até usar uma faca para amputar seu braço e se ver em liberdade. Danny Boyle conta essa história impecavelmente. Baseado no livro do próprio Aron Ralston, 127 Horas segue o escalador desde quando este sai de casa em direção às montanhas até o momento em que ele consegue se soltar da pedra.
Danny Boyle faz uma jogada de gênio: coloca o título de 127 Horas no exato momento em que ocorre o acidente. Isso antecipa para nós espectadores o que Aron vai enfrentar a partir dali. Ao fazer isso, Boyle nos mostra também um dos “vilões” do filme: o tempo.
Outra jogada de Boyle que achei admirável foi o fato de ele focar a câmera no canivete guardado no armário de Aron, na garrafa de energético no carro dele e no telefone tocando em sua casa. Todos eles poderiam ser úteis na situação de extrema emergência na qual o escalador se encontra. E o modo como o diretor afasta a câmera por cima da montanha é muito bom, mostrando o quão fundo Aron está na fenda.
A fotografia da dupla Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle, juntamente com a direção de Danny Boyle, constrói uma atmosfera claustrofóbica em torno do filme, graças à iluminação e aos closes no rosto do personagem. E a trilha sonora de A. R. Rahman (o mesmo do filme anterior de Boyle, Quem Quer Ser Um Milionário?) é muito boa, transmitindo ora o bom humor de Aron no início do filme, ora o desespero dele quando está preso.
O roteiro, escrito por Danny Boyle e Simon Beaufoy, é cheio de grandes momentos. Aliás, alguns deles são parecidos com o que foi mostrado em Quem Quer Ser Um Milionário?. Enquanto está preso, Aron vê a luz do sol e alguns vídeos gravados em sua câmera, lembrando de partes marcantes de sua vida, algo parecido com o que acontecia com Jamal Malik enquanto este respondia as questões.
James Franco tem em 127 Horas aquela que, até agora, é a melhor atuação de sua carreira. Inicialmente descontraído, Franco mostra muita tranquilidade, transmitindo muito bem o fato de Aron já estar acostumado a se aventurar nas montanhas. Mas ele alcança a perfeição nas cenas em que o personagem está preso. Seus gritos de desespero nunca são exagerados e os movimentos que faz com os lábios são geniais, mostrando o quanto Aron está desgastado graças à sede, à fome (os dois outros "vilões" do filme) e aos esforços em tirar a pedra. Na cena em que faz um “talk-show” na qual é o apresentador e o convidado, ele alterna com sucesso entre o bem-humorado e o arrependido. Por esses e outros motivos, cheguei a me emocionar com a atuação deste grande ator.
O “Descanse em paz” que Aron esculpiu na montanha mostra muito bem o que 127 Horas apresentou: a morte do Aron que não dá atenção às pessoas a sua volta e o nascimento do outro Aron, que com muita coragem fez o que parecia impossível para poder, finalmente, dar mais valor a sua vida. E isso fecha com chave de ouro um filme emocionante.
Cotação:

2 comentários:

Clenio disse...

Conseguir prender a atenção da plateia por quase duas horas sem ter ninguém com quem conversar não é pra qualquer um. Tiro o meu chapéu pra James Franco e, se eu pudesse votar no Oscar a estatueta este ano seria dele, que me desculpe Colin Firth.

Franco apresenta uma tour de force absolutamente impecável, em um desempenho irretocável. E pensar que esse baita filme vai perder pra "O discurso do rei"... Vai entender.

Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

Pedro Vinícius disse...

Tive uma opinião muito similar à sua em relação a este filme. A excelente fotografia e a fantástica atuação de Franco o fizeram subir de nível.

Em relação ao arrependimeto e a valorização da vida... podem chamar de piegas, mas creio que é de fato o que se sente em uma situação tão desesperadora assim...

Abraço!