domingo, 6 de março de 2022

Reacher - 1ª temporada

Protagonista da série de livros escrita por Lee Child, Jack Reacher é um personagem que, inicialmente, qualquer um poderia imaginar apenas como um mero brutamontes de quase dois metros de altura. Mas à medida que o vemos se envolver em grandes investigações policiais, ele mostra ter também uma inteligência absurda até para os padrões de Sherlock Holmes e Hercule Poirot, aspectos que acabam tornando suas aventuras interessantes e divertidas. Mesmo sem ter o físico pelo qual o personagem é conhecido originalmente, Tom Cruise foi bem sucedido em sua interpretação de Reacher em dois filmes, servindo até para apresenta-lo a um público maior. Agora, porém, o personagem ganha ares completamente novos ao migrar para o streaming da Amazon Prime Video, onde recebe o rosto e os músculos de Alan Ritchson, este sim um ator bem mais próximo da descrição feita por Lee Child nos livros. E até que a nova adaptação não decepciona.

Nessa primeira temporada, Reacher traz o personagem-título passando casualmente pela pequena cidade de Margrave, onde uma série de assassinatos começam a acontecer. Com os casos provando ser muito mais complexos que o imaginado, Jack Reacher eventualmente se vê obrigado a se juntar ao capitão e detetive-chefe da polícia Oscar Finlay (Malcolm Goodwin) e a policial Roscoe Conklin (Willa Fitzgerald), ajudando-os nas investigações para tentar descobrir o que está por trás do terror na cidade.

Reacher não é uma série com grandes surpresas e reviravoltas, mesmo se tratando de uma trama policial. Mas ela ainda é capaz de entreter tanto pelo lado investigativo do protagonista quanto pelas pancadarias em que ele frequentemente se mete. As habilidades de Jack Reacher como detetive às vezes mostram ser exageradas demais para que levemos a sério, algo que podemos ver, por exemplo, quando ele usa o ângulo em que a Lua se encontra para definir se um local estava iluminado no momento de um crime. Mas é o tipo de absurdo que causa risos e por isso acaba sendo divertido de acompanhar. O mesmo ocorre nas cenas de ação, que não trazem nenhum tipo de tensão, já que Reacher além de parecer indestrutível ainda tem plena consciência de que estará de pé ao final dos embates, de forma que se esses momentos ainda são interessantes é exatamente pela curiosidade que geram quanto a maneira como o protagonista derrotará seus oponentes.

Apesar de não ter nem um terço do talento e da expressividade de Tom Cruise, Alan Ritchson ainda faz um bom trabalho encarnando Jack Reacher, tendo uma presença naturalmente imponente e intimidadora, sendo que o personagem ainda ganha a simpatia do público com seu jeito mais protetivo. Além disso, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald também criam em Oscar Finlay e Roscoe Conklin, respectivamente, personagens fortes e de muita personalidade, com a dinâmica entre eles e Ritchson contribuindo para que o público torça e se importe com os personagens.

Em um sinal de que em termos de público a série já é um sucesso, Reacher foi renovada para uma segunda temporada pouquíssimo tempo depois de estrear. É algo que até me deixou contente, considerando que lá pelo segundo episódio eu já estava me sentindo tão entretido pela série que passei a torcer por tal renovação. E enquanto Jack Reacher não volta a dar as caras em carne e osso, felizmente há 26 livros e 15 contos (até o momento) protagonizados pelo personagem que podem suprir qualquer falta que a série possa fazer.

quinta-feira, 3 de março de 2022

Batman (2022)

“O Maior Detetive do Mundo”.

Essa é uma das várias formas como o Batman é conhecido em suas origens nos quadrinhos, sendo que as habilidades investigativas do personagem podem ser vistas em maior ou menor grau em suas adaptações cinematográficas. Mas esse aspecto do super-herói nunca foi tão explorado como é neste Batman dirigido por Matt Reeves (dos dois filmes mais recentes de Planeta dos Macacos). Dessa vez, o Homem-Morcego surge em uma história que exibe claros ecos de clássicos policiais como Operação França e Seven.

Escrito por pelo próprio Matt Reeves e por Peter Craig, Batman nos apresenta a Bruce Wayne (Robert Pattinson) dois anos depois de ele ter começado sua carreira no combate ao crime. Ganhando cada vez mais notoriedade em Gotham City, o herói se junta ao tenente James Gordon (Jeffrey Wright) para encarar a ameaça do Charada (Paul Dano), um serial killer que parece saber todos os podres dos poderosos da cidade, punindo-os brutalmente e desafiando Batman com os enigmas que deixa nas cenas de seus crimes.


O filme ter um tom e um visual sombrio não é uma grande novidade considerando que esse é o tipo de abordagem que impera quando falamos de Batman no cinema (com exceção, claro, das pérolas dirigidas por Joel Schumacher). Talvez a diferença que podemos dizer que o longa tem em relação aos trabalhos de Tim Burton, Christopher Nolan e Zack Snyder é que Matt Reeves, com auxílio da fotografia de Greg Fraser e do design de produção de James Chinlund, coloca um pouco mais de crueza em sua ambientação de Gotham City, que surge com um visual cinzento e sujo que reflete a corrupção que tanto a ocupa. É algo que até ajuda os atos de violência que surgem na tela a terem um pouco mais de impacto.

Mas como falei inicialmente, Batman é primordialmente uma história de detetive, sendo interessante ver como sua narrativa chega a beber direto da fonte dos filmes noir, tendo elementos comuns do gênero como a narração em off, a femme fatale (aqui representada pela Selina Kyle/Mulher-Gato interpretada por Zoë Kravitz) e o já citado tom mais sombrio em uma história que envolve violência e corrupção, detalhes que ajudam a narrativa a ser tão instigante. Além disso, as investigações do herói para tentar parar o Charada mantêm o espectador curioso quanto ao que está acontecendo, com Matt Reeves trazendo o protagonista utilizando suas tecnologias avançadas, sua inteligência e seu raciocínio lógico para analisar as pistas que encontra e conectar os pontos necessários. E o roteiro é hábil ao levar a história de um ponto a outro com naturalidade, o que contribui para que as quase três horas de projeção não soem tão cansativas. Já as cenas de ação que pontuam a trama também são bem conduzidas por Reeves, que capricha para que as pancadarias e perseguições sejam empolgantes e envolventes, além de chamarem a atenção por um ponto de vista puramente estético, como podemos ver na luta em que tiros de metralhadoras iluminam os movimentos rápidos do herói.

Ao mesmo tempo, Batman também não deixa de ser um belo estudo de personagem. Ao situar a trama nos anos iniciais de Bruce Wayne como Batman, o filme aproveita a oportunidade para apresentar o protagonista como alguém que ainda está aprendendo a melhor forma de agir e de encarar sua cruzada contra o crime, vendo gradualmente como vingança pode não ser o melhor foco para se ter diante de uma luta tão grande. E o ótimo Robert Pattinson encarna bem a inexperiência do personagem, criando ainda um Bruce Wayne mais afastado da sociedade e mergulhado em seus traumas. Já Zoë Kravitz, além de conceber uma clássica femme fatale com objetivos próprios em Selina Kyle, tem uma dinâmica bastante contrastante com o Batman de Pattinson, sendo ela uma figura muito mais impulsiva, e por conta disso os personagens agregam bastante à visão de mundo um do outro.

Jeffrey Wright, por sua vez, esbanja segurança encarnando a integridade de James Gordon, ao passo que Andy Serkis se destaca ao fazer do mordomo Alfred alguém que não serve só como uma figura paterna para Bruce Wayne, sendo também a única conexão forte que o protagonista tem com o resto do mundo e com o passado de sua família. E se John Turturro e, principalmente, Colin Farrel (por baixo de um montante de maquiagem) aproveitam bem seu pouco tempo de tela como Carmine Falcone e o Pinguim, Paul Dano surge intimidador desde sua primeira cena como o Charada. Lembrando muito o Assassino do Zodíaco com toques do Jigsaw da série Jogos Mortais, o vilão de Dano é totalmente desequilibrado, uma hora assustando com seus gritos durante um ataque e em outra deixando o espectador tenso com sua frieza e sua respiração abafada.

Acredito que ainda é cedo para afirmar se este novo Batman será lembrado como um clássico do gênero de super-heróis como ocorre com O Cavaleiro das Trevas. Mas por ora, acho que é seguro dizer que temos aqui mais uma adaptação muito digna do Homem-Morcego. E se muitos filmes do gênero pouco têm se arriscado a fazer coisas diferentes, uma produção como essa acaba sendo um sopro de ar fresco.

Nota:



segunda-feira, 5 de abril de 2021

Godzilla vs. Kong

A franquia de monstros que a Warner vem construindo nos últimos anos com Godzilla e King Kong não tem sido particularmente memorável. Por um lado, o filme do gorila gigante merece destaque (Kong: A Ilha da Caveira é divertidíssimo). Por outro, os trabalhos focados em Godzilla foram decepcionantes (Godzilla 2: Rei dos Monstros, em especial, é um verdadeiro desastre). E agora, seguindo a fórmula da Marvel, cujo universo culmina nos longas dos Vingadores, temos finalmente o encontro entre os dois titãs neste Godzilla vs. Kong, um filme que durante grande parte do tempo parece querer desperdiçar a própria premissa. E se isso não ocorre, deve-se precisamente aos dois monstros do título.

Em Godzilla vs. Kong, vemos um grupo liderado pela dupla Nathan Lind e Ilene Andrews (Alexander Skarsgård e Rebecca Hall, respectivamente) levar Kong em uma missão para adentrar o núcleo do planeta até a área da Terra Oca, local onde deverá ser explicada a origem dos monstros. Missão esta que é financiada pelo ricaço Walter Simmons (Demián Bichir) depois de Godzilla realizar um ataque aparentemente sem ter sido ameaçado. Mas tendo em vista que os dois gigantes têm uma antiga rivalidade, Godzilla não facilita o caminho da missão. Enquanto isso, a jovem Madison Russell (Millie Bobby Brown, reprisando seu papel de Godzilla 2) se junta ao amigo Josh (Julian Dennison) e ao conspiracionista Bernie (Brian Tyree Henry) para entender por que Godzilla resolveu atacar.

Honestamente, chega a ser triste ver que Godzilla vs. Kong tenta contar uma história. Na tentativa de criar uma justificativa para o embate entre os personagens-título (aspecto que até ocorre naturalmente, vale apontar), o fraquíssimo roteiro nos coloca diante de uma trama previsível e que investe tempo em elementos bobos, dando a impressão de que quer inventar coisas sem muita necessidade, com o próprio conceito da Terra Oca sendo mal utilizado para explicar a origem dos titãs. Isso, porém, nem se compara ao desenvolvimento absolutamente risível dos personagens humanos. Aqui, eles surgem como figuras desinteressantes, unidimensionais e sem qualquer arco dramático, mesmo que o roteiro dê sinais de que gostaria de desenvolver algo nesse sentido, como ao mencionar o irmão de Nathan e uma antiga missão envolvendo a Terra Oca. Assim, sempre que o filme dá atenção aos humanos é inevitável que a narrativa perca o ritmo e se torne enfadonha, algo que o diretor Adam Wingard infelizmente não consegue contornar, ainda mais quando vemos o núcleo de Madison, Josh e Bernie, que soa tão estúpido e inútil que acaba irritando mais que qualquer outra coisa.



Quando foca no quebra-pau entre Godzilla e Kong, porém, o filme ganha pontos e compensa um pouco seus problemas. Nesse quesito, Wingard (que já mostrou habilidade com cenas de ação em produções de escala bem menor, como os ótimos Você é o Próximo e O Hóspede) concebe sequências que fazem jus aos gigantes e aproveita as vantagens e desvantagens que um pode ter em relação ao outro, mostrando que nenhum deles é invencível. Aliás, se o filme tem algum centro emocional, este se encontra exatamente entre esses dois personagens, que são figuras interessantes (seja pelo que foi estabelecido nesta franquia ou pela trajetória deles em décadas de aparições cinematográficas) e têm motivações e vulnerabilidades que os humanizam. Portanto, por mais que o espetáculo de explosões e destruições não tenha peso na narrativa, pouco importando as pessoas que devem padecer nos escombros, ainda assim é relativamente fácil para o público se importar com o que acontece com Godzilla e Kong nas lutas, que ganham um tom mais grandioso graças a trilha composta por Tom Holkenborg.

Com isso, mesmo sendo bem irregular, podemos dizer que Godzilla vs. Kong ao menos funciona naquilo que realmente importa em sua narrativa. Ver o título do filme ganhar vida na tela é o que ele tem de melhor, e até por isso lamento que nossa realidade atual não nos permita assistir a ele em uma sala de cinema. Mas talvez essa pudesse ser uma obra mais consistente caso não precisasse desviar tanto seu foco.


Nota:



*********************************************

Ouçam também o nosso episódio do Tem Pauta! sobre o filme.

terça-feira, 30 de março de 2021

Levante: Festival de Curtas-Metragens de Pelotas

Uma das coisas mais fascinantes em festivais de cinema é a oportunidade de ver no mesmo espaço uma série de obras absolutamente diversas. Não foi diferente com o Levante: Festival de Curtas-Metragens de Pelotas, cuja primeira edição ocorreu de maneira online entre os dias 23 e 29 de março. Idealizada por João Fernando Chagas e Rubens Fabricio Anzolin (meu colega na Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul – ACCIRS), o festival exibiu ao longo da semana 32 curtas organizados em três mostras diferentes (Levante, Animada e Paralela), além de trazer os filmes do cineasta pernambucano Felipe André Silva em uma Mostra Retrospectiva. E todos os trabalhos exibiam propostas, técnicas e narrativas bastante distintas umas das outras.

Fui convidado para fazer parte do Júri da Crítica do festival, junto de outros colegas da ACCIRS, Carlos André Moreira e Luciana Caldas. Foi a minha primeira experiência como jurado e posso dizer que foi bastante enriquecedora.

Abaixo deixo a lista de premiados do festival, assim como o vídeo com a cerimônia de encerramento no qual apareço rapidamente fazendo comentários.

Premiações segundo o Júri Oficial:

Mostra Levante

Melhor Filme: Dez Conto, de Bruno Maciel – uma produção que tem em sua simplicidade seu grande valor. Produzido com apenas dez reais (como é dito nos créditos finais), Dez Conto entretém com uma história que prima pelo nonsense enquanto faz referências a diversas obras cinematográficas (desde O Poderoso Chefão até os recentes filmes da Marvel).

Menção especial: O Último Cinema de Rua, de Marçal Vianna

Contribuição artística: Maresia, de Ju Choma e Rodrigo Tomita

Mostra Animada

Melhor Filme: Subnews: Uma Aventura Submarina, de Alex Sandro – mostrando o grande embate entre o submarino SUBNEWS comandado pelo Capitão Verun e a Federação FakeNews, esta animação em stop motion diverte com sua história e com seus personagens excêntricos. E como a própria premissa indica, o filme aborda de maneira leve um tema bastante atual, envolvendo a luta da verdade contra a falácia, a mentira.

Menção especial: Vento Viajante, dos alunos do Projeto Animação Ambiental/Instituto Marlin Azul

Contribuição artística: Magnética, de Marco Arruda

Premiação segundo o Júri Popular:

Melhor Filme: Dez Conto, de Bruno Maciel

Premiação segundo o Júri da Crítica ACCIRS: (comentário feito em colaboração com Carlos André Moreira e Luciana Caldas)

Melhor Filme: As Canções de Amor de Uma Bixa Velha, de André Sandino Costa – Um documentário realizado com grande segurança técnica e que enfoca um personagem fascinante. O trabalho de fotografia consegue também apresentar Januário em seu espaço, tornando-o centro de um universo retratado com beleza e sensibilidade. O espaço em que o artista habita é um elemento tão informativo e constituinte da sua personalidade quanto as declarações colhidas nas entrevistas. Os realizadores concebem uma carta de amor a diversidade social e cultural do nosso país, embalada por canções que até hoje povoam o nosso imaginário.

Menção honrosa: A Escola é Nossa!, de Othilia Balades

Prêmio do Centro Técnico Audiovisual (CTAv):

Projeto escolhido: Jornada de 16 Horas, de Clara Henriques e Luíza França

terça-feira, 23 de março de 2021

Liga da Justiça de Zack Snyder

Uma das maiores frustrações que um artista pode ter é ver seu nome ligado a uma obra pela qual ele não se sente responsável. Parece ter sido assim com Zack Snyder e a versão do cinema de Liga da Justiça, lançada em 2017. Tendo se afastado do projeto durante a pós-produção devido a uma tragédia pessoal (o suicídio de sua filha), Snyder viu o filme ir parar nas mãos de Joss Whedon, que escreveu novas cenas e refilmou outras a fim de montar o produto que o estúdio queria, mas mantendo o nome de Snyder nos créditos de direção (Whedon foi creditado como corroteirista). E apesar de eu não achar essa versão tão ruim como a maioria aponta, ainda assim a impressão que os bastidores passam foi de que um grupo se reuniu para fazer um trabalho escolar, mas colocou o nome de um colega que pouco participou de suas decisões, fazendo-o ser responsável pela nota baixa. Tendo tudo isso em vista, é justo que Snyder tenha a chance de mostrar ao público o filme que havia realizado na época. E agora que podemos finalmente conferi-lo, é preciso admitir que o diretor tinha na cabeça uma abordagem e preferências melhores com relação ao material que tinha em mãos.

Este Liga da Justiça de Zack Snyder mostra que, após a morte de Superman (Henry Cavill) em Batman vs. Superman, o mundo está prestes a encarar a ameaça do poderoso Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), que quer encontrar três Caixas Maternas para preparar a Terra para o domínio de seu mestre Darkseid (Ray Porter). Tendo isso em vista, Bruce Wayne (Ben Affleck) tem a ajuda de Diana Prince (Gal Gadot) para formar um grupo de super-heróis que possa enfrentar tal ameaça, conseguindo recrutar Arthur Curry (Jason Momoa), Barry Allen (Ezra Miller) e Victor Stone (Ray Fisher), também conhecidos como Aquaman, Flash e Ciborgue.

Talvez vocês não tenham notado, mas eu praticamente apenas reescrevi a sinopse da minha crítica do Liga da Justiça de 2017, fazendo apenas algumas alterações. E é mais ou menos isso que essa versão de Zack Snyder faz, já que a história é exatamente a mesma, com o diretor trazendo para a narrativas as subtramas e as decisões criativas que havia imaginado originalmente. O tom sombrio do filme, por exemplo, pode não ter funcionado tão bem em Batman vs. Superman, mas aqui contribui para dar peso a narrativa, algo ressaltado pela trilha de Tom Holkenborg.

Aliás, se Batman vs. Superman não dava conta de todos os elementos de sua história, de forma que muitas vezes ele parecia querer ser vários filmes e mal conseguia ser um só, este Liga da Justiça envolve o espectador em uma narrativa que desenvolve melhor a trama e os personagens, talvez porque Zack Snyder se viu com a liberdade e o espaço para isso. Assim, entendemos melhor os dramas dos heróis e o que os move, algo que faz com que eles não sejam meras peças unidimensionais no tabuleiro. Nisso, é preciso destacar principalmente o lado pessoal de Ciborgue e a relação com o pai Silas Stone (Joe Morton), certamente um dos pontos mais altos do filme. Da mesma maneira, até o Lobo da Estepe se torna um vilão infinitamente melhor que o desastre visto na versão do cinema, com sua ameaça ficando clara e ele sendo mais interessante como personagem graças a suas motivações e a fidelidade a Darkseid.

Assim como a outra versão, porém, este Liga da Justiça não é à prova de problemas. Por conta do tom sombrio imposto por Snyder, as piadinhas do roteiro soam bastante deslocadas, prejudicando um pouco o Flash de Ezra Miller, já que ele é o responsável por grande parte delas. Mas o grande problema certamente está no fato de Zack Snyder dar atenção a momentos e cenas que não deixam de ser descartáveis, servindo apenas para inflar o longa, que tem quatro horas de duração (aliás, por mais que este filme seja a visão original do diretor, eu duvido que ele fosse lançar uma obra de quatro horas nos cinemas em 2017, mas isso é só uma observação). Sendo assim, há certos pontos que parecem ter sido incluídos no filme por puro preciosismo de Snyder, como quando vemos um grupo de mulheres cantar em coral quando Arthur Curry mergulha no mar ou a cena da visita de Martha Kent (Diane Laine) a Lois Lane (Amy Adams). As sementes que o diretor planta para uma continuação também soam desnecessárias considerando que, ao menos hoje, não há certeza alguma de que veremos os frutos dessas sementes futuramente (aqui me refiro principalmente a uma sequência envolvendo um clássico vilão, que chega a ser constrangedoramente ruim).

Apesar disso, este Liga da Justiça de Zack Snyder surge como uma obra mais completa e coerente com o que vinha sendo realizado na franquia até então, ao menos quando comparada com a versão lançada anteriormente. No fim, é mais uma prova de como interferências de estúdio, mesmo sendo comuns em superproduções como essa, podem sacrificar uma narrativa melhor.


Nota:




Confira também o episódio do Tem Pauta! que gravamos sobre o filme.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Tem Pauta! #6 - Falando Sobre Eu Me Importo


Não cheguei a comentar por aqui, mas no final de 2020 iniciei um podcast em parceria com Jeferson Derfim, um de meus grandes amigos dos tempos de faculdade. O nome do podcast é Tem Pauta! e a nossa proposta, basicamente, é falar sobre qualquer coisa que a gente se sinta confortável e seguro para debater, o que pode ir desde a atual pandemia do coronavírus até, claro, cinema. E o episódio que lançamos hoje tem a ver com este último. O filme Eu Me Importo foi lançado no mês passado pela Netflix e tanto eu quanto o Jeferson ficamos com vontade de conversar sobre ele. Deixo abaixo o link para o episódio no Spotify. E claro, ficaremos muito agradecidos a quem quiser nos seguir por lá.


domingo, 17 de janeiro de 2021

Os Melhores e os Piores Filmes de 2020

Como muitos já devem ter cansado de dizer, 2020 foi um ano profundamente atípico. Falando só na parte de cinema, a pandemia de coronavírus fechou salas de exibição por um longo período, fez muitos lançamentos serem adiados e motivou estúdios a tomarem decisões drásticas. De minha parte particular, a pandemia chegou a tirar a vontade de ver filmes, algo que eu nunca havia experenciado desde que comecei acompanhar e a estudar a sétima arte. Ir ao cinema definitivamente foi algo que fez (e ainda faz) uma falta absurda nesse sentido, já que em casa encontrei sérias dificuldades de focar e fazer as coisas que eu mais gostava (ou melhor, gosto) de fazer. Ao menos as minhas idas ao cinema em 2020 foram bem encerradas, já que o último filme que vi em uma tela grande foi o ótimo O Homem Invisível. Mas retornaremos a programação normal depois da vacina.

Diante desse caos (que não acabou ainda e não tem previsão de acabar, ao contrário do que dizem negacionistas como o presidente), por um bom tempo fiquei pensando se seria legal fazer as listas de fim de ano que sempre faço aqui no Linguagem Cinéfila. Como ser justo tendo em vista os impactos que a pandemia teve no cinema e o fato de eu não ter conseguido assistir a tantos lançamentos quanto eu gostaria? Mas se você está aqui lendo essas palavras, é porque eu achei melhor publicar alguma coisa.

Por conta de todos esses fatores, decidi que as listas desse ano seriam diferentes. Ao contrário das ocasiões anteriores, não irei fazer um ranking com dez melhores filmes e dez piores filmes entre as produções lançadas. Ao invés disso, decidi eleger três filmes como os melhores de 2020 e três como os piores de 2020, algo um pouco mais simples e enxuto.

Sem mais delongas...

Os piores filmes lançados comercialmente no Brasil em 2020:

O Grito (The Grudge), de Nicolas Pesce


A Hora da Sua Morte (Countdown), de Justic Dec


Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy), de Rupert Goold


Menções desonrosas:

2020 Nunca Mais (Death to 2020), de Al Campbell e Alice Mathias

Artemis Fowl, de Kenneth Branagh

Bloodshot, de Dave Wilson

Dolittle, de Stephen Gaghan

Os Orfãos (The Turning), de Floria Sigismondi

Você Deveria Ter Partido (You Should Have Left), de David Koepp


Os melhores filmes lançados comercialmente no Brasil em 2020:

AmarElo: É Tudo Pra Ontem, de Fred Ouro Preto



Estou Pensando em Acabar Com Tudo (I’m Thinking of Ending Things), de Charlie Kaufman



Retrato de Uma Jovem em Chamas (Portrait de la Jeune Fille en Feu), de Céline Sciamma


Menções honrosas:

Adoráveis Mulheres (Little Women), de Greta Gerwig

Alice Júnior, de Gil Baroni

Borat: Fita de Cinema Seguinte (Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan), de Jason Woliner

Destacamento Blood (Da 5 Bloods), de Spike Lee

O Farol (The Lighthouse), de Robert Eggers

O Homem Invisível (The Invisible Man), de Leigh Whannell

Joias Brutas (Uncut Gems), de Benny Safdie e Josh Safdie

Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighbourhood), de Marielle Heller

Má Educação (Bad Education), de Cory Finley

Para Sama (For Sama), de Waad Al-Kateab e Edward Watts

O Som do Silêncio (Sound of Metal), de Darius Marder

*************************************************************************

É isso. Esperemos que 2021 seja um ano um pouco melhor em todos os quesitos. Tudo bem que até agora ele não deu muitos indícios de que será diferente, mas torçamos para que isso mude. Depois do desgaste de 2020, precisamos urgentemente de um sopro de ar fresco.