quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Sobreviventes: Depois do Terremoto

Candidato da Coreia do Sul para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar deste ano, Sobreviventes: Depois do Terremoto se diferencia do que poderíamos esperar de um filme-catástrofe ao evitar trazer seus personagens em constantes cenas de ação nas quais eles lutam para sobreviver a uma catástrofe natural, preferindo ao invés disso focar mais nas consequências do desastre e fazendo comentários sócio-políticos em meio ao contexto que apresenta. Escrito pelo diretor Um Tae-hwa em parceria com Lee Shin-ji, o filme tem início mostrando a grande valorização que as pessoas dão ao fato de terem onde morar, apenas para logo em seguida um absurdo terremoto mandar tudo pelos ares. Ou melhor, quase tudo, já que um condomínio conseguiu se manter intacto no meio de toda a destruição. E a partir daí passamos a acompanhar moradores do edifício, como o casal Kim Min-seong e Joo Myeong-hwa (vividos por Park Seo-joon e Park Bo-young, respectivamente), precisando se adaptar a uma nova forma de viver enquanto pessoas de fora que perderam tudo são tratadas como forasteiras, principalmente depois que Kim Yeoung-tak (Lee Byung-hung) é eleito líder do condomínio, iniciando uma espécie de utopia por ali.


O filme procura fazer comentários e críticas sociais que são bastante pertinentes, mas o roteiro não deixa de soar um tanto básico ao abordar essas questões, de maneira que durante boa parte do filme tive a impressão de estar assistindo a algo que poderia se chamar “Sociologia Para Leigos”. Há conflitos que acabam sendo bastante previsíveis devido ao elitismo que passa a mover personagens como Kim Yeoung-tak, ao passo que muitas vezes o filme procura mostrar como o egoísmo e a hipocrisia dos moradores são fontes dos problemas que eles enfrentam. Isso é apontado sem nenhuma sutileza por Um Tae-hwa, como quando Kim Min-seong reclama que as pessoas não são mais solidárias enquanto ele próprio se esconde para consumir uma lata de pêssego para não precisar dividir, ou quando os chamados forasteiros são expulsos do condomínio e a câmera foca uma placa religiosa de “Amai-vos uns aos outros”. São detalhes que dão a impressão de que o diretor não confia muito na inteligência do espectador, martelando o máximo que pode suas mensagens a fim de deixar tudo demasiadamente esclarecido.


No entanto, se Sobreviventes não capricha muito nesses quesitos, ele ao menos funciona bem como thriller, com Um Tae-hwa utilizando o que sabemos sobre os personagens e a desumanização que assola aquela comunidade para criar momentos de tensão muito eficientes. E nisso é preciso destacar também a atuação de Lee Byung-hung, que faz do líder Kim Yeoung-tak uma figura cuja presença se torna gradativamente ameaçadora, se contrapondo a delicadeza com a qual Park Bo-young interpreta Joo Myeong-hwa, que se mostra a personagem mais empática da história e que, por isso, funciona como a bússola moral do filme.

Apesar de não ser tão interessante quanto sua ambição e suas ideias, Sobreviventes ainda se revela uma obra eficaz, conseguindo envolver o espectador na situação de seus personagens e merecendo alguns créditos também por conseguir fugir um pouco do lugar-comum dos filmes-catástrofe, considerando que o gênero em si já é bastante engessado por fórmulas narrativas.


Nota:


Um comentário:

Bruno Farinon disse...

Uma baita premissa. Apesar da nota 3 acho que vou colocar no meu radar.