quarta-feira, 19 de abril de 2023

A Morte do Demônio: A Ascensão

Duvido que Sam Raimi, Bruce Campbell e toda a equipe do modesto e excepcional A Morte do Demônio imaginavam que, ao lançarem o filme em 1981, estariam iniciando uma franquia que ainda renderia frutos 42 anos depois. E ao longo desse período, é bacana notar como a franquia se mantém consistente e coesa mesmo passando por diversas mentes criativas e formatos (já tivemos série de TV e jogos de videogame, por exemplo), além de estar cada vez mais determinada a abraçar qualquer sanguinolência absurda de seu universo. São coisas que seguem firmes e fortes neste A Morte do Demônio: A Ascensão, o quinto filme da série.

Escrito e dirigido por Lee Cronin, A Ascensão inicia quando Beth (Lily Sullivan) vai visitar sua irmã, Ellie (Alyssa Sutherland), e os três filhos dela, Bridget, Danny e Kassie (Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher, respectivamente), que moram em um prédio que está literalmente caindo aos pedaços. Seria uma oportunidade perfeita para que todos tentassem lidar juntos com seus problemas pessoais. Mas tudo vira de cabeça para baixo quando o trio de irmãos encontra um volume do Livro dos Mortos nos confins do edifício, o que eventualmente acaba por libertar os demônios que passam a infernizar a vida da família.

Assim como o eficaz reboot dirigido por Fede Alvarez em 2013, A Ascensão não tem conexões com os capítulos anteriores da franquia, apresentando novos personagens e até mesmo uma nova localização, saindo de uma cabana isolada no meio da floresta e indo para um local mais urbano. Isso, porém, não impede Lee Cronin de criar uma atmosfera claustrofóbica, situando quase toda a narrativa dentro dos limites do prédio e agarrando quaisquer oportunidades para mostrar que os personagens não têm para onde fugir, o que contribui com a sensação de angustia gerada pelo desenrolar da trama. Mas muito dessa sensação se deve também porque Cronin sabiamente dedica o primeiro ato do filme para estabelecer Beth, Ellie e as crianças como figuras em uma situação vulnerável em suas vidas particulares e cujo carinho uns pelos outros é muito claro, o que facilita a identificação do público com eles e, consequentemente, dá mais peso para a tensão que passam a viver.


E quando a tensão começa, ela não para mais. Pontualmente, Lee Cronin até pode cair em sustos batidos, mas de modo geral ele exibe segurança na condução do terror que toma conta da história, criando momentos visualmente interessantes como a sequência que vemos através do olho mágico de uma porta. Mas o diretor se sai ainda melhor ao investir no alto grau de violência, uma das marcas registradas da série e que volta a render cenas divertidamente aflitivas ou de puro banho de sangue. O terceiro ato acaba sendo o grande destaque nesse sentido, chegando até a fazer referência a O Iluminado (por sinal, o clássico de Stanley Kubrick certamente serviu de inspiração para o filme). Mas é preciso apontar que A Ascensão causa arrepios mesmo quando a violência parte de coisas banais, e aqui devo admitir que um brevíssimo momento envolvendo um ralador dificilmente sairá da minha cabeça tão cedo.

A Morte do Demônio: A Ascensão já mereceria créditos por sua eficácia como filme de terror. Mas também acaba sendo interessante ver o longa conseguir injetar uma boa dose de frescor a uma franquia tão longeva, algo que por tabela não deixa de ressaltar o rico potencial do material que Sam Raimi e seus amigos conceberam há quatro décadas.

Nota:



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