“O Maior Detetive do Mundo”.
Essa
é uma das várias formas como o Batman é conhecido em suas origens nos
quadrinhos, sendo que as habilidades investigativas do personagem podem ser
vistas em maior ou menor grau em suas adaptações cinematográficas. Mas esse
aspecto do super-herói nunca foi tão explorado como é neste Batman dirigido por Matt Reeves (dos
dois filmes mais recentes de Planeta dos
Macacos). Dessa vez, o Homem-Morcego surge em uma história que exibe claros
ecos de clássicos policiais como Operação
França e Seven.
Escrito
por pelo próprio Matt Reeves e por Peter Craig, Batman nos apresenta a Bruce Wayne (Robert Pattinson) dois anos
depois de ele ter começado sua carreira no combate ao crime. Ganhando cada vez
mais notoriedade em Gotham City, o herói se junta ao tenente James Gordon
(Jeffrey Wright) para encarar a ameaça do Charada (Paul Dano), um serial killer
que parece saber todos os podres dos poderosos da cidade, punindo-os
brutalmente e desafiando Batman com os enigmas que deixa nas cenas de seus
crimes.
O
filme ter um tom e um visual sombrio não é uma grande novidade considerando que
esse é o tipo de abordagem que impera quando falamos de Batman no cinema (com
exceção, claro, das pérolas dirigidas por Joel Schumacher). Talvez a diferença
que podemos dizer que o longa tem em relação aos trabalhos de Tim Burton,
Christopher Nolan e Zack Snyder é que Matt Reeves, com auxílio da fotografia de
Greg Fraser e do design de produção de James Chinlund, coloca um pouco mais de
crueza em sua ambientação de Gotham City, que surge com um visual cinzento e sujo
que reflete a corrupção que tanto a ocupa. É algo que até ajuda os atos de
violência que surgem na tela a terem um pouco mais de impacto.
Mas
como falei inicialmente, Batman é
primordialmente uma história de detetive, sendo interessante ver como sua
narrativa chega a beber direto da fonte dos filmes noir, tendo elementos comuns do gênero como a narração em off, a femme fatale (aqui representada pela Selina Kyle/Mulher-Gato
interpretada por Zoë Kravitz) e o já citado tom mais sombrio em uma história
que envolve violência e corrupção, detalhes que ajudam a narrativa a ser tão instigante.
Além disso, as investigações do herói para tentar parar o Charada mantêm o
espectador curioso quanto ao que está acontecendo, com Matt Reeves trazendo o
protagonista utilizando suas tecnologias avançadas, sua inteligência e seu raciocínio
lógico para analisar as pistas que encontra e conectar os pontos necessários. E
o roteiro é hábil ao levar a história de um ponto a outro com naturalidade, o
que contribui para que as quase três horas de projeção não soem tão cansativas.
Já as cenas de ação que pontuam a trama também são bem conduzidas por Reeves,
que capricha para que as pancadarias e perseguições sejam empolgantes e
envolventes, além de chamarem a atenção por um ponto de vista puramente
estético, como podemos ver na luta em que tiros de metralhadoras iluminam os
movimentos rápidos do herói.
Ao mesmo tempo, Batman também não deixa de ser um belo estudo de personagem. Ao situar a trama nos anos iniciais de Bruce Wayne como Batman, o filme aproveita a oportunidade para apresentar o protagonista como alguém que ainda está aprendendo a melhor forma de agir e de encarar sua cruzada contra o crime, vendo gradualmente como vingança pode não ser o melhor foco para se ter diante de uma luta tão grande. E o ótimo Robert Pattinson encarna bem a inexperiência do personagem, criando ainda um Bruce Wayne mais afastado da sociedade e mergulhado em seus traumas. Já Zoë Kravitz, além de conceber uma clássica femme fatale com objetivos próprios em Selina Kyle, tem uma dinâmica bastante contrastante com o Batman de Pattinson, sendo ela uma figura muito mais impulsiva, e por conta disso os personagens agregam bastante à visão de mundo um do outro.
Jeffrey
Wright, por sua vez, esbanja segurança encarnando a integridade de James
Gordon, ao passo que Andy Serkis se destaca ao fazer do mordomo Alfred alguém
que não serve só como uma figura paterna para Bruce Wayne, sendo também a única
conexão forte que o protagonista tem com o resto do mundo e com o passado de
sua família. E se John Turturro e, principalmente, Colin Farrel (por baixo de
um montante de maquiagem) aproveitam bem seu pouco tempo de tela como Carmine
Falcone e o Pinguim, Paul Dano surge intimidador desde sua primeira cena como o
Charada. Lembrando muito o Assassino do Zodíaco com toques do Jigsaw da série Jogos Mortais, o vilão de Dano é
totalmente desequilibrado, uma hora assustando com seus gritos durante um
ataque e em outra deixando o espectador tenso com sua frieza e sua respiração
abafada.
Acredito
que ainda é cedo para afirmar se este novo Batman
será lembrado como um clássico do gênero de super-heróis como ocorre com O Cavaleiro das Trevas. Mas por ora,
acho que é seguro dizer que temos aqui mais uma adaptação muito digna do
Homem-Morcego. E se muitos filmes do gênero pouco têm se arriscado a fazer
coisas diferentes, uma produção como essa acaba sendo um sopro de ar fresco.
Nota:
Um comentário:
Realmente um baita filme. Pra mim, o aspecto noir fez ele destoar daquilo que se espera de filmes de super heroes, e isso deu MUITO certo!
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