Apresentada em Capitão América: Guerra Civil, a nova
versão do Homem-Aranha nos cinemas (a terceira depois daquelas de Tobey
Maguire e Andrew Garfield) mostrou ser uma figura divertida e cheia de energia,
estabelecendo-se como um elemento de destaque naquele ótimo longa lotado de
super-heróis. Diversão, aliás, é a palavra-chave deste Homem-Aranha: De Volta ao Lar, novo filme-solo do personagem e que
traz uma narrativa disposta a fazer jus ao que o herói apresentou naquela breve
participação, conseguindo ser uma produção que entretém o espectador imensamente
durante toda a projeção.
Com um roteiro que passou pelas
mãos de três duplas de roteiristas, Homem-Aranha:
De Volta ao Lar retoma a história do jovem Peter Parker (Tom Holland) alguns
meses depois de ele ter se metido na briga que os Vingadores tiveram entre si,
tentando lidar tanto com sua vida escolar e pessoal quanto com a vida de herói.
Nisso, ele se esforça ao máximo para provar seu valor a Tony Stark (Robert
Downey Jr.), que o mantém sob sua supervisão. É então que Peter se depara com a
ameaça de Adrian Toomes (Michael Keaton), também conhecido como Abutre, que ao
lado de sua gangue tem usado utensílios alienígenas da Batalha de Nova York (vista
no primeiro Os Vingadores) para
cometer crimes.
Assim é colocado nos trilhos um
filme que desde o início busca explorar as melhores qualidades de seu
protagonista, desde seu senso de humor até sua empolgação juvenil, detalhes que
já se estabelecem logo no começo quando vemos um breve documentário que o
próprio personagem realizou com seu celular, trazendo sua visão dos acontecimentos
em Guerra Civil de maneira muito
divertida. E enquanto esses elementos são bem utilizados para criar uma
narrativa leve e que rende vários risos, o diretor Jon Watts não esquece de
desenvolver a humanidade de Peter Parker, mostrando que ele é um adolescente que
está passando por questões comuns do período (seja a vida escolar e seus
compromissos ou até o interesse amoroso não correspondido), sendo difícil não
notar também a atenção dada a própria humildade do rapaz, que ainda anda de
ônibus, frequenta a lojinha da esquina e mora em um apartamento pequeno com sua
tia May (Marisa Tomei), figura que ele se esforça para não preocupar. São
detalhes pequenos, mas que ajudam o espectador a se aproximar do personagem, além
de diferencia-lo bastante da maior parte dos outros heróis do universo do qual
faz parte.
No entanto, se por um lado Jon
Watts acerta em cheio no tom da narrativa, na energia que a permeia e no
próprio timing das piadas que vão
surgindo ao longo do caminho, por outro ele não chega a conduzir cenas de ação
particularmente empolgantes. É indubitavelmente divertido ver o Homem-Aranha em
ação e Watts até se esforça para criar grandes momentos nesse aspecto (a sequência
do elevador em Washington e a outra envolvendo uma barca são as principais),
mas é um pouco decepcionante que o diretor aposte na cartilha da montagem
picotada e dos rápidos movimentos de câmera, de forma que o resultado na tela acaba
sendo confuso, principalmente quando as cenas são situadas à noite, já que a
escuridão se torna mais um obstáculo para a compreensão do que está acontecendo.
E se digo isso tendo assistido a cópia 2D do filme, imagino que a 3D piore tudo.
Por sorte isso não chega a prejudicar gravemente a narrativa, que ainda
consegue manter o espectador envolvido com a história e seus personagens
durante a maior parte do tempo.
Falando nos personagens, vale
dizer que o elenco talentoso faz um belo trabalho com eles. A começar por Tom Holland,
que encarna Peter Parker com um carisma impressionante ao mesmo tempo em que
mostra como o rapaz simplesmente adora ser o Homem-Aranha, encarando com gosto qualquer
tipo de altruísmo que possa exercer, por mais que ainda tenha muito a aprender.
O ator também tem uma ótima dinâmica tanto com o expressivo Jacob Batalon (que
interpreta Ned, o melhor amigo de Peter) quanto com Jon Favreau (de volta ao
papel de Happy Hogan dos longas do Homem de Ferro) e Robert Downey Jr. Este
último, por sinal, nunca tenta roubar o filme para si com suas pontuais
aparições (que em determinados momentos são verdadeiros deus ex machina). Aqui, Tony Stark assume um natural papel de
mentor, mostrando-se genuinamente preocupado em fazer de Peter um super-herói melhor
que ele. E se Marisa Tomei tem uma presença simpática e vivaz como a tia May,
apesar de não ter muito espaço para desenvolvê-la (tomara que isso seja
corrigido futuramente), Michael Keaton cria em Adrian Toomes um vilão que já se
coloca entre os melhores desse universo da Marvel, se destacando não tanto pela
ameaça que representa, mas sim por ter motivações plenamente compreensíveis e
surpreendentemente dignas, revelando-se um indivíduo que se revolta por ver os
poderosos sempre jogando os menos afortunados para baixo e que quer cuidar de
sua família de qualquer jeito.
Este novo Homem-Aranha
dos cinemas encanta o público com certa facilidade. Até por isso é bom vê-lo
render um filme eficiente como este Homem-Aranha:
De Volta ao Lar, que aproveita admiravelmente o potencial do personagem que
tem em mãos e já nos deixa curiosos quanto a suas futuras aventuras.
Obs.: Há cenas durante e depois dos
créditos finais.
Nota:
Um comentário:
Gostei muito, muito boa recomendação! Diferente de vários outros filmes de heróis que aparecem por aí, Homem-Aranha: De Volta ao Lar não deixa de lado o que Peter Parker é como ser humano. Ele quer ser aceito. Quer mostrar que é capaz. Estamos falando da essência, daquilo que faz o personagem ser um dos mais amados do mundo. Apesar dos superpoderes que vieram da picada daquela aranha radioativa, Peter Parker é gente como a gente. Com muito bom-humor, cenas de ação que não tentam destruir o mundo a cada 30 minutos e muito drama pessoal, De Volta ao Lar é o filme que os fãs queriam tanto ver. A trama, embora simplista, é eficiente. De Volta ao Lar também consegue se sustentar como filme próprio, evitando equívocos recentes de filmes do gênero cujo único propósito parece ser criar conexão com outras produções vindouras.
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