Um dos grandes talentos
britânicos que surgiram na década passada, o diretor Matthew Vaughn tem meio
que se especializado em adaptações de histórias em quadrinhos, com seus três
últimos projetos nascendo nessa mídia. O que é interessante notar, porém, é
como seu trabalho é admirável dentro desse subgênero. Enquanto o ótimo Kick-Ass trazia heróis inusitados numa
narrativa divertidamente absurda, o excepcional X-Men: Primeira Classe fez jus aos personagens e às discussões
sociais que fazem aquela franquia ser tão fascinante. Já este Kingsman: Serviço Secreto lembra Kick-Ass ao brincar com elementos de um
subgênero específico (dessa vez são os filmes de espionagem), resultando em um
entretenimento eficiente e cativante.
Escrito por Vaughn e por sua
parceira habitual Jane Goldman a partir dos quadrinhos de Mark Millar (de
Kick-Ass) e Dave Gibbons (de Watchmen), Kingsman
nos apresenta a Gary “Eggsy” Unwin (Taron Egerton), um jovem que faz o tipo
rebelde que só se mete em confusão. Ao escapar de ser preso graças à ajuda de
Harry “Galahad” Hart (Colin Firth), ele descobre que seu pai era membro da
agência de espionagem Kingsman, tendo morrido durante uma missão. É então que
depois da morte de outro colega, Galahad recruta Eggsy para que este dispute a
vaga dentro da organização junto com outros jovens aspirantes, enquanto que o bilionário
Richmond Valentine (Samuel L. Jackson) tem planos que podem colocar o mundo em
risco.
Quer dizer, é uma história que
mescla uma série de elementos bastante comuns, seja a relação entre mestre e
aprendiz, o vilão megalomaníaco que quer acabar com o mundo ou até mesmo a
competição para ver quem vai se tornar o novo agente de Kingsman. Isso sem
falar na capanga com habilidades letais ou nos acessórios de tecnologia
avançada usados pelos personagens. No entanto, o roteiro consegue ser subversivo
nesse sentido, dando um ar de frescor a seu material, sendo que ao mesmo tempo
ele não deixa de prestar homenagem a filmes de espionagem famosos, como os da franquia
007 ou os da série protagonizada por Harry Palmer, personagem interpretado por
Michael Caine. Caine que, aliás, aparece aqui no papel de Arthur, grande chefe da
Kingsman, em um casting inspirado do
filme.
Falando em casting inspirado, é impossível não destacar o ótimo elenco do
projeto. A começar por Colin Firth, ator que nunca imaginaríamos fazendo um
personagem de ação como Galahad, e exatamente por isso ele acaba sendo mais
interessante do que seria caso fosse interpretado por alguém conhecido dentro
do gênero. Firth traz cavalheirismo e elegância por trás do jeito um tanto frio
de Galahad, de forma que isso contrasta brilhantemente com a rapidez com que
ele age quando entra em ação. E se Mark Strong aproveita seu agente Merlin para
mostrar que seu talento não está restrito apenas a antagonistas, Samuel L.
Jackson surpreende ao encarnar Valentine como um sujeito quase inofensivo com
sua língua presa e horror a violência, fazendo dele um vilão muito divertido.
Mas a grande revelação de Kingsman é
mesmo o jovem Taron Egerton, que encarna Eggsy com carisma e determinação, se
saindo particularmente bem no arco dramático do personagem, que inicia como um
rebelde e gradativamente se torna um agente seguro daquilo que deseja, chegando
até a pegar certos maneirismos de Galahad, e os figurinos também ressaltam
muito bem essa transformação.
Enquanto isso, Matthew Vaughn
merece aplausos por encontrar equilíbrio entre o tom descontraído do projeto e sua
violência cartunesca, que inclui corpos partidos ao meio e membros sendo
decepados, detalhes que já havíamos visto de um jeito ou de outro em Kick-Ass. Mas o trabalho de Vaughn
também é admirável quando o assunto são as empolgantes cenas de ação, que são
conduzidas freneticamente, com direito até a planos mais longos onde a câmera
se mexe rapidamente ao seguir os personagens, mas sempre deixando claro para o
espectador o que está acontecendo. Nesse aspecto, a briga que ocorre em um bar,
a sequência da igreja e o terceiro ato que se passa todo no esconderijo de Valentine
representam alguns dos melhores momentos do filme.
Ao final de Kingsman, fica a ideia de Matthew Vaughn não só fez mais um belo filme
como também pode ter dado início a uma franquia interessante. Os personagens e
o universo no qual estão inseridos certamente têm potencial para render novas e
divertidas aventuras.
Obs.: Há uma breve cena pouco
depois do início dos créditos finais.
Nota:
2 comentários:
Talvez a mais grata surpreso desse início de ano. Divertido e eficaz. Uma parte técnica rica e um elenco afiado.
Só tenho lido críticas positivas a respeito desse filme. Mal posso esperar para assistir!
abraço
marcelokeiser.blogspot.com.br
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