terça-feira, 19 de agosto de 2014

Os Mercenários 3

Desde que Sylvester Stallone deu início a agora franquia Os Mercenários, a proposta dos filmes tem sido reunir astros de ação icônicos que, em sua maioria, viveram o ponto mais alto de suas carreiras entre as décadas de 1980 e 1990, mas que atualmente estão em decadência. Tal reunião é aproveitada para homenagear um pouco o gênero no qual eles fizeram tanto sucesso. É uma proposta bacana, mas que não tem sido tão bem aproveitada, e nenhum dos filmes da série tem mostrado muita relevância. Se o primeiro exemplar foi fraco, o segundo soube divertir com certa eficiência, o que foi o suficiente para agradar. Com a lógica de trazer mais astros a cada novo capítulo, a franquia chega a Os Mercenários 3 com um elenco ainda mais interessante, detalhe que praticamente salva o filme, que segue à risca a fórmula de seus antecessores.

Escrito por Sylvester Stallone em parceria com o casal Creighton Rothenberg e Katrin Benedikt, Os Mercenários 3 começa novamente com Barney Ross (Stallone), Lee Christmas (Jason Statham) e o resto da equipe em uma grande missão, dessa vez para resgatar Doutor Morte (Wesley Snipes), mais conhecido como Doc, velho amigo de Barney que costumava fazer parte do grupo original de Mercenários. Tudo isso para que o time tenha outro nome de peso para sua missão seguinte na Somália: eliminar o comerciante de armas Victor Min e interceptar seu carregamento. Mas lá eles descobrem que Min é na verdade o criminoso de guerra Conrad Stonebanks (Mel Gibson), que ajudou a fundar os Mercenários antes de trair o grupo. É então que Barney decide dispensar seus amigos para poupar a vida deles, preferindo ir atrás de Stonebanks com uma equipe jovem formada por Smilee (Kellan Lutz), Luna (Ronda Rousey), Thorn (Glen Powell) e Mars (Victor Ortiz).

Ao trazer logo de cara um Wesley Snipes com um visual acabado sendo resgatado da prisão por seus companheiros de gênero, Os Mercenários 3 faz uma brincadeira curiosa com a realidade, considerando que o ator realmente passou os últimos anos preso (e reparem que nem me referi a Snipes por seu personagem, já que a proposta da sequência é claramente colocar ele mesmo de volta à ativa). É uma sequência que ressalta o que mencionei inicialmente: a série existe para que esses ícones possam voltar aos holofotes, fazendo isso com bom humor. E mesmo que isso seja bastante saudosista, o diretor australiano Patrick Hughes (cuja experiência em longas- metragens se resume a Busca Sangrenta, que não vi ainda) não tenta engrandecer demais a presença de seus astros, não inserindo uma trilha grandiosa quando cada um aparece em cena, preferindo tratá-los como figuras comuns dentro daquele universo, o que se mostra acertado porque do contrário ele apenas destacaria de maneira óbvia o peso que aqueles nomes todos têm.

Quanto às cenas de ação, vale dizer que elas até são conduzidas com segurança por Hughes, merecendo destaque a grande energia que ele impõe na longa sequência do terceiro ato, que se passa em um prédio em construção. No entanto, o diretor investe em coisas que tiram muito da graça desse quesito do filme. Uma delas é a aparente indestrutibilidade dos personagens, que faz com que em nenhum momento o público sinta que eles correm risco de vida, destruindo qualquer tipo de tensão da narrativa. Contribui para isso também o velho clichê dos capangas com a pior pontaria do mundo, algo impressionante se levarmos em conta que eles têm à disposição desde tanques a helicópteros, enquanto que os heróis não precisam nem olhar para seus alvos para acertá-los, saindo ilesos na maioria das vezes (Stonebanks, inclusive, chega a fazer piada com isso). Para completar, o cineasta constrói boa parte das explosões e outras destruições através de efeitos visuais muito pouco convincentes.

Enquanto isso, o roteiro tem uma história maior do que a dos filmes anteriores, mas que traz elementos clichês e bobos, como a birra entre a velha guarda e a jovem guarda, além de ter um desenvolvimento um tanto previsível. E já que mencionei o sangue novo do elenco, vale dizer que isso é uma versão expandida do papel de Liam Hemsworth no filme anterior, e os personagens não deixam de ser uma maneira de representar os jovens que cresceram acompanhando as grandes estrelas do elenco. Ao menos é preferível vê-los dessa forma, porque se vier a depender de atores aborrecidos como Kellan Lutz para serem seus futuros astros, o cinema de ação provavelmente estará perdido.

Mas apesar seus problemas Os Mercenários 3 é capaz de divertir. Acompanhar figuras conhecidas da franquia como Stallone, Jason Statham e Arnold Schwarzenegger interagindo uns com os outros e com novos colegas ainda causa certo deleite, mesmo que já estejamos no terceiro exemplar da série e alguns deles apareçam apenas para pegar uma arma e sair atirando para todos os lados, como no caso de Jet Li. Ver todos esses caras lutando lado a lado nas cenas de ação, fazendo piadinhas e repetindo seus bordões (como Schwarzenegger faz em determinado momento) é o que o filme tem de melhor, e é o que o torna narrativamente interessante ao longo de suas duas horas de duração.

Merecendo destaque também a participação irritantemente engraçada de Antonio Banderas, interpretando Galgo, e a ótima vilania de Mel Gibson como Stonebanks (o segundo vilão consecutivo do ator, o que indica o quão suja está sua imagem), Os Mercenários 3 é outro filme da série que até poderia ter aproveitado melhor seu potencial. Mas por trazer heróis de ação se divertindo no meio que conhecem tão bem acaba rendendo algum entretenimento, mesmo não sendo um dos mais memoráveis.

Nota:

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