Desde que Sylvester Stallone deu
início a agora franquia Os Mercenários, a proposta dos filmes tem sido reunir astros
de ação icônicos que, em sua maioria, viveram o ponto mais alto de suas
carreiras entre as décadas de 1980 e 1990, mas que atualmente estão em
decadência. Tal reunião é aproveitada para homenagear um pouco o gênero no qual
eles fizeram tanto sucesso. É uma proposta bacana, mas que não tem sido tão bem
aproveitada, e nenhum dos filmes da série tem mostrado muita relevância. Se o
primeiro exemplar foi fraco, o segundo soube divertir com certa eficiência, o
que foi o suficiente para agradar. Com a lógica de trazer mais astros a cada
novo capítulo, a franquia chega a Os Mercenários 3 com um elenco ainda mais interessante,
detalhe que praticamente salva o filme, que segue à risca a fórmula de seus
antecessores.
Escrito por Sylvester Stallone em
parceria com o casal Creighton Rothenberg e Katrin Benedikt, Os Mercenários 3
começa novamente com Barney Ross (Stallone), Lee Christmas (Jason Statham) e o
resto da equipe em uma grande missão, dessa vez para resgatar Doutor Morte
(Wesley Snipes), mais conhecido como Doc, velho amigo de Barney que costumava
fazer parte do grupo original de Mercenários. Tudo isso para que o time tenha outro
nome de peso para sua missão seguinte na Somália: eliminar o comerciante de
armas Victor Min e interceptar seu carregamento. Mas lá eles descobrem que Min
é na verdade o criminoso de guerra Conrad Stonebanks (Mel Gibson), que ajudou a
fundar os Mercenários antes de trair o grupo. É então que Barney decide dispensar
seus amigos para poupar a vida deles, preferindo ir atrás de Stonebanks com uma
equipe jovem formada por Smilee (Kellan Lutz), Luna (Ronda Rousey), Thorn (Glen
Powell) e Mars (Victor Ortiz).
Ao trazer logo de cara um Wesley
Snipes com um visual acabado sendo resgatado da prisão por seus companheiros de
gênero, Os Mercenários 3 faz uma brincadeira curiosa com a realidade, considerando
que o ator realmente passou os últimos anos preso (e reparem que nem me referi
a Snipes por seu personagem, já que a proposta da sequência é claramente colocar
ele mesmo de volta à ativa). É uma sequência que ressalta o que mencionei
inicialmente: a série existe para que esses ícones possam voltar aos holofotes,
fazendo isso com bom humor. E mesmo que isso seja bastante saudosista, o
diretor australiano Patrick Hughes (cuja experiência em longas- metragens se
resume a Busca Sangrenta, que não vi ainda) não tenta engrandecer demais a
presença de seus astros, não inserindo uma trilha grandiosa quando cada um aparece
em cena, preferindo tratá-los como figuras comuns dentro daquele universo, o
que se mostra acertado porque do contrário ele apenas destacaria de maneira
óbvia o peso que aqueles nomes todos têm.
Quanto às cenas de ação, vale
dizer que elas até são conduzidas com segurança por Hughes, merecendo destaque
a grande energia que ele impõe na longa sequência do terceiro ato, que se passa
em um prédio em construção. No entanto, o diretor investe em coisas que tiram muito
da graça desse quesito do filme. Uma delas é a aparente indestrutibilidade dos
personagens, que faz com que em nenhum momento o público sinta que eles correm risco
de vida, destruindo qualquer tipo de tensão da narrativa. Contribui para isso também
o velho clichê dos capangas com a pior pontaria do mundo, algo impressionante se
levarmos em conta que eles têm à disposição desde tanques a helicópteros,
enquanto que os heróis não precisam nem olhar para seus alvos para acertá-los,
saindo ilesos na maioria das vezes (Stonebanks, inclusive, chega a fazer piada
com isso). Para completar, o cineasta constrói boa parte das explosões e outras
destruições através de efeitos visuais muito pouco convincentes.
Enquanto isso, o roteiro tem uma
história maior do que a dos filmes anteriores, mas que traz elementos clichês e
bobos, como a birra entre a velha guarda e a jovem guarda, além de ter um
desenvolvimento um tanto previsível. E já que mencionei o sangue novo do
elenco, vale dizer que isso é uma versão expandida do papel de Liam Hemsworth
no filme anterior, e os personagens não deixam de ser uma maneira de
representar os jovens que cresceram acompanhando as grandes estrelas do elenco.
Ao menos é preferível vê-los dessa forma, porque se vier a depender de atores aborrecidos
como Kellan Lutz para serem seus futuros astros, o cinema de ação provavelmente
estará perdido.
Mas apesar seus problemas Os
Mercenários 3 é capaz de divertir. Acompanhar figuras conhecidas da franquia
como Stallone, Jason Statham e Arnold Schwarzenegger interagindo uns com os
outros e com novos colegas ainda causa certo deleite, mesmo que já estejamos no
terceiro exemplar da série e alguns deles apareçam apenas para pegar uma arma e
sair atirando para todos os lados, como no caso de Jet Li. Ver todos esses
caras lutando lado a lado nas cenas de ação, fazendo piadinhas e repetindo seus
bordões (como Schwarzenegger faz em determinado momento) é o que o filme tem de
melhor, e é o que o torna narrativamente interessante ao longo de suas duas
horas de duração.
Merecendo destaque também a participação
irritantemente engraçada de Antonio Banderas, interpretando Galgo, e a ótima
vilania de Mel Gibson como Stonebanks (o segundo vilão consecutivo do ator, o
que indica o quão suja está sua imagem), Os Mercenários 3 é outro filme da série
que até poderia ter aproveitado melhor seu potencial. Mas por trazer heróis de
ação se divertindo no meio que conhecem tão bem acaba rendendo algum
entretenimento, mesmo não sendo um dos mais memoráveis.
Nota:
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