sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um Conto do Destino

Baseado no livro de Mark Helprin, Um Conto do Destino se passa majoritariamente em 1916 e conta a história de Peter Lake (Colin Farrell), ladrão que ao invadir uma mansão, achando que não há ninguém por ali, conhece a bela Beverly Penn (Jessica Brown Findlay), que está morrendo por causa da tuberculose. Eventualmente os dois se apaixonam, mas Peter está com problemas com seu antigo chefe, Pearly Soames (Russell Crowe), que, além de ser algo mais assustador do que aparenta, quer acabar com sua vida e as de quaisquer outras pessoas ao seu redor.

Estreia do roteirista picareta Akiva Goldsman como diretor, Um Conto do Destino se revela um teste de paciência para o espectador. Sendo um romance com uma boa dose de fantasia, o filme já falha no modo como apresenta seu universo, já que é um tanto ridículo quando surgem os elementos mais fantásticos, como o cavalo mágico que salva Peter dos capangas de Pearly ou a verdadeira natureza de um personagem. No entanto, esse é apenas um dos problemas da narrativa, e nem é o mais grave. O roteiro (também assinado por Goldsman) adota uma estrutura que não é funcional para a história, iniciando a o filme intercalando cenas que se passam em 1895 (com os pais de Peter), 1916 e 2014 (onde vemos o protagonista investigando seu passado), sendo que essa parte do futuro não só faz a trama ficar um pouco previsível como ainda é mostrada novamente mais tarde, o que faz sua presença no início ser totalmente desnecessária.

Como se não bastasse, o diretor não consegue criar um pingo de tensão durante o filme, o que era necessário para que algumas cenas funcionassem, e ainda faz de tudo para nos levar às lágrimas, dando um tom excessivamente sentimental a narrativa e usando até uma trilha melosa (que surpreendentemente foi composta em parte por Hans Zimmer). Mas isso mais irrita do que ajuda a tornar o filme envolvente. Além disso, alguns dos diálogos que Goldsman inclui no roteiro chegam a doer nos ouvidos de tão ruins, como quando Peter e o pai de Beverly, Isaac (William Hurt), discutem a pronúncia de certas palavras, ou a primeira conversa entre o protagonista e sua amada.

Nem o elenco, cheio de grandes nomes, se salva. Colin Farrell e Jessica Brown Findlay se esforçam, mas não conseguem fazer de Peter e Beverly figuras interessantes pelas quais possamos nos importar, o que consequentemente tira o impacto de determinados momentos. Farrell, aliás, não deixa de ser um exemplo de miscast, considerando que Peter deveria ter cerca de 20 anos e o ator não convence como alguém mais jovem. E se Jennifer Connelly não tem muito o que fazer em cena, Will Smith surge no puro overacting interpretando um tal de Juíz, ao passo que a veterana Eva Marie Saint tem em mãos uma personagem que talvez nem devesse estar viva quando aparece, em uma das coisas que Akiva Goldsman força para atender as necessidades de seu roteiro. Mas quem surpreende mesmo é Russell Crowe, que aqui investe numa composição incrivelmente caricatural no papel de Pearly Soames, tendo a pior atuação de sua carreira (a cena em que o personagem aparece bêbado no início é constrangedora).

Bobo e chato ao longo de suas duas horas de duração, Um Conto do Destino prova que se Akiva Goldsman já não era um roteirista digno de admiração, como diretor ele realmente não leva jeito.

Nenhum comentário: